Descrição de chapéu Alalaô

Rebaixada, Vai-Vai é investigada por desvio de verba pública e enfrenta racha

Maior campeã do Carnaval de São Paulo ficou em último lugar neste ano e escancarou crise

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O resultado amargo deste ano para a escola de samba Vai-Vai, rebaixada pela primeira vez para o Grupo de Acesso após ficar em último lugar na apuração, escancarou a crise institucional que corrói a história da maior campeã do Carnaval de São Paulo

Dona de 15 títulos e com 90 anos de história, a agremiação que neste ano levou para a avenida o samba-enredo "Quilombo do Futuro" enfrenta uma investigação por desvio de verba pública, dívida milionária com fornecedores e um racha interno que opõe a atual direção e representantes de diferentes setores da escola. 

Darly Silva, o Neguitão, presidente da escola de samba Vai-Vai, recebe resultado do rebaixamento durante apuração do grupo especial do Carnaval 2019
Darly Silva, o Neguitão, presidente da escola de samba Vai-Vai, recebe resultado do rebaixamento durante apuração do grupo especial do Carnaval 2019 - Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress

Desde novembro do ano passado, a diretoria é alvo de inquérito civil aberto pela Promotoria do Patrimônio Público por desvio de verba repassada pela Prefeitura de São Paulo. De acordo com a denúncia, a agremiação não apresentou a prestação de contas referente ao repasse do Carnaval de 2018, no valor de R$ 1,2 milhão.

Diante disso, a Promotoria acusa de movimentação irregular desse montante a empresa Saracura Marketing e Eventos, que tem como sócio o presidente da Vai-Vai, Darly Silva, o Neguitão. "O sr. Darly Silva, em anos anteriores, poderia ter mal administrado as verbas pública recebidas da Prefeitura de São Paulo", diz texto da representação. Saracura é o apelido da escola de samba, em referência ao nome do rio que existe no subsolo das ruas Una e Rocha, onde fica a sede da escola. 

Procurada, a direção da escola de samba não respondeu aos questionamentos da reportagem. 

A Prefeitura de São Paulo afirmou que a Controladoria Geral do Município investiga se houve irregularidades em relação aos valores repassados à escola. O procedimento pode resultar em ressarcimento de valores, entre outras punições, segundo a administração. ​

Na mesma representação do Ministério Público há referência à dívida de cerca de R$ 3 milhões que a escola acumula com diversos fornecedores. Há registros em cartórios de protestos e processos judiciais de execução e de penhora, de acordo com a Promotoria. 

Em meio à crise financeira, a Vai-Vai enfrenta um racha que coloca em lados opostos a atual direção e representantes de diferentes setores. 

Desde 2014 grupo autoproclamado Resistência faz oposição e exige a renúncia do presidente Neguitão. Há um inquérito criminal de acusação de fraude em documentos, como a edição do estatuto que mudou as regras para a escolha da diretoria. 

"Mudaram o estatuto. Segundo o novo estatuto, a diretoria escolhe o conselho e o conselho escolhe a diretoria. [Neguitão] é o Nicolas Maduro e eu sou o Juan Guaidó", diz o presidente de honra, Thobias da Vai-Vai, ao usar a situação política da Venezuela como referência para a briga por poder na escola. 

O presidente de honra é uma das principais vozes de oposição à atual gestão. Este foi o primeiro Carnaval em que figuras importantes da escola, como ele e Osvaldinho da Cuíca, deixaram de desfilar, em protesto. "Estamos descontentes. Vamos exigir a renúncia deles", diz Thobias. 

A oposição também acumula reiterados pedidos de transparência à atual gestão, principalmente, em relação à prestação de contas do desfile do ano passado. 

O grupo de opositores mantém um blog com denúncias contra Neguitão, e organizou uma série de protestos no ano passado. Faixa enorme com os dizeres "Fora Neguitão" foi aberta diversas vezes durante ensaios realizados na rua em frente à sede da escola, no Bixiga, região central de São Paulo. 

Neguitão entrou na Vai-Vai como integrante da bateria e seu sonho sempre foi presidir a escola, de acordo com integrantes. Ele chegou ao posto de comando em 2010 e, segundo mudanças feitas por sua gestão no estatuto, poderá permanecer no cargo até 2022. 

Em um dos ensaios, o presidente Neguitão teve que sair escoltado por seguranças diante da hostilidade de integrantes da escola. 

Protesto na quadra da Vai-Vai contra o presidente Neguitão
Protesto na quadra da Vai-Vai contra o presidente Neguitão - Divulgação

Dona do maior número de títulos do Carnaval de São Paulo, a Vai-Vai vai se juntar no próximo Carnaval no Grupo de Acesso à segunda escola com maior número de troféus, a Nenê de Vila Matilde, que venceu onze campeonatos em sua história. Está na segunda divisão também a Camisa Verde e Branco, uma das mais tradicionais da cidade, e dona de nove troféus. 

Já a escola de samba Unidos do Peruche, outro nome importante do Carnaval paulistano, está no Grupo de Acesso 2, a terceira divisão do campeonato. 

Há três anos sem ocupar lugar entre as campeãs do Carnaval de São Paulo, a Vai-Vai teve o rebaixamento confirmado pelas notas baixas recebidas dos jurados no quesito comissão de frente, quando a Vai-Vai perdeu sete décimos e foi parar em último lugar. No último Carnaval, quando levou para o sambódromo do Anhembi o samba-enredo em homenagem a Gilberto Gil, a escola de samba do Bixiga amargou a pior colocação no campeonato até então, o décimo lugar. 

Em nota publicada nas redes sociais, a direção da escola afirmou que irá fazer um pronunciamento oficial nesta quinta-feira (7), após "analisar as justificativas e apurar todos os fatos". Nesta quarta-feira de Cinzas a sede da escola permaneceu fechada e os integrantes da direção não apareceram para falar sobre o resultado inédito deste Carnaval.   

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.