Governo de SP pede e recebe ajuda do Exército para combater PCC

Líderes da facção seriam resgatados de presídio; apoio foi confirmado pelo Comando Militar

Rogério Pagnan
São Paulo

​​​A possibilidade de resgate de chefes da facção PCC (Primeiro Comando da Capital) de um presídio paulista por mercenários levou o governo de São Paulo a solicitar apoio ao Exército para enfrentar o grupo criminoso.

A informação foi confirmada pelo Comando Militar do Sudeste à Folha nesta quinta-feira (1º). O pedido de apoio logístico da Secretaria de Segurança Pública foi "prontamente atendido”, de acordo com o órgão militar.

O Exército está fornecendo fuzis .50 e treinamento de policiais para usar o armamento pesado. Esse calibre de arma é capaz de derrubar até aeronaves e é restrito às Forças Armadas para utilização em guerras. A PM paulista não tem esse tipo de armamento nem autorização para comprá-lo.

Tais armas são importantes porque, segundo o plano descoberto pelo governo, o PCC contratou um grupo de mercenários internacionais que teriam ao menos dois helicópteros de guerra para atacar o presídio onde estão os chefões do grupo.

O Exército também confirmou o recebimento de um ofício do deputado federal e senador eleito Major Olímpio (PSL) comunicando detalhes do suposto plano de resgate de Marco Camacho, o Marcola, conforme mostrou reportagem da Folha nesta quinta (31).

“As informações trazem que diversas forças paramilitares iranianas, nigerianas e membros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) teriam sido contratadas para tal empreitada criminosa, o que foge das ações perpetradas por criminosos comuns”, diz o ofício enviado parlamentar.

Procurada nesta quinta-feira, a Secretaria da Segurança Pública confirmou a solicitação de apoio às tropas da PM empregadas em Presidente Venceslau. "As medidas têm como objetivo garantir a segurança dos presos que estão em unidades prisionais, agentes públicos, assim como da população da região."

"Salienta ainda que conta com o apoio e suporte logístico do Exército Brasileiro, sem envolvimento de efetivo. Por questões de estratégia e segurança mais detalhes não serão passados", disse em nota.

No início do mês, ao ser procurado pela Folha, o governo paulista disse que as operações eram de rotina para treinamento de pessoal naquela região do estado.

O pedido de ajuda do governo paulista para combate ao PCC é incomum, ao contrário do que acontece no Rio de Janeiro. Nem mesmo em 2006, por exemplo, quando as forças de segurança paulistas foram atacadas pela facção, o governo paulista aceitou ajuda federal. Disse considerá-la desnecessária porque as polícias do estado seriam capazes de enfrentar o problema.

Agora, segundo o governador Márcio França (PSB), a ajuda é bem-vinda. "Sou a favor de toda e qualquer ajuda federal", disse à Folha. "O Exército Brasileiro tem como função subsidiária auxiliar os estados na segurança pública. Acho bom isso. Sempre nos apoiam. Temos ótimo relacionamento."

Embora descoberto, o plano ainda não teria sido abortado pelos criminosos. 

"Estamos diante de um cenário novo, com a possibilidade de mercenários estrangeiros serem contratados, usando armas de guerra para afrontarem a soberania nacional, desconsiderando a lei e a ordem. Coisa de filme", disse o deputado Olímpio.

A possibilidade desse arrebatamento de presos levou a Justiça de Presidente Venceslau a interditar, desde o início do mês passado, o aeroporto da cidade. Na ocasião, o juiz demonstrou a dimensão do temor. "Há enorme preocupação com o aeroporto municipal, pois [fica] muito próximo ao estabelecimento prisional, permitindo logística para atuação de referida organização criminosa", diz despacho do juiz. “A medida se mostra absolutamente necessária, pois evitará problemática maior.”

A interdição, que deveria ter terminado no final do mês, foi prorrogada por mais 10 dias.

Outro exemplo da preocupação do governo paulista com tal plano é a manutenção em Venceslau de um contingente de policiais militares que inclui grupos de elite como Rota e COE (operações especiais), além de veículo blindados capazes de resistir a tiros de fuzil. 

O efetivo foi enviado ao oeste do estado quando setores de inteligência da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) detectaram o plano. A informação foi repassada pelo secretário Lourival Gomes (Penitenciária) ao colega Mágino Alves Barbosa Filho (Segurança Pública), que determinou o envio das tropas —ainda sem prazo para deixar à região.

A secretaria também descobriu que os presos planejam uma rebelião no presídio, para, ao mesmo tempo, criminosos do lado de fora tentarem romper os muros da penitenciária.

Segundo informações encaminhadas pelo Major Olímpio ao Exército e à Aeronáutica, os criminosos também pretendem usar metralhadoras .50 para impedir os policiais de sair dos quartéis e os helicópteros da PM de levantarem voo, como já teria ocorrido em Araraquara e Bauru, em outras ações criminosas.

Também usariam explosivos para destruir as torres de vigilância dos presídios. Outra tática comum é queimar veículos para impedir acesso nesses locais.

Em junho deste ano, os setores de inteligência da PM e da SAP já tinham detectado um outro plano de resgate de integrantes do PCC nesta mesma unidade prisional —este, atribuído ao preso Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden, um dos chefes da facção, também preso em Venceslau.

Naquele plano, a ideia dos criminosos era usar um caminhão guincho, grande e pesado, preparado com chapas de aço. A proteção serviria para resistir a tiros da polícia e, ao mesmo tempo, ajudar a derrubar os muros da prisão. O veículo também teria janelas para tiros contra as forças de segurança.

Também em 2014, o governo paulista detectou outro suposto plano de resgate de Marcola e mais três comparsas. Os criminosos planejavam utilizar dois helicópteros blindados, camuflados com as cores das aeronaves da Polícia Militar, para pousar no presídio com uma cesta de resgate.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.