Antes vinham dez, hoje vêm três. É assim, a conta-gotas, o reassentamento de refugiados nos EUA, que deve receber o menor número de pessoas em 40 anos. Do início do ano fiscal, em outubro, a maio, o programa de referência mundial na área recebeu 14 mil pessoas —70% menos que no mesmo período anterior.
Mantido esse ritmo, o país encerrará o ano com 21 mil novos refugiados, o menor número desde 1979.
“É um recorde que custará vidas”, afirma o etíope Tsehaye Teferra, presidente de uma organização que trabalha com o reassentamento nos EUA.
Refugiados da guerra na Síria, por exemplo, são recebidos em números restritos: 33 em outubro e dois no mês passado. Mianmar, onde a minoria muçulmana rohingya é alvo de limpeza étnica, segundo a ONU, tem cerca de 300 pedidos aprovados por mês, um terço do que tinha antes de Trump assumir e de a crise no país de origem se agravar.
O número de pedidos por abrigo, nesse período, aumentou 10%. Mas boa parte deles permanece na fila: 138 mil refugiados aguardam resposta.
É esse tempo de espera que o governo Trump usa para dosar as entradas. As médias de recusas e de aceitações continuam as mesmas, mas a máquina administrativa desacelerou, aumentando exigências para entrar nos EUA e diminuindo o número de funcionários que avaliam os casos.
“Isso equivale a fechar a porta para refugiados”, diz Mark Hetfield, presidente da Hebrew Immigrant Aid Society, que atua no reassentamento.
Em outubro, o governo reforçou exigências para os candidatos, aumentando a coleta de dados pessoais, checagens de redes sociais e antecedentes criminais.
“É um excesso de lentidão e de burocracia”, diz à Folha Eskinder Negash, presidente do Comitê para Refugiados e Reassentamento dos EUA.
A organização costumava receber 12 mil pessoas por ano. Hoje, são 3.000. Donativos se acumulam, e voluntários se inscrevem em números recordes sem serviço a fazer.
Em nota, o Departamento de Estado diz que “o reassentamento resolve apenas uma pequena parcela dos refugiados do mundo” e ressalta que Washington investe em outras formas de ajuda, como repasses para construir abrigos, fornecer refeições e prestar assistência à saúde pelo mundo.
“Continuaremos a ajudar os mais vulneráveis de forma coerente com a generosidade do povo americano”, diz o texto.
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