Descrição de chapéu Obituário Cadu Barcellos (1986 - 2020)

Mortes: Da Maré a Cannes, Cadu voou longe com 'sorrisão de orelha a orelha'

Cineasta de '5x Favela' deixa mulher, filho e 'amigos órfãos de uma pessoa transformadora'

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Rio de Janeiro

Com "Deixa Voar", Cadu Barcellos voou longe. Até Cannes, onde apresentou, no mais famoso festival de cinema do mundo, esse seu curta, parte de "5x Favela - Agora Por Nós Mesmos", coordenado por Cacá Diegues.

Cadu soltou pipa na Côte d'Azur e, quando ele e a equipe do filme esticaram a viagem para Paris, dançou funk em frente à Catedral de Notre-Dame.

O mundo era pequeno para o menino do Complexo da Maré que cresceu tendo como modelo a mãe, ativista social.

Cadu Barcellos em Cannes, onde apresentou seu curta “Deixa Voar”, em 2010
Cadu Barcellos em Cannes, onde apresentou seu curta “Deixa Voar”, em 2010 - Arquivo pessoal

O filho de dona Neilde ajudou a criar o canal de mídia comunitária Maré Vive e se formou na Escola Popular de Comunicação Crítica, do Observatório de Favelas, e na Escola de Cinema Darcy Ribeiro.

Conheceu 12 países e "carregou a camisa do Flamengo para tudo o que é lugar", lembra William Oliveira, que sempre assistia às quartas-feiras de futebol com o amigo.

"Carioca, flamenguista, cineasta, pai, produtor, não necessariamente nesta ordem", como ele se descrevia, não basta.

Cadu foi também bailarino do Corpo de Dança da Maré, produtor do grupo de pagode No Lance, assistente de direção do Porta dos Fundos e, atualmente, do Greg News, do colunista da Folha Gregorio Duvivier.

Nas reuniões com a equipe do programa, feitas pelo Zoom na pandemia, ele vinha com o "sorrisão de orelha a orelha, o 'dreadzão' sempre pro alto e o filho a tiracolo", conta Duvivier.

"Se eu sumir, é porque estou tirando o Bernardo de cima do armário", ele brincava sobre o pequeno alpinista de dois anos.

A Roberta Rodrigues, atriz em "5x Favela", dizia que quem veio da periferia tinha um elo especial. Em Cannes nasceu entre eles a amizade e o bordão "eu vejo você", saudação entre personagens de "Avatar", a megaprodução com seres azuis de James Cameron que os dois adoravam. "Era essa conexão de se reconhecer. A gente sempre se viu."

"É louca essa vida, porque ele partiu por um ato tão violento", diz a amiga sobre o assassinato do cineasta. "De repente alguém que pode não ter tido oportunidade de ter vida digna e nem sabia o quão grande era o Cadu. Somos órfãos de uma pessoa transformadora."

Cadu morreu aos 34 anos, cinco meses após compartilhar nas redes sociais uma foto com Gabriela Alves, sua esposa, e o filho deles, que legendou assim: "Feliz Dia dos Namorados… com um infiltrado rs. Amo vocês!". Seus amigos criaram um fundo para ajudar nos custos educacionais de Bernardo.

"Obrigada por me dar a melhor coisa da minha vida", escreveu Gabriela sob uma foto sua com o cineasta. "Deixa comigo que ele saberá quem foi o pai dele."

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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