Vídeo mostra alunos cruzando rio com corda no CE; 6 morreram em temporais

Acesso para Jericoacara foi afetado; foi o março mais chuvoso no estado desde 2008

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Fortaleza

Cerca de 50 crianças tiveram de atravessar a forte correnteza de um rio com ajuda de uma corda para voltar para casa da escola na noite de segunda-feira (1). O vídeo, que repercutiu na internet, foi uma das cenas mais dramáticas do temporal nos últimos dias no Ceará, que teve o março mais chuvoso desde 2008. 

O local fica em uma passagem, espécie de ponte rente ao rio sem corrimões, que liga o colégio a uma área rural da cidade de Baturité, a 115 km de Fortaleza. Ela é usada diariamente pelo ônibus escolar, mas a chuva deixou o trecho intransponível para veículos. O jeito foi improvisar para que as crianças chegassem em casa com a ajuda de alguns adultos.

O Ceará teve março mais chuvoso desde 2008 com 238 milímetros registrados, segundo dados da Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Chuvas Artificiais), o que representou 17% a mais do que a média histórica do mês. 

 Estudantes atravessam correnteza do rio Jordão com ajuda de corda, em Baturité (CE)
Estudantes atravessam correnteza do rio Jordão com ajuda de corda, em Baturité (CE) - Reprodução

Ao menos seis pessoas morreram neste mês durante temporais, em acidentes também na tentativa de atravessar rios. Pontos turísticos conhecidos como Jericoacoara e Icaraizinho de Amontada tiveram os acessos danificados dificultando o trânsito de moradores e visitantes.

No caso de Baturité, a prefeitura afirmou, em nota, que se tratou de situação pontual, devido a forte chuva. E que as crianças daquelas localidades são orientadas a não irem à escola em dias de muita chuva justamente por causa da dificuldade do acesso. 

As aulas, segundo a prefeitura, serão repostas e as faltas abonadas. Nesta quarta (3), o volume de água já era menor. Na região, travessias como a registrada no vídeo por uma moradora são consideradas normais, apesar do risco, e algumas pessoas até cobram para auxiliar outras na passagem. 

Problemas para estudantes ocorreram também em Itarema, a 210 km de Fortaleza e cidade que em março registrou o maior volume de chuva no estado, 212 milímetros. 

Nesta quarta (3), a prefeitura decretou férias antecipadas para os alunos da rede municipal de julho para este mês de abril, por causa das chuvas. A necessidade, segundo o decreto, ocorreu pelo rompimento de diversos trechos de estradas, que impossibilita a passagem dos veículos escolares, e alagamento de algumas escolas. 

No domingo (31) em Reriutaba, a 290 km de Fortaleza, três pessoas morreram depois que um carro tentou passar sobre uma das passagens semelhante, com grande fluxo de água. Em 19 de março, no Crato (a 500 km da capital cearense), um homem também tentando atravessar um rio a cavalo morreu.

Na terça (2) foi na divisa do Ceará com o Piauí, em Domingos Mourão (PI), que um carro foi levado pela correnteza e duas pessoas morreram afogadas. O corpo de bombeiros orienta a não atravessar passagens molhadas em dias com grande quantidade de chuva.

O principal destino turístico do Ceará, a praia de Jericoacoara, na cidade de Jijoca de Jericoacoara (300 km de Fortaleza) teve o acesso limitado para carros de menor porte  por alguns dias em meados de março devido à chuva. Parte da estrada que chega à vila, de terra, encheu de água --não houve, porém, isolamento das pessoas entre a vila e o centro da cidade, como já ocorreu em outras ocasiões.

Trecho da CE-176, que chega até a praia de Icaraizinho de Amontada, um dos locais preferidos de férias para os fortalezenses, foi destruído, impedindo o acesso e obrigando a ser feito um longo desvio. 

Houve também problemas em estradas que chegam a outros pontos turísticos, como a praia de Mundaú, em Trairi (126 km da capital) e Guaramiranga, cidade na serra, a 110 km de Fortaleza, e que nessa época de chuvas, chamada de inverno no Ceará, é muito visitada devido às temperaturas mais baixas. O governo estadual informou que está priorizando as obras nos trechos de estradas mais afetados. 

Em Fortaleza não há registro de desabrigados, mas bairros têm ruas inundadas com dificuldade acesso e, em alguns casos, com água entrando em algumas casas. O Lagamar, na região central, é o mais afetado.

A região metropolitana fechou março com média de chuva 55,3% superior à média histórica.

Se o volume de água gera transtorno à população, nos reservatórios que abastecem as cidades o resultado ainda não é visto. Dos 155 açudes monitorados pela Cogerh (Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos), 30 estão sangrando, ou seja, com a capacidade máxima, 31 com volume acima de 90%, mas 85 abaixo de 30%. 

O volume total de água acumulado está em em 15,9% da capacidade. O Castanhão, principal reservatório para Fortaleza, está com 3,92% de sua capacidade. 

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