'Nunca vou deixar de ter admiração', diz Doca Street sobre Ângela Diniz

Em entrevista ao podcast 'Praia dos Ossos', o ex-playboy lembra detalhes do assassinato da então namorada; crime provocou movimento feminista

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São Paulo

Linda, corajosa e uma mulher que fazia o que queria. É dessa forma que o ex-playboy Raul Fernando Doca Street, 85, descreve a socialite mineira Ângela Diniz, a mulher que ele matou com quatro tiros no rosto no dia 30 de dezembro de 1976, em Búzios (RJ).

Doca é entrevistado no episódio 6 do podcast "Praia dos Ossos", da Rádio Novelo, que remonta em oito capítulos o crime famoso e reflete sobre a condição da mulher no Brasil da década de 1970.

O ex-playboy deu uma entrevista de duas horas e meia para as produtoras do projeto, Flora Thomson-DeVeaux e Branca Vianna, no apartamento de um amigo dele, que o convenceu a conversar sobre o caso.

Reticente no início, Doca disse que não gosta de falar sobre Ângela porque sempre fica emocionado e pediu respeito à memória da socialite.

"Angela é mito", afirmou. "Nunca vou deixar de ter admiração".

O podcast tem o nome da praia onde o crime aconteceu após uma discussão entre os dois. Além da violência e do fato de eles serem famosos, o caso ganhou notoriedade devido ao viés machista que marcou o primeiro julgamento do neto do empresário Jorge Street.

A tese de "legítima defesa da honra" foi usada pelo advogado Evandro Lins e Silva no primeiro julgamento, em 1979. Doca foi condenado a dois anos de prisão e, como réu primário, cumpriu a pena em liberdade.

O caso provocou um movimento feminista para combater a violência contra a mulher e, em um segundo julgamento, em 1981, ele foi considerado culpado e recebeu pena de 15 anos.

Na entrevista, Doca contou que não gostou da forma como Ângela foi tratada no julgamento. "A moça estava morta, não tinha como se defender", disse. No entanto, as entrevistadoras lembram que no livro "Mea Culpa - O Depoimento que Rompe 30 anos de Silêncio", ele conta ter conversado sobre a estratégia com seu advogado.

Segundo a entrevista, o crime aconteceu durante uma discussão entre os dois.

"Ela atirou a minha bolsa na minha cara, o revólver caiu, já levantei atirando". Doca andava armado, mas não soube explicar o motivo de carregar sempre um revólver. "Acabei com a vida dela e com a minha."

De acordo com ele, havia a intenção de morar em Búzios, na casa em que Ângela foi assassinada e onde os dois passariam a virada do ano. Os dois eram apaixonados, segundo Doca, mas brigavam muito. O livro que escreveu descreve cenas de violência, em geral causadas por ciúmes.

"Praia dos Ossos" reconstitui toda a trajetória de Ângela Diniz, famosa pelo apelido 'Pantera de Minas", por meio de arquivos da imprensa da época e de depoimentos de amigos.

Os episódios do podcast são lançados semanalmente. No primeiro, que foi ao ar em setembro, a copeira Ivanira Gonçalves de Souza, testemunha do crime, conta como foi a briga que terminou em tiros e na morte da socialite.

"Foi tiro para tudo quanto foi lado."

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