Descrição de chapéu Agora Natal

Bairro às margens do rio Tietê se prepara para passar Natal debaixo d'água em SP

Moradores já estão subindo móveis nas casas, à espera dos alagamentos na Vila Itaim

Tatiana Cavalcanti
São Paulo | Agora

Moradores da Vila Itaim (zona leste de São Paulo) se preparam para passar o Natal debaixo da água. O bairro, às margens do rio Tietê, é conhecido pelos alagamentos crônicos, em especial no fim do ano, e por ter ficado inundado por mais de 40 dias em uma enchente que assolou a região conhecida como Jardim Pantanal, em dezembro de 2009.

No dia 30 de novembro, a água entrou nas casas de quem vive perto de uma lagoa onde está sendo construído um dique (leia abaixo). O pedreiro Gilson Santos Moreira, 48 anos, diz que já começou a “subir as poucas coisas” que tem, por conta da água. “É só dar uma chuvinha de nada, que já alaga”, conta ele, que mora bem em frente a uma lagoa.

“Vou passar o Natal deste ano como os últimos, sozinho e debaixo da água.” Ele afirma que, nessa época do ano, manda os dois filhos, de 17 e 18 anos, e os três cachorros, para a casa da mãe, em Itaquera, também na zona leste, por segurança. “Me sinto desassistido”, diz.

A auxiliar de laboratório Maria das Dores Ferreira Alves, 68 anos, que instalou uma comporta na cozinha de sua casa, também já se prepara para o Natal. “Vou assar o peru debaixo d’água”, diz. No fim de semana, o imóvel ficou alagado. “Tinha trocado a pia e a água já batizou o móvel novo. Imagina como será no fim do ano.”

Essa é a preocupação da costureira Marli Almeida da Silva, 57 anos. “Com as obras, fecharam a galeria que escoava água para o Tietê. Tem lixo na lagoa. Isso tudo vai explodir com a chuva e entrar nas nossas casas”. Marli afirma que alugou uma garagem em uma rua mais alta, por R$ 100, para guardar seu único carro.

A filha dela, Laura Victória Silva de Brito, 17 anos, conta que na sexta-feira passada entrou na água de pijama. “Para salvar o para-choque lateral do carro, levado pela correnteza”, conta a jovem.

Gritos dos bebês

A estudante Gabriely Paes dos Santos, 14 anos, tinha apenas 6 anos quando o grande alagamento, há exatos nove anos, invadiu sua casa, no Jardim Romano (zona leste), a poucos quilômetros da Vila Itaim. “Lembro dos gritos dos bebês e do meu ursinho indo embora na água. Parecia que estava se afogando, enquanto se despedia”, conta a garota.

A mãe dela, a comerciante Vilma dos Santos, 42 anos, lembra daquela noite, quando seu marido carregou Gabriely nos ombros para escapar da água. “Pensei que fossemos morrer”, afirma.

O bairro ficou debaixo da água por mais de 40 dias. O CEU (Centro Educacional Unificado) Três Pontes, onde Gabriely estudou, foi invadido por água. O acesso só era possível por meio de barcos.

“Tive que aterrar minha casa”, conta o gari aposentado José Mário da Silva, 70 anos. “Na época, tive que fazer um andaime para meus imóveis, meu cão e eu. Só não me afoguei porque o [o cão] Maguila não deixou.”O bairro deixou de ter alagamentos constantes depois da inauguração de um dique de proteção e um piscinão em 2011.

Obra de dique patina

Nove anos após as enchentes que alagaram a região do Jardim Pantanal, as obras na Vila Itaim ainda patinam. Elas começaram em dezembro do ano passado.

A construção de um pôlder (dique de proteção) é anunciada como solução às enchentes desde 2010. A previsão de entrega do pôlder na região, diz o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), órgão do governo do estado responsável pelas obras, é novembro de 2019, na véspera de o alagamento de 40 dias fazer dez anos.

Em 2015, chegou-se a anunciar que as obras teriam início no segundo semestre daquele ano. Antes disso, em 2013, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB), assinou convênio para obras antienchente na Vila Itaim. O Daee, segundo texto de 2016 em seu site, também seria responsável pela desapropriação dos imóveis. Mas esse processo demorou e as obras atrasaram.

Para 2019

A alteração do início das obras de construção do pôlder, segundo o Daee, sob gestão Márcio França (PSB), “foi decorrente do prazo necessário para desapropriação dos imóveis e a implementação de solução habitacional pela prefeitura para o reassentamento das famílias que ocupavam irregularmente os imóveis”. A obra custará R$ 58,4 milhões e será entregue em novembro de 2019, diz o Daee.

O órgão diz que foi prevista a remoção de 145 famílias, das quais 124 já foram retiradas do local. Segundo o Daee, a Justiça determinou a saída das 21 restantes, o que está previsto para o início do mês de janeiro de 2019.

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), diz que 4.500 famílias foram atendidas, com indenizações ou com atendimento habitacional. A Subprefeitura São Miguel diz fazer zeladoria na Vila Itaim, e que caminhões bombeiam a água em dias de chuva.

De acordo com Marcos Penido, secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente da futura gestão João Doria (PSDB), o combate a enchentes será prioritário. “Nossa intenção é dar continuidade às obras”, diz Penido.

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