Descrição de chapéu Tragédia em Brumadinho

Após sirene, moradores deixam casas de zonas de risco em Brumadinho

Alerta feito de madrugada foi retirado horas depois; pessoas já podem retornar a seus lares

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Brumadinho (MG)

Bombeiros civis, policiais e voluntários fizeram contato e retiraram aos poucos neste domingo (27) famílias da parte baixa do bairro Parque da Cachoeira, em Brumadinho (MG), um dos mais afetados pela lama e que será parcialmente inundado caso a quarta barragem da Vale se rompa.

Oficialmente, a lista de mortos chegou a 37 pessoas, segundo o Corpo de Bombeiros de MG. Ao menos 256 continuavam desaparecidos, ainda de acordo com a corporação.

Mais cedo, autoridades iniciaram a evacuação de outras comunidades do local, como o Córrego do Feijão, após a constatação de que outra barragem da mineradora Vale, de nome B6, apresenta risco "iminente" de rompimento.

A maior parte dos moradores, contudo, saiu ainda de madrugada, quando o alarme soou às 5h30. A Vale acionou a sirene para alertar os moradores sobre o risco. A estrutura vinha sendo monitorada e a água estava sendo drenada para fora. 

À tarde, a Defesa Civil informou que o nível de risco de rompimento da barragem diminuiu. Sendo assim, foi retirado o alerta feito às 5h30 e descartado omais risco iminente de rompimento.

Por isso, as pessoas retiradas de suas casas nesta manhã podem retornar a seus lares. Os locais eram considerados de risco caso houvesse inundação com o rompimento da barragem de água. As restrições de circulação em Brumadinho também foram retiradas.

Sem o risco de que haja uma nova inundação na área já coberta de lama, os bombeiros retomaram os trabalhos de resgate. ​

Em uma das ruas de Parque da Cachoeira, onde a lama engoliu casas, havia poucos moradores nesta manhã de domingo. Muitos foram para casas de parentes ou para o centro de apoio da Vale em Brumadinho.

Já Córrego do Feijão fica a menos de 10 km da planta da Vale onde ocorreu o rompimento da barragem na última sexta (25). Moradores estimaram à Folha que mais de 30 pessoas da localidade, entre prestadores de serviço da Vale e funcionários de uma pousada, a Nova Estância, que foi devastada, morreram ou estão desaparecidas desde sexta.

Os bombeiros indicam outros três locais de concentração para essas famílias evacuadas: a igreja matriz, a delegacia e o Morro do Querosene. Além de Parque da Cachoeira e Córrego do Feijão, também são áreas de risco em Brumadinho as regiões de Pires, Novo Progresso e o centro da cidade.

A ponte sobre o rio Paraopeba foi interditada, devido ao risco de que a água suba rapidamente. A medida gerou reclamação de moradores que precisavam se deslocar pela cidade.

Em Parque da Cachoeira, um morador ainda resistia a deixar seu imóvel. “É difícil a pessoa sair sem ver o risco. Não podemos obrigar ninguém a sair”, comentou um membro da defesa civil.

Oswaldo Patrício, o morador, disse que vai sair, “mas depois do jogo do Cruzeiro”. “Eu não vejo aqui como área de risco, mas se vocês veem...”, reclamou.

Voluntários buscavam famílias de carro, e veterinários também faziam o resgate de cachorros na região.

Maria de Lourdes Assis Ferreira, 57, uma das moradoras de Parque da Cachoeira que teve a lama invadindo seu quintal, voltou à sua casa neste domingo para retirar pertences, mas já não pôde entrar.

“É toda uma história que foi embora, um capítulo que acabou com final triste”, afirmou chorosa. Embora a casa não tenha sido invadida, a estrutura do imóvel rachou. Ela disse ter retirado apenas documentos.

A vizinha de Ferreira também foi ao local buscar calças para o pai, mas se deparou com a restrição da defesa civil. A família deixou a casa ainda na sexta (25), quando a lama destruiu a garagem.

“Vamos esperar. Vocês vão ter tudo de volta. É que para perder a vida numa tragédia dessas são dois segundos”, orientava o membro da defesa civil de Sarzedo (MG), André Luiz, 47.

As famílias evacuadas da parte mais baixa do Córrego do Feijão estão sendo orientadas pelos bombeiros a se dirigir ao centro comunitário, onde há lanche, água e suco, em parte providenciados por doações de moradores e empresas de outras regiões. Ainda não está claro onde os desalojados passarão a noite.

A reportagem presenciou, em apenas uma hora, mais de 20 pessoas pedindo algum tipo de apoio, entre famílias evacuadas neste domingo e outros moradores que desde sexta enfrentam dificuldades com abastecimento de comida e água. As pessoas estão sendo orientadas a não usar a água da torneira para beber ou cozinhar alimentos.

O vigia Márcio Ramos Serafim, 36, foi orientado a sair de casa logo no início da manhã de domingo, pouco depois de ter sido acordado pela sirene. "Os bombeiros ficaram na porta da minha casa até eu sair", disse Serafim, que seguiu a recomendação de ir para o Centro Comunitário de Córrego do Feijão, mas ainda não havia sido informado pela Vale, até as 10h deste domingo (27), para onde seria levado ou onde passaria a noite. "Não dizem nada, não tem informação nenhuma, disse o vigia. Serafim pretende continuar perto de sua casa porque tem medo de saques.

Joana D'Arc Pinto, 58, disse que ouviu a sirene tocar e logo depois os bombeiros apareceram para reforçar que ela deveria deixar a região ao lado de outros quatro parentes, incluindo uma criança de sete anos. A criança foi levada pela mãe para outra cidade. "O Corpo de Bombeiros disse: 'vocês têm que sair agora'". Joana se dirigiu ao Centro Comunitário do Córrego do Feijão e ainda não sabe onde vai dormir.

Outros moradores da região estão saindo por conta própria. A mulher e uma filha do mecânico Diogo Braga deixaram a cidade esta manhã em direção a Itabirito (MG). Ele disse que não há segurança para a criança na região, a localidade começa a enfrentar problemas de abastecimento e quedas de energia elétrica.

A aposentada Neusa Ferreira teve que deixar às pressas suas casas em Córrego do Feijão. A Vale não providenciou hotel ou pousada e Neusa pretende ficar com outras 15 pessoas na casa de um amigo no distrito.

Em nota à imprensa, a Vale informou mais cedo que "como medida preventiva, a comunidade da região está sendo deslocada para os pontos de encontro determinados previamente pelo plano de emergência. A Vale continuará monitorando a situação juntamente com a Defesa Civil". A empresa diz que dará "novas informações a qualquer momento".

Buscas

Os bombeiros informaram que 350 pessoas deveriam ser evacuadas.

Entre 20h de sábado (26) e 4h deste domingo, os resgates foram interrompidos para que a drenagem da barragem B6 fosse intensificada. O volume de água a ser drenado nesse período, e que portanto desceria pelo rio Paraopeba, seria mais que o triplo do que vinha sendo drenado até então. 

rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho liberou 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos, que entraram no rio Paraopeba. A estimativa é a de que esse volume represente um quarto do que foi liberado no acidente com a barragem de Fundão, em Mariana, que pertencia à Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP Billiton. Outras duas barragens transbordaram.

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