Descrição de chapéu Tragédia em Brumadinho

Após dia de buscas e desencontros, mortos em Brumadinho chegam a 37

Vale, responsável pela barragem, chegou a falar em 412 desaparecidos, mas número caiu para 256

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Brumadinho (MG)

O dia seguinte ao rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG), foi de buscas por sobreviventes e de desencontro de informações. Oficialmente, a lista de mortos chegou a 37 pessoas, segundo os Bombeiros, com oito identificados até a noite deste sábado (26). Ao menos 256 continuavam desaparecidos, ainda de acordo com a corporação. 

Dona da instalação, a Vale teve R$ 6 bilhões bloqueados pela Justiça em duas ações, uma movida pela Advocacia-Geral de Minas e outra pelo Ministério Público estadual. O Ibama também aplicou uma multa à empresa, no valor de R$ 250 milhões, e o governo do estado, outra sanção de R$ 99 milhões.

Foram resgatadas 192 pessoas, das quais 23 estão hospitalizadas. Após o governador Romeu Zema (Novo) afirmar, na noite de sexta (25), que provavelmente só seriam resgatados corpos, os bombeiros disseram na tarde de sábado que havia quatro locais com possíveis vítimas vivas. 

Um desses pontos era um ônibus, mas, à noite, constatou-se que todos os ocupantes do veículo estavam mortos.

Pela manhã, a Vale chegou a falar em 412 desaparecidos. Ao longo do dia, porém, o número caiu, após a lista de nomes ser cotejada com as informações da Defesa Civil e depois da confirmação de mortes e sobreviventes.

Segundo os Bombeiros, no momento do acidente de 100 a 150 pessoas estavam na área administrativa da Vale, que ficava nas proximidades da barragem que rompeu; cerca de 30 estavam na região da vila Ferteco; aproximadamente 35 na pousada Nova Estância, onde há funcionários desaparecidos, e de 100 a 140 na região do bairro Parque das Cachoeiras. Ao todo, 144 militares participam das operações.

As buscas foram interrompidas à noite e devem recomeçar às 4h deste domingo, com ajuda de helicópteros de outros estados. 

 

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobrevoou a região pela manhã e não falou com a imprensa, mas disse em rede social que era “difícil não se emocionar” diante do cenário.

Para ajudar nas buscas, o governo de Israel irá enviar uma missão de 120 pessoas. O avião tem previsão de chegada em Minas Gerais entre 20h e 22h deste domingo (27).

A equipe é formada por médicos, engenheiros e especialistas em operar equipamentos para localizar vítimas de soterramento. Serão enviados sonares e equipamentos para bombear a lama, além de cães farejadores.

A chegada da missão israelense foi acordada em conversa entre Bolsonaro e o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.

Em outra medida para viabilizar o resgate, a Justiça Federal em Minas atendeu pedido da AGU (Advocacia-Geral da União) e determinou que as operadoras de celular entreguem dados de clientes que se conectaram às antenas próximas do local da tragédia, a fim de ajudar nas buscas.

Ainda sob a justificativa de financiar as ações emergenciais necessárias, a Justiça acatou dois pedidos de bloqueio de recursos da Vale.

A primeira decisão atendeu a pedido da Advocacia-Geral de Minas Gerais. O valor de R$ 1 bilhão será disponibilizado em uma conta judicial. Em grave crise financeira, o governo do estado não tem conseguido realizar nem os repasses obrigatórios às prefeituras nem o pagamento em dia do funcionalismo público, o que chegou a atrasar o início das aulas em algumas cidades.

A decisão determina ainda que a Vale apresente em um prazo de até dois dias um relatório de amparo às vítimas, mapeie áreas de risco, comece a retirada da lama, adote medidas para não contaminar nascentes e elabore um plano de controle de pragas, entre outras medidas.

O juiz Renan Machado lembrou na decisão o desastre de Mariana (MG), ocorrido em novembro de 2015 com a barragem de Fundão, da mineradora Samarco, controlada pela Vale e BHP Billiton. Na ocasião, 19 pessoas morreram, e o rastro de lama chegou até o litoral do Espírito Santo.

“Oportuno ressaltar que o estado de Minas Gerais experimentou acidente semelhante há aproximadamente três anos, lamentavelmente insuficiente para prevenir o atual evento, mas com aprendizado para minorar e/ou enfrentar as consequências humanas e ambientais no presente”, afirmou o magistrado.

 

Horas depois, a juíza Perla Brito atendeu a outro pedido, do Ministério Público mineiro, e determinou o bloqueio de R$ 5 bilhões da companhia também para ações emergenciais.

A decisão impõe ainda que a empresa adote imediatamente medidas para garantir a estabilidade da barragem 6 do Complexo Mina do Feijão. 

Relatórios devem ser enviados a cada seis horas à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), à Defesa Civil estadual e dos municípios, e ainda ao Corpo de Bombeiros.

A Promotoria destaca ainda o risco de rompimento dessa barragem. As Forças Integradas de Segurança que trabalham em Brumadinho, no entanto, disseram que a informação sobre esse risco era um alarme falso. Os funcionários da Vale realizam um bombeamento para drenagem da barragem mencionada.

A empresa disse não ter sido notificada da primeira decisão judicial e não comentou a segunda.

Em entrevista à noite, o advogado-geral da União, André Mendonça, afirmou que a mineradora Vale é a responsável pelo rompimento da barragem em Brumadinho (MG).

“Há uma responsabilidade pelo que aconteceu. A responsável por isso, pelo risco do próprio negócio, é da empresa Vale do Rio de Doce”, disse.

Questionado sobre a possibilidade de o governo firmar um acordo com a empresa, como foi feito no caso de Mariana, há três anos, ele disse que se isso ocorrer, não será da mesma forma. “Precisamos ver, porque é uma reincidência. Ainda que haja um espaço para alguma negociação, não podem ser adotadas medidas nos mesmos parâmetros que foram adotados anteriormente.” A empresa não quis comentar as declarações. 

Em visita à região atingida, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que “certamente há um culpado” e serão propostas ações, mas que “as informações são prematuras para identificar quem são os responsáveis”.

A tragédia será também investigada em um inquérito da Polícia Federal instaurado neste sábado. 

Segundo o delegado Luiz Augusto Pessoa Nogueira, responsável pelo caso, o objetivo é não perder tempo e promover as perícias e outras diligências que poderiam ser impossíveis de fazer posteriormente.

“Queremos apurar o mais rápido possível a fim de apontar os responsáveis, caso existam e a dimensão do dano ambiental”, afirmou ele.

Colaboraram Amanda Lemos, Bruna Narcizo, Mariana Carneiro, Paulo Gomes, Reynaldo Turollo Jr. e ​Talita Fernandes

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