Um adolescente de 15 anos matou o pai na tarde desta terça-feira (3) em um condomínio de alto padrão em Valinhos (a 98 km de SP). Segundo ele, a mãe era vítima frequente de agressões físicas e psicológicas impostas pelo pai.
O homem, um empresário de 42 anos, conhecido na cidade do interior por circular com carros de luxo e colecionar armas, foi encontrado morto pelos agentes dentro de um veículo, na garagem da casa.
Uma pistola 9 mm foi apreendida, segundo o registro policial –o garoto a entregou para um vigilante do condomínio. Quando a polícia chegou, a mulher, que tem 35 anos, e o adolescente estavam no interior da residência.
Mãe e filho prestaram depoimento na noite desta terça na delegacia de Valinhos e foram liberados. O caso foi registrado como “ato infracional e homicídio em legítima defesa”. O jovem vai responder ao processo em liberdade.
De acordo com informações do boletim de ocorrência, mãe e filho afirmaram na delegacia que, na noite anterior ao crime, o homem havia discutido e ameaçado os dois.
No relato, disseram que o empresário chegou a apontar o revólver para a cabeça deles dizendo que iria matá-los. Os dois contaram ainda que o homem teria dormido fora de casa naquela noite, mas, ao voltar, continuou com as ameaças.
Mãe e filho disseram que tentaram ir embora da casa, mas o pai os impediu. Em determinado momento, o homem teria dito que o filho deveria ficar em um quarto, nu, e fez um alerta. Teria dito que o garoto “iria levar uma surra; perder os dentes e que, se não morresse, iria ficar aleijado”.
O adolescente teria, então, pegado uma das armas da casa e feito um primeiro disparo, que acertou o abdome do empresário. Ferido, ele teria se deslocado até um dos carros da família, onde, segundo o jovem, estaria uma arma que seria usada contra ele e a mãe. Foi então que ele disparou mais duas vezes.
O empresário mantinha em sua residência, num condomínio de luxo, oito armas, incluindo um fuzil e pistolas de calibres similares aos usados pelas polícias Militar, Civil e Federal.
Policiais encontraram um fuzil calibre 556, duas pistolas calibre 9 milímetros, duas pistolas calibre 380, outra calibre ponto 40, dois revólveres calibre 4,5 milímetros e calibre 357, além de 15 carregadores, sendo cinco de fuzil e o restante de pistolas.
Deste total, foram encontrados os registros de dois revólveres e uma pistola. A legalidade dos outros armamentos não havia sido confirmada pela SSP (Secretaria da Segurança Pública). A origem das armas será investigada.
A Polícia Civil também apreendeu três carros importados de luxo, pertencentes ao empresário. Dois deles foram avaliados em R$ 1,42 milhão.
Os veículos foram apreendidos, segundo a polícia, para a realização de perícia e também para a verificação sobre a origem do dinheiro usado para a compra deles. O alto padrão em que a família vivia também é alvo da investigação.
"Nossa função é apurar o homicídio, ou seja, a autoria, que já está esclarecida. A materialidade também, pois a arma do crime já foi apreendida. Agora, vamos apurar as circunstâncias em que isso ocorreu", afirmou o delegado José Henrique Ventura, diretor do Deinter-2 de Campinas (Departamento de Polícia Judiciária do Interior 2).
O delegado acrescentou que "provavelmente em breve" a reconstituição do caso será agendada, para que a delegacia entenda os motivos que levaram à morte do empresário. "Tanto o menino quanto a mãe afirmaram estar à disposição. Isso vai ajudar a entender o passo a passo [do homicídio] e verificar se há uma sintonia entre as etapas", afirmou.
Segundo a polícia, o empresário tinha passagem por estelionato e já respondeu a processos por usar nomes falsos. Ele tinha uma empresa de comércio exterior e de aparelhos para som de automóveis.
O advogado Rafael Oliveira Berti, defensor do adolescente, foi procurado mas, por meio de um funcionário, afirmou que não iria se manifestar sobre o caso.
O caso foi encaminhado à Vara da Infância e da Juventude.
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