"Quem não sente não é boa gente", dizia o professor João de Almeida, exímio poeta e intelectual da linguística, autoridade em perífrases verbais.
O paulistano que assumiu o primeiro trabalho como office boy aos 13 anos, conseguiu se formar em letras na USP aos 33. Daí, foi ser professor universitário na hoje Unesp em Assis, no interior do estado. Acabou ficando por cinco décadas na cidade, que homenageou no livro "Inquietações de Assis", no qual retrata personalidades locais.
Como docente, João ministrou cursos regulares e aulas especializadas em mestrado e doutorado. Publicou mais de 70 artigos e o título "Introdução ao Estudo das Perífrases Verbais de Infinitivo", referenciado em países como Polônia, EUA, Itália.
Foi também vice e diretor da faculdade nos anos de ditadura no país. E, mesmo dito apolítico, impediu a entrada de militares no campus para perseguir alunos e professores.
Filho de imigrantes lusitanos, João era fã de bacalhau e torcedor da Portuguesa. Pé de valsa, batia ponto no clube recreativo todas as sextas-feiras para ouvir Nelson Gonçalves. Esportista nato, nadava, jogava tênis, ping pong, xadrez — e levava os filhos junto para treinarem.
Deu aula até quase 80 anos e traduziu sentimentos em palavras até o dia 10 de julho, quando morreu aos 89, em decorrência de uma infecção generalizada, um dia após completar 58 anos de casamento com a Dona Mary, seu grande amor. Além da esposa, deixou três filhos, Luís Roberto, Denise e Luciana, e dois netos, Lorenzo e Vinicius.
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