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Amaury Ribeiro Jr.

Pedofilia se tornou mais uma das tantas tristes realidades do Brasil

O grande comércio do sexo de crianças e adolescentes é movimentado hoje pelas redes sociais, por meio de aplicativos como o Whatsapp

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Amaury Ribeiro Jr.

Jornalista, escritor, compositor e autor do livro “Poderosos Pedófilos” (editora Matrix, 2020, 224 págs., R$ 44,90)

Belo Horizonte

É demasiadamente frustrante constatar que, apesar de todo esforço e vigilância de conselhos tutelares, entidades de direitos humanos e imprensa, a pedofilia e a exploração sexual de crianças e adolescentes tenham se tornado mais uma das tantas tristes realidades do cotidiano do país.

Com o advento da internet, houve apenas uma mudança de cenário. Boates como as que havia em Manaus (AM) e eram chamadas de “Disneylândia do Sexo” praticamente não existem mais. Restaram bares clandestinos nas periferias de todo o país, principalmente no Nordeste e no Norte.

O grande comércio do sexo de crianças e adolescentes é movimentado hoje pelas redes sociais, por meio de aplicativos como o Whatsapp e outros. De um lado da linha, cafetinas e rufiões inescrupulosos vendem o sexo e até a virgindade de meninas pobres da periferia justamente a quem devia protegê-las: juízes, policiais, procuradores, políticos e empresários.

O que é mais chocante, além do fato de que a exploração sexual das crianças esteja cada vez mais longe de acabar, é que os vilões adquirem contornos cada vez mais monstruosos. Até em filmes é difícil encontrar, por exemplo, uma personagem como a cafetina de Boa Vista que vendeu a virgindade da própria filha ao ex-procurador-geral do Estado de Roraima Luciano Queiroz, de acordo
com as investigações oficiais.

Gravadas pela Polícia Federal, as cenas são inacreditáveis: a fim de não chamar atenção, a cafetina entra de automóvel com o procurador em um motel de Boa Vista, enquanto a menina, com um ursinho de pelúcia, fica escondida no porta-malas do carro.

Essa também era a prática de uma mulher que, pelo Whatsapp, vendeu a virgindade da sobrinha de 13 anos e de outras meninas da periferia de Manaus (AM) para o empresário Fabian Neves e outros figurões da cidade. Mensagens decodificadas nos telefones possibilitaram a condenação judicial de Queiroz, Fabian e das duas cafetinas.

Mas os criminosos são ágeis e criam meios novos. No final do ano passado, a Operação Anjos, da polícia mineira, descobriu que meninas eram aliciadas em plena pandemia por conhecidos influenciadores digitais.

As vítimas eram levadas para uma casa na Pampulha, em BH, onde eram drogadas, molestadas e fotografadas nuas. Material pornográfico infantil foi encontrado na casa de um dos acusados. Até agora, nove pessoas foram indiciadas e respondem ao processo em liberdade.

Nos últimos 30 anos, além da aprovação do ECA e de outras leis protetivas, foram implantados programas sociais que ajudaram a diminuir o trabalho infantil, raiz de muitos casos de exploração sexual.

Essas medidas não têm tido o mesmo efeito positivo em todo o país. Em algumas regiões ainda predomina a cultura machista que trata a mulher como objeto. De um lado, pais, padrastos e parentes em geral que se vêem no direito de abusar das crianças dentro de casa ou forçá-las a entrar precocemente no mercado de trabalho. De outro, estão poderosos que se acham no direito de comprar tudo, até a infância das crianças.

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