Descrição de chapéu Obituário Raíssa Bertoldo da Silva (1993 - 2018)

Mortes: Baiana, se mudou para SP em busca de música e poesia

Encontrou saraus e blocos de Carnaval, onde recitava e cantava

Thaiza Pauluze
São Paulo

Raíssa, ou só Rai, era poesia. Ao mesmo tempo em que começou a falar, parecia ter aprendido a cantar. Junto a formar sílabas, escrevia os primeiros versos. Solista nos corais de escola, foi autodidata nas cordas do violão. 

Tinha raízes na cidadezinha de Caém, no interior da Bahia, onde se refugiava da vida corrida em Salvador. Há dois anos, começou a cursar comunicação. Mas, após um semestre, decidiu que precisava buscar novos rumos, dessa vez na capital paulista. 

Era daquelas geminianas obstinadas em decidir algo diferente todo dia. Mas tudo bem ser uma metamorfose ambulante. Afinal, “só se vive uma vez” e “somos instantes”, Rai gostava de lembrar. 

Entre os arranha-céus monocromáticos, dizia ter finalmente achado seu lugar no mundo. Logo ela, que se intitulava rainha das águas, foi ser feliz longe do Buracão, Rio Vermelho ou Solar do Unhão baianos. 

Achou, porém, saraus e blocos de Carnaval. Chances de fazer o que mais amava: cantar e recitar. Mulher negra e feminista, versava a sororidade —conceito de aliança entre mulheres, baseada em doses de empatia.

Morar na megalópole exigia ser duas. A que trabalhava numa loja de roupa e a que escrevia para seus dois projetos: “Poemanias” e “Pra você ler”.

Batia ponto também nos ensaios da Pilantragi, festa que desfila pelas ruas da cidade em fevereiro e agita as noites o ano inteiro.

Seu último dia no emprego formal foi 12 de junho. Estava decidida a finalmente apostar na arte. Mas, no dia seguinte, Rai teve um mal súbito, aos 25 anos. Deixou a mãe Rose, a avó materna e tantos amigos.

Sua missa de 7º dia aconteceu simultaneamente em Caém, Salvador e São Paulo —neste, o sarau da Cooperifa lotou para ouvir as palavras de Rai: “Que seja tempo. Tempo pra amar. Aos outros. A si. A todos. Que haja tempo. E tempo é o agora”, escreveu, numa “Carta ao Universo”.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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