O Governo do Amazonas pediu nesta terça-feira (20) o afastamento de um médico depois de um vídeo repercutir nas redes sociais do parto de uma adolescente. Familiares acusam o profissional de agredir a grávida durante o trabalho de parto na maternidade Balbina Mestrinho, em Manaus.
No vídeo, que segundo a irmã da jovem foi gravado por algum funcionário da maternidade, a gestante aparece deitada completamente nua, com as pernas abertas posicionadas para o nascimento da criança.
Sentado, o médico Armando Andrade Araújo bate com as duas mãos no espaço entre a vagina e virilhas da paciente. “Ai, não... Ele malinou (maltratou) muito de mim, ele bateu...”, responde a paciente, chorando.
Em outro momento do vídeo, uma familiar pede que ela seja levada pro centro cirúrgico para ter o bebê, e ameaça chamar a imprensa. O médico responde: “Pode chamar quem for. Eu quero é que chame para eles verem que ela não ajuda”, disse, sugerindo que a gestante não estava “colaborando” para o parto.
A acompanhante, então argumenta que a grávida está fraca, depois do “dia todo” sentindo dores, pois ela estava na unidade desde o dia anterior.
A Secretaria de Saúde do Amazonas (Susam) informou que a gravação foi feita em maio de 2018, quando a adolescente tinha 16 anos.
Segundo a pasta, a paciente deu entrada na maternidade na manhã do dia 18 de maio de 2018 e, na madrugada do dia 19, foi indicada a cesariana.
Foi nessa ocasião que o médico Armando Araújo prestou atendimento à adolescente e então aconteceu a cena. Ainda de acordo com a Susam, o parto da adolescente acabou sendo realizado por outro médico, às 5h33 do mesmo dia, e foi normal, sem intercorrências.
Em 2015, o médico ginecologista e obstetra Armando Andrade Araújo chegou a ser preso durante a Operação Jaleco, da Polícia Civil do Amazonas, por suspeita de integrar uma quadrilha que extorquia pacientes para realizar partos, laqueaduras e outros procedimentos em hospitais da rede pública em Manaus.
Solto, ele foi condenado a dois anos de reclusão por cobrar dinheiro das pacientes para realizar os procedimentos. Mas, por ser réu primário, teve a pena convertida em prestação de serviço à comunidade, segundo o Ministério Público do Estado do Amazonas.
A irmã mais velha da adolescente contou que a jovem ficou traumatizada com a “violência física e psicológica” e que não fizeram a denúncia antes porque não tinham provas.
“Uma amiga me mostrou o vídeo e, na hora, liguei pra minha irmã. Ela chorou muito porque, além de relembrar o trauma, o rosto dela aparece e ela está toda nua. É um constrangimento”.
AFASTAMENTO
Após a repercussão do vídeo, a secretaria decidiu solicitar o afastamento do médico do quadro do Instituto de Ginecologia e Obstetrícia do Amazonas (Igoam), que presta serviços nos hospitais da rede pública estadual do Amazonas.
A pasta alega que só tomou conhecimento do caso por meio da imprensa na última terça-feira (19) uma vez que não foram feitas denúncias nem na maternidade nem na ouvidoria da secretaria à época do ocorrido. Ainda segundo a Susam, um processo administrativo para apurar uma outra denúncia de negligência contra o obstetra já havia sido instaurado.
“A Susam não está de acordo com o tipo de conduta praticada pelo médico. Por este motivo, o vice-governador e secretário de estado de Saúde, Carlos Almeida, irá solicitar à direção do Instituto de Ginecologia e Obstetrícia do Amazonas (Igoam), empresa ao qual o profissional é cooperado, o seu afastamento. E também reiterar pedido de providências ao Conselho Regional de Medicina (CRM)”, informa nota divulgada pela pasta.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas (Cremam) também informou, por meio de nota, que vai instaurar uma sindicância. O Cremam alega que também só tomou conhecimento do caso após veiculação do vídeo pela mídia, na terça-feira (19).
Após a sindicância, se forem constatadas irregularidades, pode ser aberto um Processo Ético Profissional, que pode resultar na cassação do registro do médico.
A reportagem tentou localizar o médico e seu advogado, sem sucesso.
Segundo informações do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), além da condenação ocorrida em maio de 2018, o médico aparece também como parte requerida em um processo de erro médico, foi denunciado por crime de perigo à vida ou saúde de outrem e, ainda, como réu em um quarto processo pelo crime de corrupção passiva. Todos os casos estão tramitando na Justiça.
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