Descrição de chapéu Coronavírus

Com filas de até uma hora, postos de SP têm corrida por doses da Pfizer

É recomendável evitar os primeiros horários da manhã e fazer cadastro prévio; secretaria de Saúde diz que todas as vacinas aprovadas são eficazes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Antes de enfrentar a fila da vacinação contra Covid-19, que em alguns postos de saúde da capital paulista levava até uma hora na manhã desta sexta-feira (21), boa parte das pessoas faz a mesma pergunta aos funcionários: “Tem vacina da Pfizer?”.

A preferência pelo imunizante desenvolvido pelo laboratório norte-americano e pela empresa alemã BioNTech já havia sido notada pelas equipes de saúde logo após a chegada do primeiro lote, no início do mês, mas tornou-se bem mais frequente nesta semana.

O motivo, segundo trabalhadores da saúde e pessoas elegíveis à vacinação, é a rejeição à vacina Oxford/AstraZeneca. Relatos de reações adversas como a trombose —ainda que extremamente raros— teriam colocado em alerta quem tem alguma doença do sistema circulatório.

Além disso, muitos procuram a vacina norte-americana pela alta taxa de eficácia (95%) e por ela ser uma das que seriam incluídas em um possível passaporte Covid em países como os EUA, que não aprovaram as vacinas Coronavac e da AstraZeneca.

A resistência à vacina britânica ficou ainda maior após o Ministério da Saúde suspender, no último dia 11, a aplicação de doses da Oxford/AstraZeneca a grávidas e puérperas (que deram à luz há menos de 45 dias).

A decisão foi tomada como precaução após a morte de uma gestante do Rio de Janeiro que havia tomado a vacina e teve caso suspeito de síndrome de trombose com trombocitopenia (baixa quantidade de plaquetas no sangue), quadro extremamente raro e cuja relação com a vacina é investigada.

A Folha esteve em cinco pontos de vacinação, em quatro regiões da cidade, na manhã desta sexta-feira e em todos encontrou pessoas recusando doses da Oxford/AstraZeneca, muitas alegando orientação médica.

Atualmente, além de pessoas acima de 60 anos, estão sendo imunizadas as com comorbidades e deficiências permanentes acima de 45 anos, grávidas e puérperas com comorbidades com mais de 18 anos, profissionais autônomos de saúde acima dos 30 anos e profissionais dos transportes.

A designer Nataly Arruda, 27, desistiu de se vacinar na UBS Doutor Manoel Joaquim Pera, na Vila Madalena (zona oeste de SP), ao saber que não havia o imunizante da Pfizer.

“Tenho problemas respiratórios e tendência a desenvolver coágulos e minha médica disse para eu não tomar a vacina de Oxford por causa dos casos de trombose. Para mim só serve Pfizer ou Coronavac, mas Pfizer não tem e Coronavac, só para segunda dose”, disse.

Ela tenta desde segunda-feira (17) se vacinar, mas não tem encontrado o imunizante norte-americano. “Vou ligar para a minha médica e ver o que ela diz, porque eu tenho medo dos efeitos colaterais.”

Em uma via-crúcis pela vacina da Pfizer, a farmacêutica Tracy Gajardo, 32, já tinha ido a diversas unidades de saúde, sem sucesso.

“Eu já tive trombose e o meu ginecologista e o meu vascular disseram para não tomar AstraZeneca. Como estou trabalhando em casa, consigo esperar”, disse.

Ela relata que na quarta-feira (19) ficou na fila do drive-thru do Allianz Parque por duas horas, mas, faltando alguns carros para chegar sua vez, as doses da Pfizer acabaram. “Quando anunciaram [que as doses haviam terminado], muitas pessoas saíram da fila. Aí vi que não sou só eu que estou procurando.”

A capital paulista recebeu dois lotes com imunizantes da Pfizer, totalizando 409 mil doses. A previsão é que o país receba 100 milhões de doses até setembro e outro lote, com mesma quantidade, até dezembro deste ano.

Na UBS Mooca (zona leste de SP), havia doses da Pfizer, mas somente para gestantes. A médica Ana Maria Serie, 56, contou que havia tentado tomar a dose do laboratório norte-americano na unidade no início da semana, mas não tinha disponível.

“Eu questionei a gerente por que não podia escolher qual vacina queria tomar, já que pago meus impostos, e ela me mostrou um papel com as orientações da Secretaria da Saúde. Eu sou médica, já tive trombose, e não ia tomar essa da AstraZeneca. Nem a Coronavac. Não quero uma vacina com 50% de eficácia”, reclama.

A médica, então, disse ter conseguido tomar a dose da Pfizer em um posto volante na agência do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), no último dia 17.

O presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, Bruno de Lima Naves, reprova qualquer orientação para que pacientes, com exceção de gestantes e puérperas, não tomem doses da Oxford/AstraZeneca.

“A probabilidade de ter trombose tomando vacina é muito rara. Já a trombose em casos de Covid pode ocorrer em 16,5% dos casos. Então, se a pessoa tem alguma predisposição a ter trombose, ela deve temer a Covid e não a vacina.”

Naves ainda explica que os casos raros de trombose associados à vacina britânica ocorrem em razão de uma reação alérgica, que diminui as plaquetas do sangue e causa trombos em veias do cérebro e do intestino. “A formação é completamente diferente da de um coágulo, como ocorre na trombose mais comum.”

Apesar de a busca pelas doses da Pfizer ter aumentado, funcionários dos postos de saúde afirmam que a maioria da população tem aceitado tomar as vacinas disponíveis e a maioria comemora a imunização.

É o caso da educadora Valéria Peres, 52, que se vacinou na UBS Meninópolis, no Brooklin (zona sul de SP), nesta sexta. “Eu tenho asma e estou há mais de um ano confinada em casa, morrendo de medo de ter essa doença. Não vejo a hora de ficar protegida”, disse.

Já a nutricionista Mariah Caldo, que acabou de completar 30 anos e pôde se imunizar por ser profissional da saúde, não escondia a alegria após tomar a primeira dose da Oxford/AstraZeneca no posto montado no Allianz Parque (na zona oeste de SP).

“Vacina boa, é vacina no braço. Só de não ter que ir parar num hospital se pegar Covid, já é ótimo. Não vejo a hora de poder viajar, retomar a vida. Só a vacina vai nos proporcionar isso.”

A Secretaria Municipal da Saúde, informou, por meio de nota, que todas as vacinas disponíveis foram aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e têm eficácia comprovada. Assim, a pasta “não aconselha o atraso na vacinação por conta da escolha de um imunizante”.

“O município dispõe de doses suficientes de imunizantes contra Covid-19 para vacinar o público elegível. No caso de falta momentânea de vacinas, é realizado o remanejamento/abastecimento de doses entre as unidades vacinadoras do município, de forma a garantir a continuidade da campanha sem interrupções”, diz trecho de nota enviada à Folha.

Fuja dos primeiros horários

Diante da ampliação dos grupos que podem ser imunizados na capital paulista, a melhor opção para escapar das filas nos pontos de vacinação é evitar os primeiros horários da manhã.

Essa concentração na busca pelas vacinas logo cedo ocorre, segundo funcionários, porque agora o público elegível é formado por pessoas que trabalham e preferem tomar a dose antes de iniciar o expediente.

Há ainda os que temem o fim do estoque de vacinas ao longo do dia, o que não costuma ocorrer, e optam por chegar antes da abertura dos postos, às 7h. Segundo um funcionário da UBS Meninópolis, isso tem acontecido mais com quem quer tomar a da Pfizer.

Outra dica para fugir da espera é evitar o primeiro dia de vacinação de novos grupos, aconselha funcionária da UBS Vila Anglo Doutor José Serra Ribeiro, em Perdizes (zona oeste).

Mas o que ainda tem sido o maior entrave para um atendimento mais rápido nas unidades de saúde é a falta do preenchimento do pré-cadastro no site VacinaJá. De acordo com funcionários, isso agilizaria em 90% o processo de vacinação.

Para tentar acelerar o processo no posto da Vila Madalena, uma funcionária usa um tablet para fazer o cadastro das pessoas que estão na fila. Já na Bela Vista, três equipes lançam os dados no site.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.