Evangélico, presidente da Câmara de SP transforma sala de reunião em espaço de culto

Medida sinaliza influência cada vez maior da bancada religiosa no Legislativo da capital

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São Paulo

Evangélico, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Eduardo Tuma (PSDB), capitaneou a transformação de uma sala usada pela população e por vereadores para reuniões em um espaço para cultos religiosos. 

A mudança gerou burburinho nos corredores da Casa, pela perda do espaço de discussões e pelo histórico de Tuma à frente de ações para beneficiar evangélicos.

Oficialmente, trata-se de um espaço ecumênico. Na prática, a alteração do espaço da casa mostra o poder cada vez maior da bancada evangélica na Câmara —hoje quase 25% dos vereadores. Só na mesa diretora, chefiada por Tuma e responsável pela administração da Casa, ao menos três dos cinco membros fazem parte deste grupo.

Localizada no subsolo da Câmara, a sala que será usada em cultos costumava ser ocupada para reuniões de comissões como a de Educação e conselhos como o de Políticas para Drogas e Álcool, além da Escola do Parlamento. É um dos oito espaços ao qual há acesso pelo sistema auditórios online, com transmissão em tempo real.

Há cerca de um mês o espaço foi totalmente mudado, dizem funcionários da Câmara. A mesa em formato de U, com microfones, foi trocada por várias cadeiras, flores e um púlpito. 

Para embasar a mudança, foi feito um projeto de resolução da mesa diretora. A Presidência da Câmara defende que não desrespeita a laicidade do Estado e que segue o que já ocorre em outras instituições, como o Congresso Nacional. 

Veja o antes e depois de sala na Câmara

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Espaço usado para reuniões foi transformado em sala para cultos religiosos

A Câmara afirmou ainda "não haverá prejuízo à realização dos eventos citados pela reportagem, como reuniões de comissões, conselhos e da Escola do Parlamento, que serão mantidos nos demais auditórios".

"O local somente será aberto após a deliberação. O objetivo é possibilitar um espaço de reflexão, de uso público, independentemente de crença, religião ou sincretismo religioso", diz nota da Presidência. 

Apesar disso, o espaço já está pronto e os eventos cessaram na sala.

Cogita-se até mudar o nome do lugar, que presta homenagem a um antigo vereador comunista e líder sindical, Luiz Tenório de Lima, o Tenorinho, que morreu em 2010, aos 87 anos.

O presidente da Câmara é frequentador da igreja evangélica Bola de Neve. Site oficial de Tuma define o vereador como alguém que "na Câmara é um defensor da Igreja de Jesus Cristo". A página também diz que ele é líder da bancada evangélica e criou a Frente Parlamentar Cristã.

Na Câmara, o presidente costuma declaradamente assumir a posição de defensor das igrejas, incluindo quando isso afeta os cofres municipais. Muitas vezes, para aprovação de projetos importantes, o Executivo acaba se vendo obrigado a incluir medidas que beneficiem as igrejas. 

"Se houver oportunidade de prever algum tipo de isenção de alguma taxa que a gente entenda ser abusiva relacionada as igrejas eu vou propor, sim", disse à Folha, logo depois de ter sido eleito presidente da Câmara, no ano passado. 

Vereador Eduardo Tuma, presidente da Câmara de SP, que tem base eleitoral evangélica
Vereador Eduardo Tuma, presidente da Câmara de SP, que tem base eleitoral evangélica - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Em abril, ele articulou a aprovação de lei que amplia a isenção de IPTU para igrejas. 

A bancada evangélica liderada por Tuma conseguiu a inclusão de um parágrafo que isenta do pagamento de imposto os imóveis localizados no mesmo terreno de igrejas e templos, com exceção de endereços alugados ou explorados comercialmente. Assim, a isenção prevista em lei aos imóveis usados para prática religiosa é estendida a escritórios, e outros tipos de endereços usados pelas igrejas desde que não seja praticada atividade empresarial. 

Entre outros projetos, o vereador também está por trás da regra imposta na privatização do Anhembi, que estabeleceu que, além do Carnaval, o local também deveria garantir a realização de eventos religiosos.

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