Mapeamento das áreas e de equipamentos médicos imprescindíveis no combate ao coronavírus mostra quais estados brasileiros estão mais bem preparados para enfrentar a pandemia.
Para consultar, basta escolher o estado e verificar o que cada um dispõe nos dois principais eixos do sistema de saúde no combate à Covid-19:
1) Atendimento básico e triagem para o encaminhamento de pacientes segundo a gravidade;
2) Estrutura para casos graves nas UTIs e leitos equipados com ventiladores para respiração mecânica.
No atendimento básico, o levantamento traz o percentual da população coberta por equipes de atenção básica e o total de médicos e leitos hospitalares por habitante em cada estado.
Na estrutura para casos graves, são exibidos o total de leitos de UTI por habitante nos sistemas público e privado e os ventiladores respiratórios disponíveis.
Os dados de UTIs e ventiladores são da Associação Brasileira de Medicina Intensiva (Amib) e os de atenção básica foram compilados pelo Datafolha. A fonte primária são as estatísticas do Ministério da Saúde, organizadas aqui para facilitar a consulta pelos leitores da Folha.
Segundo médicos no comando das operações contra a Covid-19, com o avanço da epidemia por meio da transmissão comunitária, a triagem criteriosa de pacientes em todo o país tornou-se fundamental.
O principal motivo é que menos de 10% dos 5.570 municípios do país têm leitos de UTI. Já a maioria das 4.000 cidades com menos de 50 mil habitantes também não dispõe de ambulâncias —o que exigirá coordenação em nível estadual na transferência de pacientes graves para municípios maiores.
O desafio do atendimento básico, que conta com 47,7 mil equipes de saúde da família, médicos e leitos comuns, é aferir quais pacientes realmente precisam ser encaminhados a UTIs ou leitos com ventiladores.
O objetivo é não saturar a estrutura para casos graves com pacientes que poderiam ser atendidos sem equipamentos mais sofisticados e em número limitado.
Nos epicentros mundiais da pandemia, têm sido necessários cerca de 2,4 leitos de UTI para cada 10 mil habitantes, segundo a Amib. No Brasil, há cerca de 2,2 por 10 mil —embora esteja ocorrendo um esforço considerável para ampliar esse número em vários hospitais.
A distribuição regional dos leitos de UTI também é muito desigual (pior no Norte, Nordeste e Centro-Oeste), assim como a divisão entre os leitos públicos do Sistema Único de Saúde e privados, onde há mais unidades, proporcionalmente.
Em termos gerais, os cerca de 47 mil leitos de UTI no país estão divididos meio a meio entre públicos e privados.
Como o maior número de casos tem sido registrado, por enquanto, em áreas de maior poder aquisitivo e normalmente atendidas pelos planos de saúde, o risco é que muitos desses leitos privados estejam ocupados quando a epidemia passar a atingir com força a população mais pobre e dependente do SUS.
Antes mesmo da chegada da Covid-19, os leitos de UTI já tinham elevada taxa de ocupação, de 95% no SUS e 80% no privado. Para abrir espaço na rede existente, o desafio tem sido cancelar cirurgias sem urgência —que normalmente ocupam 25% das UTIs— e adotar outras medidas para reservar mais leitos para a pandemia.
Outro problema é que os internados pela Covid-19 têm ocupado as UTIs por até três semanas, o triplo do tempo que outros doentes costumam ficar nessas unidades.
Em relação aos ventiladores mecânicos, o Brasil tem quase 3 unidades para cada 10 mil habitantes, mais do que mostram estimativas em relação a Estados Unidos (2 para cada 10 mil), Reino Unido (1,4) e Itália (0,8).
De um modo geral, os estados mais bem equipados na linha de frente (leitos de UTI e ventiladores) estão concentrados no Sudeste e no Sul do país.
Mas o Distrito Federal, zona de alta renda devido ao funcionalismo público, destoa no Centro-Oeste. É a unidade da federação que mais dispõe de ventiladores (6,7 por 10 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional) e leitos de UTI privados (11,6 por 10 mil, ante 4,9 na média do país).
Nas regiões Norte e Nordeste, o maior problema é o número de leitos de UTIs públicos, ligados ao SUS —em número menor do que em outras regiões.
No início da crise, o Ministério da Saúde prometeu aumentar em até 2.000 leitos de UTI o potencial da rede pública. A montagem de uma unidade básica custa aproximadamente R$ 100 mil e sua manutenção, incluindo pessoal, cerca de R$ 2.000 diários.
No atendimento básico e triagem, os únicos estados com menos de 1 médico para cada 1.000 habitantes são o Maranhão, o Amapá e o Pará. O Distrito Federal destoa novamente nesse item, com 3,4 médicos para cada 1.000 habitantes —bem acima da média nacional, de 2 por 1.000, e de São Paulo, o estado mais rico do país, com taxa de 2,6.
Os cerca de 2 médicos para cada 1.000 habitantes no Brasil equivalem, segundo dados do Banco Mundial, aos da Colômbia (2,1), estão acima do Chile (1,1) e abaixo de países como EUA (2,6), Portugal (3,3) e Itália (4,1).
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.