O edifício que desde 1910 hospeda a Biblioteca Nacional, no centro do Rio, estreou fachadas restauradas em julho. Mas por que as fachadas, e não a fiação, que poderia fazer arder as prateleiras cheias de tesouros?
A resposta: porque a empresa selecionada para a recuperação do sistema elétrico do prédio quebrou após concluir 40% do trabalho. Agora, é preciso fazer uma nova licitação, de R$ 6 milhões.
“Tudo é prioritário”, afirma Helena Severo, presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Desde 2016 no cargo, Severo tem entre as próximas metas a ampliação do sistema de prevenção e combate a incêndios, que permitirá obter o auto de vistoria dos bombeiros.
A reforma, que custará R$ 400 mil, sairá dos R$ 33,6 milhões que Severo tem para empregar neste ano.
Desse orçamento, R$ 1,7 milhão é usado para prêmios, bolsas, publicações e a preservação do acervo, que tem cerca de 9,2 milhões de itens.
A expansão desse acervo é constante, pois entra para a biblioteca, pelo depósito legal, no mínimo um exemplar de tudo o que é editado no país.
Um anexo, num antigo armazém na região portuária do Rio, deve vir a hospedar a hemeroteca física da instituição, liberando espaço.
Hoje, guarda parte dos livros em depósito legal e originais, selados a vácuo, de periódicos já digitalizados. O prédio é uma preocupação real, pelo estado precário. Em 2012, sofreu um princípio de incêndio.
Um projeto de reforma já está sendo negociado com o BNDES pela Fundação Miguel de Cervantes, braço da FBN para captação de recursos além do orçamento aportado pelo Ministério da Cultura.
“O BNDES entendeu que é prioridade zero o combate a incêndio”, diz Severo, que vinha de uma reunião com o banco quando recebeu a Folha em sua sala na biblioteca, com as grandes janelas abertas para a rua México.
A refrigeração dos espaços do prédio, fonte de queixas que levou a uma paralisação dos servidores em 2015, e uma climatização mais adequada para os livros também estão na lista —mas o projeto aguarda aval do Iphan (instituto do patrimônio histórico).
No rol das prioridades que são todas, entra uma questão muito cara a Severo —a equiparação dos salários dos servidores com os da área de Ciência e Tecnologia.
“Nosso trabalho envolve pesquisa, alta tecnologia”, diz ela, citando o precedente de outra instituição semelhante, a Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), que obteve a isonomia pleiteada pela FBN.
“Se um servidor com mestrado, doutorado ganha R$ 6.000, não se sente atraído a ficar”, diz Severo. E a diminuição dos quadros, puxada pelas aposentadorias, é uma ameaça na BN.
É o caso também na FCRB, que tem 50% do seu quadro com mais de 50 anos de idade.
Ana Lígia Medeiros, diretora do Centro de Memória e Informação da fundação em Botafogo, na zona sul, fala com paixão de seu trabalho.
Sobretudo se desmancha quanto ao Arquivo-Museu de Literatura Brasileira, com itens de escritores como Drummond e Clarice Lispector, que se soma aos cerca de 130 mil volumes reunidos nas bibliotecas da fundação.
Como é da natureza de uma instituição que recebe acervos em doação e produz pesquisa, também na Casa de Rui Barbosa um anexo é necessário.
Projetado “como um bunker para controle absoluto e total do acervo”, o prédio de cinco andares custará R$ 30 milhões, que a fundação espera captar com o BNDES.
As preciosidades maiores do acervo, porém, estão bem protegidas. Medeiros mostra o sistema que zela por itens como a Constituição de 1891, a primeira do Brasil republicano, assinada por Rui Barbosa.
As portas só se abrem com crachá especial e detectores espalham, ao sinal de fumaça, um gás que restringe o oxigênio e o calor, impedindo a propagação de incêndios.
A água, afinal, poderia ser tão terrível para o papel quanto o fogo. É ela, aliás, uma fonte de temor para a FCRB.
Duas adutoras com 90 anos de idade e 500 mm de diâmetro da companhia de água e esgoto passam sob o jardim da fundação. Retirá-las, já se orçou, custa R$ 2,7 milhões. O MinC, diz Medeiros, “tem sido sensível e prometeu recursos”.
O orçamento da pasta para a fundação neste ano é de R$ 5,9 milhões. Em 2012, era de R$ 9,3 milhões.
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