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Cidades litorâneas querem expulsar turistas das praias

Municípios de SP, SC e RJ adotam restrição de acesso para os que pretendem fazer quarentena à beira-mar

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Santos e Ribeirão Preto

Para tentar combater o surgimento de casos do novo coronavírus, cidades da Baixada Santista, do litoral norte de São Paulo, do Rio e de Santa Catarina adotaram medidas para restringir a presença de banhistas, entre eles turistas que tentem fazer sua quarentena nas praias.

Além do veto ao uso das praias, que será monitorada pela guarda municipal das cidades, Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe e Bertioga anunciaram outras oito medidas preventivas em conferência por vídeo.

Entre as principais ações estão o fechamento de hotéis, shoppings, academias, igrejas e casas noturnas.

A cidade de Santos informou nesta semana que monitora a chegada de pessoas em quarentena para a região, uma das principais preocupações. Para isso, restringiu o funcionamento da rodoviária para uso de serviços essenciais de saúde e segurança.

Anteriormente, os prefeitos já haviam suspendido a autorização para que ônibus e vans turísticos deixassem a capital ou outros municípios com destino ao litoral.

"Estamos restringindo totalmente o acesso à faixa de areia da praia em todas as cidades, isso vale para turistas, moradores e ambulantes. A restrição é total, não tem cabimento incentivar atividades turísticas e pessoas nas ruas. Vimos praias lotadas e precisamos ter antecedência e rigor para salvar as vidas", disse o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), no anúncio das medidas.

Ainda não há nenhum caso confirmado nas cidades. Ao todo, são 158 pessoas com suspeitas da doença. Mesmo assim, já foram solicitados mais 14 leitos de UTI para Bertioga, 10 para Praia Grande, 4 para São Vicente e 20 para Guarujá.

Ubatuba, no litoral norte, implantou barreiras sanitárias nas divisas do município e suspendeu o comércio em todas as praias.

Ambulantes ou comerciantes que tenham pontos fixos não poderão trabalhar, sob risco de cassação de licença ou alvará pela Vigilância em Saúde do município. Na ação, motoristas estão recebendo a recomendação para, caso seja um caso suspeito, retorne à sua cidade de origem.

O objetivo é, como na Baixada, evitar aglomeração de pessoas, mesmo em espaço aberto, para coibir a disseminação do vírus.

Já em Ilhabela, a prefeitura limitará, a partir desta sexta-feira (20), o acesso de turistas por meio de balsas, para prevenir o contágio pelo coronavírus. A cidade confirmou na tarde desta quinta ter 16 casos suspeitos.

Com a proibição, a travessia poderá ser feita só por alguns veículos, como carros oficiais, de emergência (como ambulância) ou destinados a atender serviços essenciais (abastecer supermercados, lojas e bancos). Carros da cidade ou de São Sebastião estão liberados, se forem moradores ou trabalhadores. Pedestres terão de comprovar residência.

Moradores de Ilhabela reclamam de oportunismo e da postura de algumas pousadas e hotéis, que fizeram promoções para atrair turistas, sob a alegação de que uma paralisação resultaria em prejuízo.

Ezequiel de Souza Vale, 42, dono da Pousada Bene, dispensou funcionários e hóspedes já na segunda-feira (16). Reservas foram canceladas.

A pousada hospeda até 54 pessoas, com diárias de até R$ 690, e tinha lotação máxima para este fim de semana. Ele disse ter recebido insistentes pedidos para o não cancelamento das reservas.

Donos de chalés e casas de temporada seguiram também postura semelhante, mesmo tendo nos negócios seu único meio de sustento.

Denis Simões, 40, tem como renda o aluguel de caiaques e quatro casas. “Recebi ligação de uma pessoa que estava no Rio e queria vir para cá, pois está com muito medo, mas precisei suspender tudo.”

Outros estados adotaram restrições similares às do litoral paulista.

Em Santa Catarina, apesar da existência de um decreto, ainda havia pessoas frequentando praias como Garopaba e Canasvieiras, em Florianópolis.

“Você, que está na praia, volte para sua casa e contribua para sua saúde e de seus familiares”, dizia a mensagem da caixa de som de um quadriciclo dirigido por um guarda municipal patrulhando a praia de Canasvieiras nesta quinta.

“As pessoas não têm mais autorização para permanecer na orla da praia. É uma decisão para evitar a aglomeração de pessoas. A gente está preocupado com a saúde de todos”, disse Ivan Couto, comandante da Guarda Municipal de Florianópolis, em vídeo gravado durante a ação.

A vigilância é resultado de um decreto do prefeito da capital, Gean Loureiro (DEM), válido por sete dias. A Polícia Militar também auxilia nas abordagens.

Em Balneário Camboriú, o prefeito Fabrício Oliveira (PSB) emitiu decreto semelhante e também foi à beira da praia pedir para os banhistas se retirarem do local.

“Estamos fazendo as abordagens na praia. Já temos quatro casos [na cidade], pedimos às pessoas que não venham à praia. O momento é de ficar em casa”, disse ele em vídeo.

Já em Niterói, na região metropolitana do Rio, apesar do sol forte e da temperatura em torno de 30ºC, as praias estavam praticamente vazias na manhã desta quinta.

Nas areias de Icaraí, um dos bairros mais populosos, poucas pessoas caminhavam ou corriam, enquanto dois homens remavam sobre pranchas de stand up no mar.

No calçadão, bloqueado por carros da Guarda Municipal e faixas, um número um pouco maior de pessoas ainda descumpria as recomendações de isolamento, mas nada que lembrasse o fluxo de um dia de semana comum.

Os quiosques da orla estavam fechados. "Se cada um fizer sua parte, a gente volta a trabalhar mais rápido", disse Marlene Peres, proprietária de um deles, enquanto recolhia produtos perecíveis para levar para casa antes de fechar definitivamente o estabelecimento.

Apesar do veto a banhistas no litoral paulista, o empresário José Adalberto da Silva, de Campinas, pretende nesta sexta-feira ir com sua mulher para Santos, onde possui um apartamento. A cidade litorânea é destino habitual do empresário, que agora quer prorrogar sua estada devido ao cenário provocado pelo coronavírus.

“Estão falando que não poderemos ir para a praia, mas só de ficar sentado na sacada olhando o mar já é reconfortante. Melhor do que ficar trancado em casa”, disse.

Colaboraram PAULA SPERB, de Porto Alegre, e NICOLA PAMPLONA, do Rio de Janeiro​

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