Descrição de chapéu

Com fama de 'cicatriz urbana', Minhocão divide opiniões em SP

Prefeitura não perguntou se a população quer o parque, e sim como ele deve ser feito

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A dois dias de seu encerramento, a consulta pública sobre o parque Minhocão, aberta em maio, havia colhido, até esta quarta (12), 147 contribuições. Elas revelam, acima de tudo, a cacofonia na qual está imersa a discussão.

Poucas das contribuições somam propostas ao diagnóstico elaborado pela prefeitura e ali submetido a escrutínio. 

Mesmo os que aportam ideias parecem não ter lido os estudos apresentados, repetindo ideias neles contempladas.

O que mais há são manifestações favoráveis (22) ou contrárias (77) à transformação do viaduto em parque. Mas a prefeitura não perguntou se a população quer o parque, e sim como ele deve ser feito. Dos contrários, a maior parte (31), estrila por achar que o elevado deve servir aos carros —a popularização do debate sobre mobilidade urbana pode nos ter feito erroneamente pensar que essa noção caminhava para a superação.

Dos opositores, os que menos opinam e mais argumentam são os 19 que pedem o desmonte da estrutura, hipótese sumariamente descartada pelo Executivo municipal.

Por vestir tão bem o lugar-comum de "cicatriz urbana", o viaduto inaugurado em 1971 nunca deixou de capturar a atenção pública.

Bem mais do que os R$ 38 milhões previstos para o primeiro trecho do parque Minhocão está sendo destinado, sem tanta reação, a outras ações na região central.

No novo vale do Anhangabaú, serão gastos R$ 80 milhões; a renovação de calçadas da região central consumirá outros R$ 58 milhões.

Deixar de investir essas verbas não dará mais hospitais à periferia. Mas, questionando as prioridades do poder público, as pessoas reclamam de que não há bons hospitais, então para que parque? 

A via elevada, que cobre cerca de 3 km do largo Padre Péricles à praça Roosevelt, comunicando-se a partir daí com a Radial Leste, recebe ao dia 78 mil veículos. Sua construção arruinou o entorno; em alguns pontos, o elevado quase encosta nos prédios. 

A desvalorização subsequente foi o que permitiu que populações menos favorecidas habitassem o centro. Agora, uma das preocupações de quem se debruça sobre o tema é se elas não serão expulsas pela especulação imobiliária atraída pelo parque. 

Muitos levantam contra o novo parque a constatação de que a prefeitura cuida mal dos que já têm, tanto que os está concedendo à iniciativa privada. Então para que mais um?

Uma preocupação muito expressa é que possa surgir no lugar dos carros uma nova cracolândia. Outros não escondem o repúdio pelos desvalidos que vivem na degradada área sob o elevado.

Muitos desconfiam que a prefeitura tomou a decisão de modo açodado, sem crer que tenha havido zelo técnico.

Ao ler as manifestações, salta a dúvida. Terá a gestão municipal se comunicado de modo eficaz sobre uma questão que se mostra tão complexa e, por isso, tão candente?

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.