Descrição de chapéu Tragédia em Brumadinho

Instituto Inhotim reabre em Brumadinho com missão de reerguer cidade

Acesso ao museu de arte a céu aberto não foi afetado; funcionários e visitantes fizeram um minuto de silêncio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Fabrício Lobel Júlia Barbon Flávia Carneiro
Brumadinho (MG) e Belo Horizonte

Depois de duas semanas fechado, o Instituto Inhotim reabriu neste sábado (9), segundo sua direção, com a missão de mostrar que Brumadinho (MG) não está completamente embaixo da lama e continua viva.

“A imagem que se tem é de que a cidade inteira está submersa. Mostrar que isso não é verdade não é nenhum prodígio, mas é uma primeira tarefa que a gente pretende cumprir ao dizer às pessoas que o Inhotim está funcionando”, diz Antônio Grassi, 64, diretor-executivo do órgão e ator.

0
Instituto Inhotim reabre em Brumadinho (MG) - Rossana Magri/Divulgação

No início da manhã, funcionários e turistas fizeram um minuto de silêncio em frente à centenária árvore Tamboril, um dos ícones do parque. Funcionários usaram uma fita preta nos uniformes, simbolizando o luto.

Até as 15h, 2.700 pessoas entraram no local, que neste sábado tem entrada gratuita. O museu de arte contemporânea a céu aberto, um dos maiores do mundo, fica a cerca de 18 km da área atingida pelos rejeitos da barragem da Vale e foi evacuado às pressas no dia do rompimento.

O caminho entre o museu e o aeroporto de Confins e Belo Horizonte não foi atingido. Já as rotas pela BR-040, passando por Retiro do Chalé, Casa Branca ou Piedade do Paraopeba, estão bloqueadas. 

Grassi estima que nas duas últimas semanas o local tenha deixado de receber cerca de 20 mil visitantes. “A gente provavelmente vai demorar para mostrar que ali dentro não tem problema, não tem lama e tem como chegar”, diz. O Corpo de Bombeiros de MG confirmou que o museu não está na rota de risco de outras barragens.

"Estamos calculando uma queda de mais de 50% no número de turistas nos próximos meses. Estamos, neste primeiro momento, acolhendo nossos funcionários que perderam parentes e amigos na tragédia", disse Grassi.

Grande parte dos 600 funcionários do Inhotim (como comparação, a Vale tem cerca de 300 na mesma região) mora em Brumadinho e 41 têm familiares desaparecidos ou mortos na tragédia. Um ex-funcionário também está entre os 157 mortos e 182 não encontrados até sexta (8).

Funcionários voltaram a trabalhar na última quarta-feira (6) com atividades internas. O garçom Edilson de Almeida Santos, 24, disse que participou de uma palestra com o fundador de Inhotim, Bernardo Paz, no dia da retomada das atividades.

“O fundador disse que não precisamos ficar sorrindo para todos os visitantes, porque estamos de luto. Tive acompanhamento psicológico e participei de sessões de meditação e ioga para tentar amenizar minha dor, porque perdi muitos amigos na catástrofe da Vale”, contou o garçom, que trabalha em Inhotim há sete anos.

A auxiliar de serviços gerais Auta Pires de Jesus, 49, disse que prefere trabalhar a ficar em casa remoendo a dor. “Trabalho em Inhotim desde a inauguração. Na semana passada, enterrei os corpos de três primos e uma cunhada, que estavam trabalhando na Vale no momento da ruptura da barragem. Os culpados precisam ser punidos para evitar uma nova catástrofe como essa. Está muito difícil continuar a viver em meio a tanta dor e falta de esperança”, disse.

Para Grassi, o instituto terá que se conectar mais com o local em que está inserido. “O nosso papel também vai exigir um novo Inhotim, que deve estar mais plugado com o lugar e sua necessidade de reconstrução.”

 

Aberto em 2006, o museu pertence ao empresário Bernardo Paz, que fez fortuna explorando a mineração de ferro. Ele era dono da Itaminas, vendida em 2010 a um grupo chinês por US$ 1,2 bilhão em valores da época. Muitas das obras expostas no Inhotim —são 700— tratam da relação predatória das mineradoras.

A chegada do instituto dinamizou a economia local. Segundo o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a quantidade de leitos em hotéis passou de 300, em 2008, para 1.300, em 2016. Entre 2011 e 2014, o número de restaurantes e bares também cresceu de 56 para 99 e o de mercados, de 4 para 28, segundo a Prefeitura de Brumadinho. 

“A decisão de reabrir não foi simples. Ao mesmo tempo em que temos a plena certeza de que Inhotim tem a possibilidade de trazer um respiro para Brumadinho, temos a conexão com o luto daquele lugar”, diz Grassi.

Neste primeiro dia, a entrada será gratuita, como acontece às quartas (exceto feriados). O horário nos finais de semana vai das 9h30 às 17h30, e durante a semana, até as 16h30, com entrada de R$ 44. 

O comerciante João Moura do Carmo, 63, visitou Inhotim pela primeira vez neste sábado. “Apesar de morar em Parque da Cachoeira, que foi muito atingido pela lama, nunca tinha estado em Inhotim. Quero visitar o acervo do museu para tentar esquecer, por alguns instantes, tantas mortes na nossa região”, disse.

Ele disse que no momento em que a lama atingiu o vilarejo se refugiou no alto de uma montanha, com vizinhos. “O que nos salvou foram mensagens de alerta em um grupo de WhatsApp, formado por moradores da região.”

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.