Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Duas crianças são mortas em tiroteio na Baixada Fluminense

Emily, 4, e Rebeca, 7, brincavam na porta de casa quando foram atingidas

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Túmulos de Emily Victória, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, em cemitério de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense; são dois túmulos de gaveta, lado a lado, caiados, fechados com cimento fresco no qual se escreveu o nome das meninas

Túmulos de Emily Victória, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, em cemitério de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense Divulgação ONG Rio de Paz

Rio de Janeiro

Duas crianças morreram após serem baleadas durante tiroteio na noite desta sexta (4) em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Emily Victória Silva dos Santos, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, brincavam na porta de casa quando foram atingidas.

Elas foram levadas por moradores para uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) na região, mas, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, já chegaram mortas ao local. Emily foi baleada na cabeça e Rebeca, no tórax.

As duas eram primas. A família diz que a polícia estava envolvida na troca de tiros, o que a corporação nega. Segundo eles, os policiais teriam atirado contra dois homens que estavam em uma moto.

Em nota, a Polícia Militar diz que uma equipe fazia patrulhamento na região quando foram ouvidos disparos de armas de fogo, mas que "não houve disparos por parte dos policiais militares".

Emily Victória, 4, e sua prima Rebeca Beatriz, 7, foram baleadas na comunidade do Barro Vermelho, em Duque de Caxias; Emily está à esquerda, usa óculos de brinquedo vermelhos, gigantes para seu rosto, e olha para fora do quadro; do lado direito, Rebeca olha para a câmera, de vestido estampado de azul e branco; ao fundo uma parede sem reboco
Emily Victória, 4, e sua prima Rebeca Beatriz, 7, foram baleadas na comunidade do Barro Vermelho, em Duque de Caxias - Reprodução TV Globo
"Esses policiais causaram uma tragédia em nossa família. Que preparo é esse que eles têm? O que vemos é os bandidos crescerem e nossas crianças morrerem. Vamos correr atrás por justiça", disse o pai de Rebeca, Maycon Douglas Moreira Santos.
A avó da menina, Lídia da Silva Moreira Santos, conta que chegava do trabalho quando viu a Emily baleada na cabeça e sem vida. Entrou em casa e viu Rebeca no chão. Ao perceber que a neta ainda respirava, ela fez o socorro e a levou para a UPA do bairro Sarapuí.

"Que ser humano é esse que atira em crianças brincando na porta de casa? Nada vai trazer elas de volta, mas queremos justiça. A nossa vida acabou. Moramos neste local há 19 anos e nunca vi isso acontecer", lamentou Lídia.

De acordo com os familiares das crianças, nenhum representante do governo estadual entrou em contato com a família para falar sobre o caso.

A PM diz que o 15º BPM (Batalhão de Polícia Militar) foi acionado depois para verificar a entrada de duas pessoas feridas na UPA. No local, foi constatado que tratava-se de duas crianças.

A Polícia Civil disse que o caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense. "Os cinco policiais militares que estavam na região foram ouvidos e tiveram cinco fuzis e cinco pistolas apreendidas para realização de confronto balístico", afirmou a corporação.

Os corpos de Emily e Rebeca foram sepultados lado a lado neste sábado, no cemitério Tanque de Anil, em Duque de Caxias, sob aplausos e gritos de “justiça”.

Uma criança morta ao mês

Segundo a Rio de Paz, que acompanha casos semelhantes desde 2007, já são 12 os casos de crianças mortas por armas de fogo no estado este ano, uma por mês, em média.

A primeira foi Anna Carolina de Souza Neves, 8, atingida por uma bala perdida na cabeça no sofá de casa em Belford Roxo, na região metropolitana​, em 9 de janeiro. Vinte dias depois, foi a vez de João Vitor Moreira dos Santos, 14, também baleado na cabeça quando voltava de uma festa com a família no bairro Vila Kosmos, zona norte do Rio.

Em 6 de fevereiro, Luiz Antônio de Souza Ferreira da Silva, 14, foi atingido na perna assim que saiu de uma consulta no psicólogo com a mãe adotiva em São João de Meriti, também na região metropolitana, e morreu no dia seguinte.

Um dos casos que causaram maior comoção foi o do menino João Pedro Mattos, 14. Ele foi baleado nas costas dentro da casa de seus tios durante uma operação, no dia 18 de maio. Os três policiais que fizeram a incursão dizem que houve troca de tiros com bandidos que fugiram pelo muro, mas os primos de João afirmam que não havia bandidos e que os agentes chegaram atirando.

“Sempre que essas mortes ocorrem pensamos que tudo vai mudar, uma vez que a face mais hedionda da criminalidade no Rio é a morte por bala perdida desses meninos e meninas", disse o presidente da ONG Rio de Paz, Antonio Carlos Costa.

"Contudo, nada muda. Famílias permanecem desamparadas, a autoria dos homicídios não é elucidada, os assassinos não são punidos e nenhuma transformação ocorre na política de segurança pública. Vale lembrar que quem morre são crianças pobres. Nisso reside a razão da indiferença por parte das autoridades públicas”, completou.

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