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Ministério da Saúde restringe vacinação de grávidas a Coronavac e Pfizer e em caso de comorbidades

Decisão de suspender uso da vacina AstraZeneca para o grupo ocorre após recomendação da Anvisa; pasta decide interromper temporariamente vacinação de grávidas sem comorbidades

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Brasília

O Ministério da Saúde decidiu suspender temporariamente o uso da vacina AstraZeneca/Oxford em gestantes e puérperas no país após recomendação similar da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A orientação da agência é para que a indicação da bula seja seguida —nela não consta o uso do imunizante em mulheres grávidas.

A pasta também vai interromper, temporariamente, a vacinação de todas as gestantes que não tenham comorbidades. Agora, a imunização deve ser seguida apenas para gestantes que tenham doenças preexistentes e com doses das vacinas da Pfizer e Coronavac.

Segundo a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Francieli Fontana, a medida ocorre como precaução em meio à investigação de um óbito por AVC (acidente vascular cerebral) em uma gestante de 35 anos que recebeu a vacina no Rio de Janeiro. A relação deste caso com a vacina, porém, ainda não foi comprovada.

"É uma cautela que o PNI tem até o fechamento do caso e [para] verificar o cenário epidemiológico em relação à vacina ", afirma a coordenadora.

Fontana diz que a pasta foi notificada sobre o caso na sexta (7) e tem feito reuniões desde então para discutir o tema, mas ainda faltam detalhes em relação a exames laboratoriais para concluir a investigação.

Ela afirma que não houve outros registros de casos semelhantes até o momento e que os casos de trombose observados no mundo em relação à vacina da AstraZeneca têm sido extremamente raros.

"Destaco a importância que essa vacina tem para o Programa Nacional de Imunizações. Precisamos separar essa questão, porque é uma vacina que estamos aplicando na população com benefícios."

Ainda de acordo com a coordenadora, a pasta deve elaborar um documento com orientações para as gestantes que receberam doses da AstraZeneca e deveriam receber a segunda dose. O documento deve ser divulgado até o fim desta semana.

Até o momento, ao menos 22.295 gestantes já foram vacinadas no país, segundo os dados do Ministério da Saúde. Dessas, 15.014 receberam a vacina da AstraZeneca, 3.414, a Coronavac e 3.867, a vacina da Pfizer.

Fontana reforça que mulheres grávidas que ainda têm indicação de vacinação —caso daquelas com doenças preexistentes— ainda devem receber a imunização como forma de prevenir internações por Covid, medida que já vinha sendo recomendada desde março. Para isso, elas devem comprovar a condição com relatório médico ou demais documentos, como prescrição médica.

"Gestantes com comorbidade que não tomaram nenhuma dose ainda devem procurar o serviço de saúde para se vacinar com vacina da Pfizer ou Coronavac", informa.

A decisão por incluir o conjunto de gestantes e puérperas (mulheres até 45 dias após o parto) no grupo de vacinação contra a Covid havia sido adotada em 26 de abril, após análise de dados que têm apontado aumento no risco de hospitalizações e mortes pela Covid entre esse grupo.

A previsão era que a vacinação iniciasse em maio. Agora, a oferta volta a ficar limitada apenas a gestantes com comorbidades, que têm maior risco para a Covid.

A presidente da Fiocruz, instituição responsável pela produção da vacina da AstraZeneca no Brasil, Nísia Trindade, acompanhou o anúncio do Ministério da Saúde e defendeu a suspensão temporária da aplicação das doses até que o caso seja investigado. Ela lembra que gestantes não fizeram parte dos testes com este imunizante, daí a cautela, e reforçou os benefícios do uso da vacina em outros grupos.

Consultor do Programa Nacional de Imunizações, o imunologista Jorge Kalil, que também estava na coletiva de imprensa, reforçou que a relação do caso ocorrido no Rio de Janeiro com a vacina ainda precisa ser confirmada.

"Ficamos muito chateados com essa perda, pois lutamos pela vida. Nos reunimos desde sábado discutindo o assunto. Ainda não está claro que a vacina tenha sido a causa dessa trombose e do AVC. Estamos examinando detalhes de todo o prontuário e todos os exames para que se chegue a uma conclusão sobre o que aconteceu", afirma.

Ele lembra que os casos de trombose têm sido muito raros. "De forma alguma nós gostaríamos que houvesse a ideia de que essa vacina causa problemas em mulheres grávidas. Não é assim. Essa vacina pode ter casos de trombose, que são eventos raríssimos que ocorrem em mulheres em idade fértil e que varia de 1 para 100 mil ou 1 para 500 mil pessoas vacinadas", afirmou.

Kalil aponta ainda que outros países, como EUA e Israel, também já estão vacinando mulheres grávidas para prevenir mortes pela Covid.

Após a recomendação feita na segunda (10), a Anvisa divulgou um comunicado em que aponta que adotou a medida por precaução, já que não houve testes da vacina em gestantes.

"Considerando que há dados limitados sobre o uso da vacina covid-19 em mulheres grávidas, a Anvisa recomendou fortemente ao Ministério da Saúde a suspensão da vacinação de grávidas com a vacina Oxford/Astrazeneca/Fiocruz, como medida de precaução e com base na indisponibilidade de dados mais robustos relacionados à segurança de uso dessa vacina nessa população", informa.

Segundo a agência, o uso ainda é recomendado para utros grupos.

"Até o momento, os benefícios da vacina superam os riscos, visto que o risco de se desenvolver trombos com a doença Covid-19 é muito maior. Assim, a Anvisa mantém a recomendação pela continuidade da vacinação com o referido imunizante para as condições previstas em bula."

De acordo com Fontana, do PNI, boa parte dos eventos adversos graves que já foram registrados para monitoramento em gestantes não têm apresentado relação direta com as vacinas.

Ela diz que já existe um protocolo da rede de saúde para acompanhamento de possíveis casos de trombose. "Gestantes que tenham sintomas como falta de ar, dor no peito, inchaço na perna, dor abdominal devem procurar os serviços de saúde para fazer acompanhamento e receber orientações."

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reconheceu que, com a mudança, há risco de dificuldade na oferta de doses para gestantes com comorbidades, uma vez que a distribuição da vacina da Pfizer está concentrada em capitais e há baixo volume disponível da Coronavac. "Mas vamos fazer todos os esforços, se não conseguirmos levar a vacina para elas, trazer para serem imunizadas em centros maiores", disse.

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