Covid gera recorde de internações e filas por UTI em região rica de SP

Mais longo lockdown no estado e até CPI fazem parte do dia a dia do combate à pandemia no entorno de Ribeirão Preto

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Ribeirão Preto

Mais de um ano após o início da pandemia, o cenário nunca foi tão crítico em uma das mais ricas regiões do país. Hospitais lotados, pacientes na fila de espera, lockdown e até uma CPI fazem parte da rotina de cidades da região de Ribeirão Preto.

Se antes as grandes capitais viveram colapso em suas redes de saúde devido ao aumento de casos do novo coronavírus, agora municípios do interior de São Paulo têm sentido os impactos da pandemia no dia a dia, como Batatais, Brodowski, Franca e Ribeirão Preto.

Um dia após o início da vigência de um lockdown de 16 dias, o mais longo já decretado no estado, Batatais alcançou o recorde mensal de casos de Covid-19, com 895 confirmações da doença, 84 delas apenas nesta segunda-feira (17), em uma escalada que, segundo a prefeitura, pode fazer a cidade ter só neste mês 1.790 casos.

O primeiro dia útil com lockdown, nesta segunda, foi marcado por ruas vazias em Batatais. A exceção foi o movimento em supermercados, que a partir de terça (18) deverão atender apenas para entregas.

Ruas como Coronel Joaquim Rosa, Doutor Leandro Cavalcanti e ladeira Doutor Mesquita, no centro, tiveram baixo fluxo de veículos e as poucas pessoas que por ali passaram estavam em busca de farmácias ou da agência local da Caixa —que manteve o atendimento ligado ao auxílio emergencial.

A praça central da cidade, que é estância turística, não tinha ninguém sentado nos bancos. Vazia também estava no decorrer do dia a avenida Prefeito Washington Luís, principal espaço público para a prática de caminhadas e corridas na cidade.

“É difícil encontrar uma pessoa que não tenha perdido alguém conhecido na cidade ou que não tenha alguém internado”, disse a comerciante Patrícia Silva, que apoia o fechamento do comércio local.

Imagem mostra lojas fechadas dos dois lados de rua no centro de Batatais. Ao fundo, o prédio da prefeitura
Com a prefeitura ao fundo, rua Doutor Leandro Cavalcanti, no centro de Batatais, ficou vazia nesta segunda-feira - Marcelo Toledo / Folhapress

Os casos estão em alta na cidade desde fevereiro, quando foram registrados 417 diagnósticos da doença. O número saltou para 657 em março e 815 em abril.

As mortes chegaram a 107 na cidade de 62.980 habitantes, que tem ainda 1.116 pessoas em isolamento domiciliar ou à espera de resultados de exames.

A Santa Casa local opera com 100% de ocupação, tanto na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) quanto na enfermaria, e havia, nesta segunda, 17 pacientes à espera de uma vaga para internação. Desses, 11 estavam na UPA (Unidade de Pronto Atendimento), 4 no centro médico da Unimed e 2 no posto de atendimento da Santa Casa.

Com esse cenário, já há pacientes da cidade sendo transferidos para hospitais distantes até 122 km, caso de um paciente levado para a enfermaria do Hospital Estadual de Américo Brasiliense.

O índice de isolamento na cidade, porém, ficou em 55% neste domingo (16), o mesmo do domingo anterior, dia 9.

“Agora [com o lockdown], a expectativa a médio prazo é que essa curva possa ser reduzida de forma gradativa e, dessa forma, os serviços de saúde tenham condições de atender com maior rapidez todos os pacientes que necessitam de tratamento especializado”, diz comunicado da prefeitura.

A menos de 50 km de Batatais, Franca vive cenário semelhante. A cidade chegou a 51 pessoas aguardando no pronto-socorro Álvaro Azzuz uma vaga em hospitais, das quais 31 para UTIs, segundo a Secretaria da Saúde. Na última semana, eram 38 pessoas na fila de espera, o que mostra o avanço da doença na cidade.

Sem vaga em hospitais, 7 pessoas morreram no pronto-socorro num intervalo de seis dias na última semana. No local, elas receberam atendimento médico, mas o suporte dado não é o mesmo de uma UTI hospitalar.

Isso acontece porque a ocupação de leitos públicos de UTI também chegou a 100% no município, com as 59 vagas ocupadas. Os óbitos, até domingo, somavam 546.

Por isso, o prefeito Alexandre Ferreira (MDB) anunciou na tarde desta terça-feira (18) restrições que incluem o fechamento do comércio e dos shopping centers e a proibição de atendimento presencial em depósitos de bebida, lojas de conveniência, restaurantes e bares.

Na maior cidade da macrorregião, Ribeirão Preto, nesta segunda foi batido o recorde de pessoas internadas em UTIs com Covid-19, 295 no total, o que representou 95% de ocupação dos leitos intensivos.

Na rede pública, havia apenas 7 vagas livres na noite desta segunda, quando o total de internados, incluindo em enfermarias, chegou a 603.

A cidade ultrapassou, também, a marca de 2.000 mortes causadas pelo novo coronavírus na pandemia. Boletim epidemiológico divulgado nesta segunda mostrou que já são 2.008 óbitos, número que acelerou nas últimas semanas.

Ribeirão Preto chegou a mil mortes em janeiro e, em quatro meses, dobrou o total de óbitos.

Enquanto o vírus avança, Brodowski, que também vive caos com 20 pessoas internadas em seus leitos clínicos, 3 delas intubadas, começou a investigar, por meio de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), supostas fraudes na vacinação contra a Covid-19.

Uma listagem que está nas mãos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e do Ministério Público Estadual aponta inicialmente que familiares de políticos e de profissionais da saúde da cidade, idosos com 121 anos e até cinco pessoas apontadas como mortas estão numa lista de quem foi imunizado contra a doença na cidade.

A Promotoria deve começar a ouvir nesta semana os depoimentos de pessoas que estão na lista, que inclui ainda pessoas de 20 anos cadastradas como idosos. No total, há cerca de 200 irregularidades apontadas pela OAB. A prefeitura nega irregularidades e diz que, em muitos casos, há falhas no preenchimento das planilhas.

Mas, esteja em Batatais, Brodowski ou Franca, paciente que precisar de um leito hospitalar, principalmente de UTI, enfrentará dificuldades nas cidades mais próximas.

Em Sertãozinho, distante 20 km de Ribeirão Preto e segunda mais populosa da região metropolitana, com 127 mil habitantes, havia apenas 2 leitos dos 23 de UTI disponíveis na noite desta segunda—em um dia em que 4 pessoas morreram, 3 delas internadas na cidade.

Já em Jaboticabal, havia apenas uma vaga disponível, já que 12 das 13 existentes eram ocupadas por pacientes com o novo coronavírus.

Bebedouro é outra cidade da macrorregião de Ribeirão que decretou lockdown, válido a partir desta quinta-feira (20) e com vigência até o dia 30. Assim como em Batatais, inclui o fechamento de supermercados.

“Entendemos que neste momento não temos outra saída. Os números vêm crescendo, não apenas em Bebedouro, mas em toda a região”, disse o prefeito Lucas Seren (DEM).

Ele disse, no anúncio do lockdown, que a região tem uma fila de 38 pessoas à espera de um leito de UTI e que até mesmo leitos de enfermaria começam a faltar.

Serão suspensos o funcionamento de clubes, academias, salões de beleza, templos religiosos e escritórios, além de vetar a venda de bebida alcoólica a partir de quinta. Restaurantes e bares poderão apenas atender via delivery.

Os supermercados serão fechados, porém a partir de segunda-feira (24). O funcionamento será permitido até a véspera, segundo o prefeito, para evitar que as pessoas lotem as lojas para fazerem suas compras.

“Pedimos encarecidamente a todos que saiam de casa realmente para o necessário.”

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