A televisão era uma companhia. O celular entrou na rotina há menos de dois anos. A distância da tecnologia poderia ser uma escolha de estilo de vida qualquer, se Fábio Negrão não fosse um professor de comunicação da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
O contato só pelas telas era muito distante para quem gostava tanto de gente quanto ele. Em qualquer oportunidade, a conversa ia longe.
No equilíbrio da vida, o filho da boemia era o “soneca” pelas manhãs e o “zangado” à noite, apelidos que ganhou dos amigos de militância durante os tempos de ditadura na região de Bauru (329 km de SP).
Na universidade, lia trechos do livro “Mídia Radical”, de John D. H. Downing, enquanto dava pequenos socos na mesa da sala de aula, nas partes que considerava mais importantes. E esperava reações dos alunos.
Na visão de mundo que Fábio Negrão tentava espalhar por onde passava, “não admitia que ninguém lhe tomasse nenhum dedo da liberdade”, conta a amiga Dalva Aleixo.
Os alunos eram tão parte da família que os retratos dos almoços de domingo com os estudantes dividiam espaço com as fotos que guardava dos seus filhos.
“Ele é o que a gente quer falar sobre a essência da vida. Viver do jeito que você acha certo, independente dos outros”, conta a filha Beatriz Scaglione.
Aos 68 anos, por complicações de um AVC no dia 26 de setembro, Fábio deixa três filhos, uma geração de estudantes e boas conversas.
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