Descrição de chapéu Obituário Gershon Knispel (1932 - 2018)

Mortes: Sobrevivente do Holocausto, fez história com arte socialista

Perseguido pela ditadura militar, viveu entre Brasil, Palestina e Israel

Ricardo Hiar
São Paulo

Na adolescência, morando em um kibutz israelense, Gershon Knispel resolveu fazer aulas de desenho. Aos 14 anos, foi apresentado ao quadro “Guernica”, uma das mais famosas obras de Pablo Picasso, onde encontrou a inspiração que faltava para tornar-se um artista autêntico, referência na representação do realismo socialista. 

Suas telas, com cores intensas, retratam horrores de guerra, cenas de escravidão e levantes populares, situações que chegaram a fazer parte do cotidiano do artista. 

Nascido na Alemanha um ano antes da ascensão de Adolf Hitler, na década de 1930, foi um sobrevivente do Holocausto. Seu pai, perseguido pelo nazismo, conseguiu migrar para Israel. Segundo os amigos próximos, Knispel era inquieto e sonhava com a igualdade entre os povos. 

Ele costumava repetir a frase “Nunca ando na rota que os outros querem”. E não andava mesmo. Tanto que aos 12 anos deixou a cidade onde os pais viviam, Haifa, para morar em kibutz. Lá se uniu a um grupo que desejava formar um lugar dominado pelos judeus, longe das perseguições.

Ajudar ao próximo estava em sua essência. Depois de formado na universidade, resolveu voltar a Haifa, para dar aulas a refugiados europeus. 

A relação próxima e duradoura com o Brasil começou em 1951, quando ganhou um concurso para criar a fachada da TV Tupi. Em terras brasileiras fez grandes amigos, entre eles, Oscar Niemeyer.

Mas também participou de movimentos que lutaram pelas reformas básicas, sendo um dos fundadores do CPC (Centro Popular de Cultura). Perseguido novamente durante a ditadura militar, fugiu. Depois de queimar todos os cartazes que estavam no seu ateliê em São Paulo, foi ao consulado de Israel, no Rio de Janeiro, para ir embora. Só retornou ao país em 1995, convidado para trazer sua exposição sobre o Holocausto.

Com mais tranquilidade, desde então passou temporadas no Brasil, Palestina e Israel. Foi neste último país que, aos 86 anos, morreu no dia 7 de setembro.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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