Descrição de chapéu Alalaô

Críticas aos Bolsonaros se espalham em blocos de Carnaval pelo país

Refrões de protesto e fantasias com referência a escândalos estão presentes de SP a Olinda

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São Paulo, Belo Horizonte e Olinda

A crítica política em forma de sátira e protestos tomou conta de parte dos blocos deste sábado (2) em Belo Horizonte, São Paulo e Olinda. O governo de Jair Bolsonaro (PSL) e a relação de seus filhos com o ex-policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), deram o tom da folia politizada. 

Alguns foliões se enfeitaram com adereços na cabeça ou adesivos nas roupas com a frase Lula Livre. Outros usaram a fantasia para protestar. Diversas placas com a frase “O PT destruiu a minha vida” faziam piada com o eleitorado de Bolsonaro.

No bloco Ladeira Abaixo, em Belo Horizonte, os foliões cantaram em coro debaixo de chuva “ai, ai ai ai, ai ai ai ai ai ai ai, Bolsonaro é o carai”, mesmo refrão repetido no bloco Eu Acho É Pouco, em Olinda. Pelo menos a cada meia hora, o refrão se repetia na capital mineira. Em alguns momentos, era seguido por outro: “Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu”, e até o antigo refrão “olê olê olê olá, Lula, Lula” apareceu.

Laranjas no bloco Tarado Ni Você - Zanone Fraissat/Folhapress

Em São Paulo, no Tarado ni Você, fantasias de laranjas satirizaram a relação do filho de Bolsonaro com Queiroz. 

Referências ao kit gay, polêmica que surgiu com o Projeto Escola sem Homofobia, da gestão petista, e as fake news apareceram com força. Uma delas virou adereço: as “mamadeiras de piroca” —mamadeiras com pênis de borracha na ponta. Na campanha de 2018, a informação de que Fernando Haddad (PT) pretendia distribuir o item em creches —o que se comprovou ser falso— inundou a internet.  

Para a autônoma Joana Cavalcanti, 40, que festejava em Belo Horizonte, Carnaval e política andam juntos e manifestações sempre vão acontecer. Ela, porém, afirma que nem toda crítica pode ser considerada o pensamento de todos os brasileiros. “Só falar é um pouco vazio. [O protesto] Não expressa exatamente o motivo do que está sendo falado”, diz. “Ali se mistura todo mundo, quem está falando só por falar e quem realmente pensa aquilo. Entra muito na moda e por isso fica até um pouco vazio. Mas dá um termômetro.”

“Carnaval é uma festa democrática, mas preferia que não tivesse um viés político”, afirma a administradora de empresas Laura Serra, 34, também em BH.

Na sexta-feira (1º), o protesto causou confusão. O bloco Tchanzinho Zona Norte, em Belo Horizonte entoou versos como “Lula livre”, “olê, olê, olá, Lula”, “ele não” e “Bolsonaro é o caralho”. Segundo a organização, a manifestação foi espontânea entre os foliões e acabou repetida no palco. 

Uma das produtoras do bloco, a bióloga Laila Heringer Costa, 35, diz que um capitão da Polícia Militar, responsável pela segurança no local, alertou que, se seguissem com críticas a Bolsonaro, a corporação retiraria seu efetivo. “Ele disse: vocês não podem continuar falando mal do Bolsonaro e defendendo Lula, que é um vagabundo. A segunda coisa é que iriam se ausentar se a gente continuasse. Se a polícia se ausenta o que você faz com a segurança de 70 mil pessoas que estão ali?”, diz ela.

Segundo o porta-voz da PM de Minas Gerais, major Flávio Santiago, o que motivou a intervenção policial foi o risco de briga generalizada que os coros poderiam causar. 

“Quando há um ato de provocação, é um ato irresponsável que pode gerar até uma tragédia, uma nova Brumadinho. Porque se você tem uma multidão, que começa a se digladiar, que de alguma forma perde o controle e se transforma numa turba, imagina milhares de pessoas pisoteadas”, diz.

Em São Paulo, o bloco 77 - Os Originais do Punk adotou o tema “destruindo o fascismo”. “Nossa mensagem este ano é contra o Bolsonaro e vamos apresentar uma marchinha que preparamos para isso”, disse Anderson Boscari, 34, um dos organizadores, no início do desfile. Em seguida, o bloco apresentou uma adaptação da marchinha “Coração corintiano”, de Manoel Ferreira. 

O refrão foi cantado repetidas vezes ao som da bateria. “Doutor, eu não me engano/ o Bolsonaro é miliciano”, enquanto o carro de som seguia pelas ruas de Pinheiros, na zona oeste da cidade. O bloco faz referência ao fato de que Flávio Bolsonaro empregou a mãe e a mulher de um ex-policial suspeito de chefiar milícias no Rio.

Apesar do protesto em Pinheiros, para o artista plástico Felipe Ferraro, 34, e o jornalista Fábio Rigobelo, 37, os blocos da região são mais conservadores. “Os protestos estão rolando porque os blocos do centro são mais politizados. Percebo que em Pinheiros são mais alienados”, diz Fábio. 

“Na verdade, acho que têm uma orientação ideológica, são de direita”, completa Felipe.

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