Descrição de chapéu Universidade do Futuro

Interdisciplinaridade é ferramenta para formação crítica do universitário, dizem especialistas

Em webinário, dirigentes de instituições e pesquisadores apontam vantagens e dificuldades na implantação de nova lógica curricular

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São Paulo

A interdisciplinaridade não como uma escolha, mas como uma ferramenta para formação crítica de alunos foi o principal assunto debatido na mesa de discussão do Seminário Universidade do Futuro, realizado nesta terça-feira (9) em formato webinar.

“A interseccionalidade é uma necessidade, sobretudo em nossa época fundamentalmente marcada pela complexidade”, disse Márcio Alves da Fonseca, pró-reitor de pós-graduação da PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), em sua fala de abertura.

Fabio Takahashi aparece sentado em um palco, na frente do banner do seminário; ao seu lado, dois monitores mostram os convidados que acompanham o evento online
Segundo dia de debate do seminário Universidade do Futuro, evento promovido pela Folha e transmitido por um link ao vivo; o repórter Fabio Takahashi faz a mediação da conversa com especialistas - Keiny Andrade/Folhapress

Nos chamados bacharelados interdisciplinares, a opção pela carreira só é feita depois de uma primeira etapa de formação. Existe um conjunto de elementos básicos e obrigatórios para todos os estudantes, mas há complementos que são escolhidos pelo aluno na progressão do currículo.

Em 2005, a então recém-criada Universidade Federal do ABC (UFABC) era a única com um curso do gênero. Hoje, ao menos 20 federais oferecem a modalidade.

“A interdisciplinaridade exige, além da formação profissional, um desenvolvimento do pensamento crítico e científico para aumentar nossa capacidade de ler o mundo”, afirma Dácio Roberto Matheus, reitor da UFABC.

O aluno que chega a um curso superior interdisciplinar tem mais tempo para escolher a sua profissão. “O estudante é, desde a infância no ensino básico até a adolescência, disciplinado. Com autonomia, ele precisa aprender a lidar com um ensino mais flexível”, diz o reitor.

Na Europa, o processo de Bolonha, a partir de 1999, procurou unificar o sistema de ensino superior na maior parte das universidades e permitiu maior flexibilidade e mobilidade na formação dos estudantes.

“As instituições se convenceram que era preciso percorrer outras formas de trabalho e de conhecimento, não dava mais lecionar exclusivamente numa lógica disciplinar”, explica Luís Alcoforado, professor da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, em Portugal, que trouxe uma perspectiva europeia ao debate.

Alcoforado, que é pesquisador no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século 20, conta que, muitas vezes, os estudantes querem aderir a grupos de estudos, mas há dificuldade em colocar questões de pesquisa fora de determinada disciplina. “Uma graduação não é mais colocar um telhado no edifico da nossa formação escolar é lançar a primeira pedra”, avalia o professor português.

As instituições de ensino não precisam fechar-se em modelos rígidos. “A experiência acumulada permite que a universidade possa transitar entre esses dois modelos”, defende Márcio Fonseca, pró-reitor de pós-graduação da PUC-SP. Apesar de ser uma instituição tradicional, a PUC criou, no ano passado, a Faculdade de Estudos Interdisciplinares, que cruza diferentes áreas de conhecimentos em cursos como o de ciências de dados e inteligência artificial.

“A pandemia que vivemos é um exemplo de que temas e problemas não são só da ciência, mas da vida, têm sempre essa marca da complexidade”, diz Naomar Monteiro de Almeida Filho, titular da cátedra de educação básica do Instituto de Estudos Avançados da USP. Nesse contexto, ele enxerga que a missão da universidade é compreender o mundo, buscar formas de transformá-lo e, ainda mais importante, refletir que rumo essas mudanças devem tomar.

“A pandemia nos iguala como seres humanos, ao mesmo tempo que expõe radicalmente nossas desigualdades. É um momento difícil em que todos temos que nos reinventar e vai deixar um aprendizado importante”, completa.

A universidade do futuro não vai chegar de surpresa. “Os desafios já estão bem sinalizados, alguns têm uma amplitude mais global, outros são mais particulares, como a realidade brasileira, mas a universidade do futuro já começou”, afirma Márcio Fonseca, da PUC.

Na quarta-feira (10), o webinário termina com um debate sobre a diversidade nas instituições de ensino. O evento é organizado pela Folha e conta com o patrocínio da PUC-SP.

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