Jovens LGBT periféricos buscam apoio dentro da Igreja Católica

Debate ocorre em meio à Pastoral da Juventude, que tem como base a Teologia da Libertação

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Daniel Freitas
São Paulo | Agência Mural

Homossexual, o estudante Gabriel Jadson, 23, se sentia diferente de seus dois irmãos e de outros meninos no Jardim Elisa Maria, bairro da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, na infância.

"Quando tomei coragem para falar, minha mãe partiu para me bater, mas começou a chorar em seguida. Meu pai me viu como grande decepção para a família", diz.

O caminho para lidar com a situação ele encontrou na igreja. "Se não fosse a PJ, não sei onde estaria hoje. Poder dialogar com o grupo de jovens foi fundamental para o meu processo de aceitação."

A PJ é a Pastoral da Juventude da Igreja Católica, que tem atuado nas periferias de São Paulo. Os grupos tratam de políticas públicas e temas ligados à juventude. E passaram a incluir a situação vivida por LGBTs da capital.

Missa organizada na Catedral da Sé pelos jovens durante a Romaria Estadual da Pastoral da Juventude
Missa organizada na Catedral da Sé pelos jovens durante a Romaria Estadual da Pastoral da Juventude - Patrícia França/Divulgação

Segundo a Arquidiocese de São Paulo, há cerca de 20 grupos de base instalados nas comunidades periféricas da cidade formados por jovens voluntários. Entre os objetivos está formar cristãos e cidadãos capazes de reconhecer a imagem de Cristo no outro, respeitando as diferenças de gênero, etnia, crença ou sexualidade.

No espaço, debatem o preconceito contra LGBTs na cidade onde 4 a cada 10 moradores já viram ou sofreram discriminação.

"É difícil quando não fazemos parte do conceito heteronormativo imposto. Com a pastoral, percebi que a pessoa pode, e deve, ser quem ela é em qualquer lugar, até na igreja", diz a estudante de enfermagem Samantha Souza, 22, que vive no Jardim Tereza, também na Brasilândia.

Mas até dentro da igreja o paraibano Franklin Ferreira, 25, também da Vila Brasilândia, sofreu preconceito por parte de um membro do clero, que o expulsou por tê-lo visto de mãos dadas com o namorado.

A coordenadora regional da Pastoral da Juventude na Arquidiocese de São Paulo, Mônica Moreno, 23, diz que o coletivo busca a "civilização do amor" e uma sociedade mais igualitária. "Temos que acolher as pautas de diversidade e tratá-las como prioridade, pois fazem parte da vida da juventude. Jesus prega sobre o amor e o respeito ao próximo."

O coletivo tem como base a Teologia da Libertação, que prioriza os pobres. O movimento promove hoje uma campanha nacional para debater o enfrentamento dos ciclos de violência contra as mulheres nas comunidades.

Apesar da PJ estar na Igreja Católica há mais de 40 anos, a questão LGBT foi incluída na discussão há pouco tempo por demanda dos jovens que participam dos grupos —a atuação do papa Francisco foi importante para a escuta feita com jovens.

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