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Coronavírus

Municípios com atenção primária forte fazem a diferença na pandemia

Passada esta crise sanitária, muitas coisas em saúde pública precisarão ser repensadas

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São Paulo

Os hospitais e suas UTIs têm aparecido como os principais protagonistas do cuidado dos pacientes com Covid-19, mas uma atenção primária à saude (APS) bem estruturada também faz toda a diferença no controle da pandemia de coronavírus nos municípios brasileiros.

Uma vigilância atenta para frear novos casos da doença, a partir de testagem, isolamento do infectado, rastreamento das pessoas com as quais ele teve contato, o cuidado dos doentes com sintomas leves, e a continuidade da atenção aos pacientes crônicos, às grávidas e aos bebês, entre outros, são apenas alguns dos seus atributos neste momento.

Municípios com uma APS forte, com uma boa cobertura do programa Estratégia Saúde da Família, por exemplo, conseguiram rapidamente se organizar, separando fluxos de pacientes com suspeita de Covid daqueles com outras queixas.

Os que não estavam estruturados para isso, por exemplo, que possuem unidades pequenas e precárias, simplesmente fecharam os serviços devido ao risco de contaminação.

No trabalho de campo, as equipes de saúde que tinham suas listas de pacientes organizadas e experiência em trabalho a distância conseguiram manter o monitoramento por meios virtuais. Os que não estavam organizados para isso, interromperam as atividades.

A Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e o Ministério da Saúde vão premiar as melhores iniciativas de APS durante a pandemia. Entre elas, há cidades com amplos programas de testagem, como São Caetano do Sul (SP).

Em Belo Horizonte (MG), foi elaborada uma lista com dados dos pacientes crônicos mais complexos e distribuída a todas as equipes de saúde da família. Dependendo de condição do doente, ele passa por consulta a distância ou é orientado a uma presencial.

Alguns estudos já tentam mensurar, ainda que com limitações, a eficiência desses municípios mostrando que onde existe uma APS forte, houve uma menor taxa de mortalidade por Covid-19.

Um trabalho publicado pela Fiocruz comparou o número de óbitos por 100 mil habitantes até o início de julho. Mato Grossso do Sul e Santa Catarina tiveram taxa de mortalidade de 4,1 e 5,3 respectivamente. Nesses estados, há formação, residência médica em saúde da família, por exemplo.

A taxa média de mortalidade no país foi de 30,6. Estados em que os sistemas de saúde colapsaram, como Ceará, Amazonas e Rio de Janeiro, tiveram indicadores de 70,2, 70,4 e 61,5.

Uma das hipóteses é que os melhores desempenhos não só estejam relacionados às respostas rápidas e efetivas no enfrentamento da pandemia mas também porque as populações dessas localidades estejam mais bem cuidadas, com doenças mais bem controladas. A ver.

Segundo os especialistas em medicina intensiva, um dos fatores que explicam a diferença das taxas de mortalidade por Covid-19 entre hospitais públicos e privados é justamente a gravidade com esses pacientes já chegam aos hospitais, muitas vezes associada a doenças crônicas descompensadas ou porque houve demora no encaminhamento.

Localidades com uma boa organização dos serviços de saúde conseguem detectar precocemente os casos mais graves, encaminhando-os mais rapidamente para internação.

A APS seguirá sendo fundamental no pós pandemia. Tanto no cuidado das doenças negligenciadas no período, por falta de acesso ou de medo das pessoas de procurarem o serviço de saúde, quanto nas novas que eventualmente surgiram neste período.

Está prevista uma avalanche de problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade. Sem contar as mais de 100 mil famílias enlutadas que o país ganhou e não pode fechar os olhos para as eventuais consequências dessa dor.

Passada esta crise sanitária, há muitas coisas que precisam ser repensadas, como o orçamento federal da saúde. Hoje, 70% dele vai para alta complexidade, assistência hospitalar. Nos países desenvolvidos, com sistemas universais de saúde, esse gasto é inferior a 60%. O resto vai para a atenção primária.

Municípios que fizeram a diferença na pandemia têm muito a ensinar sobre as estratégias exitosas, muitas delas graças investimentos e treinamentos adequados na APS. E os gestores de saúde que não conseguiram o mesmo desempenho, muito a aprender.

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