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Podcast 'Praia dos Ossos' triunfa ao analisar o que é ser mulher no Brasil

Nova série prova que Rádio Novelo é talvez a maior especialista no formato atualmente

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São Paulo

Praia dos Ossos

  • Onde Primeiro episódio disponível nas principais plataformas de podcast

A divulgação anuncia o lançamento de um podcast policial. Certamente já salivam os fãs de sucessos como “Caso Evandro”, sobre o assassinato de um menino no sul do país em 1992, e “Serial”, o mais famoso podcast americano, que fala da misteriosa morte de uma jovem de 18 anos. Só que esse novo programa policial não é como os outros.

“Praia dos Ossos”, que a Rádio Novelo acaba de estrear, pode até contar a história de um crime, mas seu objetivo é ir além. Ao remontar a morte da socialite mineira Ângela Diniz, as criadoras do projeto até querem falar da fatídica noite do assassinato, mas almejam essencialmente analisar o que é ser mulher no Brasil.

Diniz foi morta na noite de 30 de dezembro de 1976, em Búzios, no litoral fluminense, na casa em que morava havia poucos meses com o namorado, Doca Street, uma figura também comum em colunas sociais da época. A propriedade ficava na praia que dá nome ao podcast.

A única testemunha do crime, ainda viva, é uma das boas surpresas já no primeiro episódio de “Praia dos Ossos”, que terá ao todo oito capítulos, lançados a cada semana.

A copeira Ivanira Gonçalves de Souza trabalhava para a família que vivia ali antes e acabou “herdada”, com outros funcionários, pelo casal Ângela e Doca. Ela conversa com a produtora Flora Thomson-Deveaux, americana radicada no Rio de Janeiro, e com a carioca Branca Vianna, fundadora da Rádio Novelo e apresentadora deste e de outro podcast, o “Maria Vai com as Outras”.

Souza conta detalhes da noite em que Doca Street agiu como fazia com frequência, sempre que brigava com a namorada –ele arrumou uma mala, entrou no carro e ficou esperando até que Diniz o impedisse de ir embora com beijos, abraços e o convite para remediar a briga com sexo.

“Dessa vez, a tática não fez efeito”, lembra a narração. Esperando na esquina da casa, Street se deu conta de que a namorada não o iria buscar de volta. Retornou, então, à propriedade, retomou a discussão e puxou da bolsa uma pistola.

“Aí foi tiro para tudo quanto foi lado”, diz a copeira. E, assim, o que poderia ter sido só mais um rompimento de um relacionamento amoroso, se Street tivesse ido embora de vez, se transformou numa das histórias de violência mais famosas da história brasileira.

“Praia dos Ossos” mostra justamente o porquê de um crime idêntico a tantos outros —que infelizmente acontecem todos os dias— ter se mantido tão vivo na memória das pessoas. E o motivo é Doca Street ter se tornado a grande vítima do crime, nos três anos que se passaram entre o fato e seu julgamento.

A morte da “Pantera de Minas” acabou retratada na época quase como um destino inevitável a uma mulher livre, bonita e feliz. Essa análise foi comprada inclusive pela imprensa, que a propagou em matérias de um machismo surreal, recuperadas agora pelo podcast.

Com uma estética irretocável, “Praia dos Ossos” mostra que a Rádio Novelo é talvez a maior especialista no formato atualmente. A edição sonora se vale de efeitos como a sobreposição de falas e sons para preencher a ambiência de modo elegante e confortável.

O volume das captações é uniforme, algo surpreendente dada a variedade de fontes usadas para os depoimentos –entre elas, falas de amigos da vida toda de Ângela Diniz, que identificam que, por trás de sua aparência esfuziante, havia também bastante tristeza.

Destaque, ainda, para a boa solução em relação ao problema da falta de arquivos de rádios da época, pedindo a um narrador que leia em voz alta as manchetes dos principais jornais.

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