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Refugiado no Brasil, estudante de medicina ajuda pobres do Congo

No país desde 2013, congolês cria ONG com ação de combate à malária

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São Paulo

Ser médico e desenvolver um projeto para ajudar a sociedade era um sonho que Louison Mbombo, 23, tinha desde a infância, na República Democrática do Congo.

A inspiração veio do pai, cirurgião que mantinha uma ONG de primeiros socorros à população e que por várias vezes realizou operações sem cobrar de seus pacientes.

O congolês Louison Mbombo na faculdade de medicina da UFMG
O congolês Louison Mbombo na faculdade de medicina da UFMG - Alexandre Rezende/Folhapress

A realidade do jovem, refugiado no Brasil há cinco anos, foi além daquilo que ele pudera imaginar. Além de ter conseguido entrar numa faculdade pública de medicina, Louison foi premiado pela Unesco em outubro do ano passado por um projeto que desenvolveu para enfrentar a malária.

Em abril de 2013, a instabilidade política da terra natal o obrigou a buscar refúgio. O país, que tem um dos piores IDHs do mundo, enfrenta conflitos armados e uma grave crise humanitária. 

Para este ano, a ONU estima que 2,4 milhões de congoleses sejam obrigados a deixar suas casas. Nesta quarta-feira (20), é comemorado o Dia Mundial do Refugiado.

Chegando a São Paulo, o rapaz foi acolhido por uma instituição, conseguiu bolsa em um colégio particular para continuar com os estudos e depois fez cursinho. Acabou aprovado em medicina na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), onde cursa o sexto semestre, e mudou-se para Belo Horizonte.

Sem familiares no Brasil e preocupado com a realidade de seu país, Louison fundou em 2017 uma ONG no Congo, em uma região a 500 km da capital Kinshasa. A organização, que reúne médicos, enfermeiros e advogados congoleses, foi batizada de Solidariedade na Mokili (mokili significa mundo em lingada, um dos idiomas do país).

Nos primeiros meses, o foco era enfrentar a desnutrição infantil, além de oferecer cursos de empreendedorismo para mulheres. Uma aula sobre a transmissão da malária, porém, inspirou o estudante a pensar em um novo projeto.

Distribuir mosquiteiros e remédios anti-malária gratuitamente e conscientizar as pessoas para não deixar água parada em recipientes —e assim impedir a proliferação de mosquitos transmissores da doença— ​estavam entre as ações previstas por Louison.

Depois, visando premiação da Unesco, o projeto foi ampliado. Além das medidas de prevenção, Louison propôs criar um centro internacional de prevenção e controle da malária em 27 países com alta taxa de mortalidade infantil pela doença.

Submetida a votação popular, a ideia recebeu mais de 53 mil votos, vencendo a competição. "Nunca tinha pensado chegar até a Unesco. Ganhar um prêmio assim é a maior conquista da minha vida."

Louison lembra do elogio que recebeu do diretor da faculdade. "Ele me disse que eu ganhei algo que não é só incomum na faculdade, mas no Brasil inteiro", diz o congolês.

A premiação foi realizada em Berlim, em um congresso de empreendedorismo. Meses depois, em janeiro, Louison recebeu o prêmio Builders of Africa's Future, da AWP Network, desta vez nos EUA.

Agora, o jovem busca recursos e parcerias para executar o projeto de enfrentamento à malária e levar as ações para outros lugares. "Nós só começamos no Congo", afirma. 

Se antes pensava em ser cirurgião como pai, o estudante agora conta o caminho que deseja seguir: "Quero ser médico empreendedor, administrar e abrir hospitais".

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