“Liberou geral!” Foi esse o clima que dominou boa parte de frequentadores da noite paulistana no primeiro fim de semana sem restrições de público dentro de bares e restaurantes nem imposição de horário para fechar.
A suspensão das medidas encontrou ainda mais vazão nesses dias com cara de verão. Resultado: gente aglomerada em calçadas, muitas delas sem máscara, e lugares lotados.
Quem circulava na noite de sábado e na madrugada deste domingo (22) pelas ruas da Vila Madalena, bairro da zona oeste famoso por concentrar bares e restaurantes, poderia imaginar que estava num ambiente sem coronavírus.
De máscara, a chef Edivan Maria dos Santos, 44, do bar e restaurante Oca da Quenquem, via da porta de entrada o vaivém de pedestres. “Fico assustada com a quantidade de gente circulando e se amontando sem máscara.”
Na terça-feira (17), o governador João Doria (PSDB) sacramentou o fim das restrições de ocupação e horário para comércios e serviços no estado de São Paulo depois de aproximadamente um ano e cinco meses. Distanciamento e uso de máscara continuam obrigatórios, vale lembrar.
Desde o dia 1º de julho morando em São Paulo, o cabeleireiro Fabio Costa, 32, de Fortaleza, pisou na vila pela primeira vez neste fim de semana. “É um cenário de descaso. Dá medo de andar por aqui. A falta de noção do perigo é coletiva, generalizada.”
Costa ficou impressionado, sobretudo, com o comportamento dos mais jovens. “Gente cantando, gritando, se pegando, tudo sem máscara. É a negação do que enfrentamos.”
Até mesmo nos abarrotados estacionamentos do bairro era comum ver manobristas, num entre e sai frenético, sem usar a máscara de proteção, negligência seguida por muitos donos de veículos.
Moradora dos Jardins, a advogada Carolina Caiado, 40, ficou “horrorizada com esse rolê todo”. “Não vinha à vila desde o começo da pandemia. Estava num restaurante aberto, mas fiquei impressionada com os bares lotados e todo o mundo sem máscara. Vou embora agora, já.”
Passava da 1h20, e muitos bares continuavam de portas abertas. Na rua Wizard era difícil passar de carro por alguns pontos, porque os frequentadores, além de dominarem as calçadas, não satisfeitos, tomaram também parte da via.
Na região central, o quarteirão inteiro da Peixoto Gomide, entre a Augusta e a Frei Caneca, estava apinhado de frequentadores. Quase ninguém fazia o uso de máscara.
Apesar de muitos bares terem fechado as portas por volta da 1h30, a venda de bebida seguia e, com ela, as aglomerações, principalmente na adjacência da rua Cesário Mota Júnior e na praça Roosevelt.
A liberação do comércio é para todos os 645 municípios paulistas, porém as prefeituras têm autonomia para adotar medidas mais rígidas (seis cidades do ABC, por exemplo, decidiram manter a ocupação dos estabelecimentos em 80% e o horário de funcionamento até a 0h).
Em Santo André, a Cervejaria Madalena está funcionando de terça-feira a domingo das 18h à 0h, com ocupação de 80%. “Apesar de a cidade estar com a vacinação em um estágio avançado, avaliamos que é melhor todos estarem imunizados com a segunda dose antes de uma flexibilização total”, afirmou o gerente da casa, Renan Leonessa, 29.
Na rua Emília Marengo, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, o restaurante Uru Mar y Parrilla, com capacidade para receber 240 pessoas, vai manter o limite de ocupação em 60%. Guilherme Temperani, 34, sócio-proprietário, explica que durante a fase restritiva, concluiu que o atendimento reduzido é a melhor maneira para atender bem o cliente.
Com o fim da flexibilização, os comerciantes começam também a vislumbrar um cenário mais propício para o setor, tão afetado pela pandemia. “Foram os melhores dias desde o início das restrições do ano passado, mas ainda não atingimos os números anteriores”, disse Marcus Temperani, 47, dono do restaurante japonês Nosu, em Santana.
Os relógios marcavam 2h47 deste domingo quando Manuel Pereira, 50, motorista da Uber, disse que estava impressionado com o trânsito carregadíssimo, “fora do comum”, palavras dele, e com a quantidade de gente sem máscara a circular pelas ruas e pelos bares da maior cidade do país.
“Se isso acontece na periferia, vão dizer que é tudo pobre e analfabeto. Mas na Vila Madalena, em Pinheiros, em Moema, nas Perdizes, nos Jardins, lugares de classe média, de ricos, quase todos bem formados, eles agem da mesma forma: sem máscara, sem consciência. A muvuca é a mesma. Só muda de endereço.”
Imagina como vai ser o fim de semana de feriado prolongado de Sete de Setembro.
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