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Para acompanhar filhas autistas, pedreiro faz aulas de balé

Pai é o único homem entre nove mães, além de outras oito alunas, na turma

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O pedreiro Joilson Santos, (ao fundo, à esq.) e sua esposa Jaqueline Amorim (ao fundo, à dir.), pais de Isabele e Iasmin que fazem balé como uma das terapias do tratamento do autismo Marina Silva/Jornal Correio

Salvador

Em nome do amor que tem pelas duas filhas, que foram diagnosticadas com transtorno do espectro autista, o pedreiro Joilson Santos, 54, passou a frequentar aulas de balé para ajudar no desenvolvimento das pequenas Isabele, 8, e Iasmin, 10.

O trabalhador da construção civil é o único homem entre nove mães, além de outras oito alunas, na primeira turma do Ballet Azul (cor que representa o autismo), programa que faz parte do projeto Arte de Viver, mantido gratuitamente pela prefeitura de Feira de Santana (a 115 km de Salvador). Todas as bailarinas do grupo são autistas.

Desde março, Joilson tem alternado o labor nos canteiros de obras com as aulas de dança. Duas vezes por semana, às quartas e sextas-feiras, o pai deixa de lado as ferramentas de trabalho para ir ao estúdio no Centro Cultural Maestro Miro.

Joilson faz par com a filha mais nova, Isabele, a quem serve de mentor dos passos adaptados pelo professor Adauto Silva. Já a mulher dele, Jaqueline Amorim, 43, fica responsável por assessorar a garota mais velha, Iasmin.

O pai das meninas conta que tomou conhecimento do projeto durante as consultas médicas no Caps (Centro de Atenção Psicossocial).  “Eu não planejei participar [do balé], mas como as crianças precisam de acompanhante, não podia deixar uma de minhas filhas sem par.”

Os meses de ensaio renderam aos mentores uma apresentação pública ao lado das crianças, em agosto passado, o que fez a notícia da participação de Joilson se espalhar pela vizinhança.

“Não tô nem aí para o que os outros falam. Faço qualquer coisa pela dignidade de minhas filhas”, diz ele.

O trabalhador conta que ambas foram diagnosticadas há sete anos, quando o casal as levou ao médico por causa do comportamento agressivo. “Elas tinham temperamento explosivo. Se batiam, se mordiam, ficavam nervosas.”

Depois que passou a frequentar as aulas, conta ele, Isabele evoluiu para a comunicação verbal, pronunciando as primeiras palavras. A interação com outras crianças, aliada à dança, tem resultado em dias mais calmos para a família, comemora o pedreiro.

Na avaliação do professor da turma, Joilson é um aluno dedicado, que se doou completamente ao balé e quebrou os dogmas sociais quanto à participação masculina na dança.

“O amor de Joilson é tão grande que já inspirou outros homens a participarem das aulas, mas ele é o mais assíduo, por ter um trabalho com horário mais flexível.”

Na sala da casa de dois quartos, cozinha e banheiro, no bairro Viveiros, Joilson improvisou uma linha com fita isolante preta para que as meninas possam praticar o equilíbrio nas pontas dos pés, durante os exercícios com os pais nos finais de semana.

A família depende da renda de Joilson na construção civil, que oscila perto de R$ 300 por semana, além do benefício social de um salário mínimo da caçula. Como precisam comprar medicamentos que não conseguem pelo SUS, só puderam participar das aulas porque são gratuitas.

O próximo passo, conta, é encontrar uma escola que esteja apta a receber as filhas. A mais velha chegou a frequentar aulas, mas parou.

A preocupação dos pais é fazer com que as meninas aprendam a ser independentes. “Eu não vou viver para sempre. Preciso ter a tranquilidade de que elas sabem se virar. Por elas, eu vou catar latinha, recicláveis, para não deixar faltar”, diz o pedreiro.

Com o sucesso do balé, os organizadores do projeto decidiram criar a capoeira azul, também para autistas. “Crianças que antes não falavam nem obedeciam comandos passaram a fazê-lo”, diz o diretor do Centro Cultural  Maestro Miro, Luiz Augusto.

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