Cidade mais violenta do Brasil teme facções, mesmo com queda de mortes

Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza, convive com disputa entre facções criminosas

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Fortaleza

O São João de Maracanaú é um dos mais importantes do Ceará, mas Ítalo Yuri de Sousa não conseguiu chegar à festa na madrugada do último dia 7 de junho. Abordado por dois homens em uma moto, foi morto a tiros. Dias antes Sousa tinha deixado a prisão, liberado após acusação de tráfico de drogas. A investigação da policia civil apontou que a morte pode ter sido causada por disputa de traficantes por território.

Perseguição acaba em morte em Maracanaú - Reprodução/TV Verdes Mares

Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza, conviveu nos últimos anos com o mesmo problema da capital: a disputa entre facções criminosas. Os dados apresentados pelo Atlas da Violência 2019 - Retratos dos Municípios, que apontaram a cidade cearense de pouco mais de 220 mil habitantes como a mais violenta do Brasil em 2017, retratam esse cenário de um ano em que a guerra chegou ao auge. 

No Ceará, foram assassinadas 5.133 pessoas, contra 3.407 em 2016, um ano antes, e 4.418 em 2018, um anos depois. Em 2019, o número de homicídios caiu no Ceará, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS), e consequentemente em Maracanaú. Entre janeiro e junho, foram 58 mortes violentas na cidade, ante 106 em 2018 e 130 em 2017, no mesmo período. 

A pasta faz o levantamento com base em boletins de ocorrência e inquéritos policias, diferente do usado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que tem o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde como fonte.

A sensação é de mais segurança de 2017 para cá. O desenvolvedor de sistemas Manoel Fábio de Lima, 53, faz parte da Associação dos Moradores do Novo Maracanaú, um dos bairros da cidade. Nascido em Redenção, a 60 km de Maracanaú, vive há 36 anos na cidade que o acolheu e onde ajuda, na associação, idosos e jovens com terapias e passatempos, como aulas de forró.

"A sensação de segurança melhorou, vemos mais abordagens de policiais. Mas ainda falta investimento no social, na educação, no esporte, que ajudaria muito na segurança", disse Lima. Este ano ele se lembra de apenas um assassinato no bairro, provavelmente ligado a briga de facções. "Alguém veio roubar aqui e mataram".

Para Lima, Maracanaú é uma cidade com muitos problemas sociais, o que afeta a segurança de várias maneiras. "É uma cidade com muitas empresas e que recebe muitas pessoas de outras cidades e estados. E quando você cria novos bairros, ou comunidades, você cria vários problemas sociais, com falta de escola, de saneamento, e que seriam necessárias políticas públicas. A violência acaba vindo junto". 

Ao assumir o segundo mandato, em janeiro, o governador Camilo Santana (PT) criou uma secretaria exclusiva para as penitenciárias, deixando mais rigorosas as regras nesses locais o que desencadeou a onda de ataques criminosos no Ceará que atingiu órgãos públicos, privados e até viadutos. 

A Força Nacional foi enviada para ajudar, presos classificados como líderes das facções foram transferidos para prisões federais, e os homicídios caíram, num primeiro momento, segundo especialistas, porque os membros das facções fizeram uma trégua de ataques entre eles. 

Mesmo com o fim dos ataques, em fevereiro, a taxa de mortes violentas continuou a cair no Estado. Entre janeiro e junho de 2019 foram 1.105 assassinatos, ante 2.380 em 2018 e 2.299 em 2017, no mesmo período.

"Quando tomei a decisão do enfrentamento ao sistema prisional, eu sabia que teria um efeito forte aqui fora. Não tenho dúvida que a diminuição dos homicídios é fruto dessa intervenção, foi fruto da presença da polícia nas ruas", disse Camilo em entrevista à Folha, em fevereiro.

Em nota, o governo estadual informou que em 2017 Maracanaú passou a contar com uma base do Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), unidade especializada da Polícia Militar, com foco no trabalho ostensivo. 

Em 2018, o município passou a integrar o sistema de videomonitoramento do Estado, com 20 câmeras, além de inaugurar a nova sede da Delegacia Metropolitana de Maracanaú, que funciona em regime de 24 horas. 

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