Se foi da parte da polícia, será descoberto, diz governador interino sobre morte de meninas no RJ

Rebeca, 7, e a prima Emily, 4, foram baleadas enquanto brincavam na porta de casa em Duque de Caxias

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Jefferson Barbosa
Duque de Caxias (RJ)

O governador interino do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, disse que vai pedir transparência total nas investigações, mesmo se o autor do disparo que matou Rebecca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, e Emily Victória Silva dos Santos, 4, for um policial. Elas foram baleadas enquanto brincavam na porta de casa na noite de sexta (4), em uma comunidade conhecida como Barro Vermelho, em Duque de Caxias (RJ).

Castro recebeu nesta segunda-feira (7) familiares das vítimas, entre eles Maycon Douglas Moreira Santos e Lidia da Silva Moreira, pai e avó de Rebecca, respectivamente. A reportagem da Folha acompanhou a visita sem se identificar.

"[Queremos] transparência total de todos os exames balísticos. Vamos fazer com transparência total para saber de que arma que foi, quem estava apontando. Se foi da parte da polícia, será descoberto; se não foi, a gente vai caçar quem foi", disse Castro à família.

Mãe de Emily Victoria Silva dos Santos, 4, fala em protesto após a morte da menina, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense - Nicola Pamplona / Folhapress

Familiares cobraram investigação pela autoria dos disparos. "A minha filha foi baleada e a gente quer o culpado, é o mínimo. A gente paga imposto pra isso. A gente só quer justiça, reparação, só isso, até porque reparação mesmo ninguém vai poder dar. Era minha filha, minha única filha", disse o pai de Rebecca.

A avó fez um desabafo a Castro pedindo por justiça aos que morrem baleados no estado do Rio. "A minha palavra para esta tarde é basta. Basta de matar nossas crianças. Basta de matar nossos jovens. Basta de matar os trabalhadores que saem para trabalhar para buscarem o sustento para suas casas e é alvejado porque alguém passou de moto lá do outro lado e talvez é um bandido, então eu vou atirar. Basta. Chega. A gente está cansado", disse ela.

Emily Victória, 4, e sua prima Rebeca Beatriz, 7, foram baleadas na comunidade do Barro Vermelho, em Duque de Caxias; Emily está à esquerda, usa óculos de brinquedo vermelhos, gigantes para seu rosto, e olha para fora do quadro; do lado direito, Rebeca olha para a câmera, de vestido estampado de azul e branco; ao fundo uma parede sem reboco
Emily Victória, 4, e sua prima Rebeca Beatriz, 7, foram baleadas na comunidade do Barro Vermelho, em Duque de Caxias - Reprodução TV Globo

Em nota, a Polícia Militar afirmou que policiais estavam em patrulhamento quando ouviram tiros naquela região. "Não houve disparos por parte dos policiais militares. A equipe seguiu em deslocamento", afirma.

Ainda segundo a corporação, um procedimento de apuração será instaurado e, paralelamente, haverá investigação da Polícia Civil. Os policiais foram encaminhados para prestar depoimento e as armas foram apresentadas na delegacia.

Nesta segunda-feira, em entrevista ao Bom Dia Rio, da TV Globo, a porta-voz da PM Gabriela Dantas disse que é leviano levantar a suspeita de que a morte das meninas tenha relação com o deslocamento dos policiais.

Familiares das duas primas mortas baleadas estiveram também na tarde desta segunda-feira reunidos com membros da Defensoria Pública do Rio, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio e a OAB.

Segundo moradores ouvidos pela reportagem, não havia troca de tiros no momento da morte das meninas. Estiveram na Defensoria a mãe de Emilu, Ana Lucia da Silva Moreira, além de Maycon e Lidia. "Como você pode proibir uma criança de brincar no portão de casa? São crianças sendo crianças", disse a avó de Rebecca.

Ela conta que, quando chegava em casa na sexta, por volta das 20h30, viu a viatura da polícia passando pela região. Ao entrar na rua onde mora, já encontrou as duas meninas baleadas. Emily e Rebecca ainda foram levadas pela família para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Sarapuí, mas não resistiram.

Nesta segunda, a Polícia Civil ouviu Alexsandro Santos, pai de Emily, e dois tios de Maycon. Eles prestaram depoimentos por três horas no final da tarde na Delegacia de Homicídios da Baixada. Na terça-feira (7) serão ouvidos o pai e a avó de Rebecca e a mãe de Emily, acompanhados de defensores públicos.

Representantes da Defensoria Pública e a Comissão de Direitos Humanos querem cobrar do governo uma investigação rigorosa e reparação para a família.

“Não teve perícia ainda e os depoimentos nem foram colhidos. O ideal era que essa perícia acontecesse no dia que ocorreram os fatos ou no dia seguinte com a presença de testemunhas que estavam no local pra poder mostrar como é que foi a dinâmica dos fatos”, afirma Rodrigo Mondego, presidente da comissão de direitos humanos da OAB.

Para ele, a realização da perícia alguns dias depois, sem a participação dessas pessoas, dificulta a resolução do caso porque se perdem provas que poderiam ajudar a elucidar o crime.

A Polícia Civil afirmou que os cinco agentes que participaram da ação foram ouvidos e tiveram suas armas apreendidas para realização de confronto balístico. Ao todo, cinco fuzis e cinco pistolas serão analisados, segundo a corporação.

Na tarde de domingo (6), moradores da comunidade onde viviam as meninas e integrantes do movimento negro fizeram protesto no centro de Duque de Caxias para cobrar por Justiça.

Colaborou Renato Silva

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