Descrição de chapéu Obituário Jaime Alves Conserva (1922 - 2021)

Mortes: Símbolo do Carnaval do sertão de Pernambuco morre de Covid-19

Mestre Jaime criou a Bicharada, que desfila no interior do estado desde 1946

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Recife

Uma vida dedicada ao Carnaval de rua. Jaime Alves Conserva, 98, o mestre Jaime, criou um reino de animais gigantes feitos à base de papelão e virou símbolo da folia no sertão pernambucano.

Alfaiate de ofício, era também artista plástico e seresteiro. Morreu nesta segunda-feira (4), em Salgueiro (513 km do Recife), em decorrência de complicações da Covid-19.

Tudo começou de uma brincadeira com o irmão mais velho. Resolveram fazer máscaras com argila e papel de jornal. Nascia o bloco Calça Frouxa.

Mestre Jaime ao lado de boneco gigante feito em sua homenagem
Mestre Jaime ao lado de boneco gigante feito em sua homenagem - Ricardo Moura/Fundarpe


Depois transformou-se na famosa Bicharada, que animava as ruas de Salgueiro desde 1946 todo domingo e terça-feira de Carnaval. Ele mesmo fazia as marchinhas. Nos últimos anos, o desfile reunia cem bonecos.

"Olha a cobra, olha o jacaré, olha o homem do espaço atrás de mulher/ No Calça Frouxa tudo é legal, tem Mestre Jaime que é o maioral/ E a Bicharada que brinca o Carnaval”, diz uma das músicas da agremiação.

Com o passar dos anos, bonecos com rostos de pessoas anônimas foram se incorporando aos bichos criados por ele.

“No começo, era girafa, jacaré, boi. Só animal que ele fazia”, explica Allan Kardec Tavares Conserva, um dos nove filhos do carnavalesco.

Mestre Jaime sempre cuidou de todos os detalhes. Nos últimos três carnavais, devido à idade avançada, desfilou em um carro aberto adaptado para ele.

“Mas até os 95 anos, seguiu dando uns pinotes na rua mesmo. Tinha muita saúde a alegria”, conta Kardec.

O sorriso dourado era a marca registrada. Exibia com orgulho a dentadura banhada a ouro.

“Sempre teve um espírito boêmio. A chapa era de ouro. Ele cuidava de todos os detalhes, confeccionava tudo. Colocava a flor no paletó, o cordão no pescoço e estava pronto”, relembra o filho.

Em 2010, foi o grande homenageado do Carnaval de Pernambuco. Ganhou um boneco gigante para reverenciá-lo assinado pelo artista plástico Sílvio Botelho.

“Neste momento de tristeza, quero manifestar minha solidariedade aos seus familiares e amigos, e também ao povo de Salgueiro”, lamentou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB).

Ele morava na casa de um dos filhos, em Salgueiro. No sábado (2), reclamou de uma dor de garganta. “A saúde dele era muito boa. Não tinha nada. Levamos para o hospital e detectaram a Covid. Morreu dois dias depois”, relata Kardec.


Mestre Jaime sempre pediu para que, quando ele morresse, tivesse um desfile na cidade com orquestra de frevo e o povo bebendo no meio da rua.

Devido aos protocolos da Covid, o desejo foi adaptado pelos filhos. Um carro de som com o boneco dele percorreu as principais ruas da cidade tocando frevos antes do sepultamento.

“Passamos por todas as ruas que ele queria. Das casas, o povo acenava. Foi muito emocionante”, conta Kardec.

Mestre Jaime deixa 9 filhos, 9 netos e 15 bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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