Descrição de chapéu Obituário Celso Hernandes Arraez (1949 - 2021)

Mortes: Aos filhos deixou lições sobre a doce simplicidade da vida

Celso Hernandes Arraez ensinou atividades como pescar, fazer cabana de capim, martelar, caçar cupim e reconhecer insetos, entre outras

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Talita Moreira
São Paulo

Naquela mesa, ele reunia a gente, cantando e tocando violão. Naquela mesa, qualquer reunião familiar —e eram muitas— se transformava em festa. O repertório ia de bolero ao rock, passando por Zeca Pagodinho e Frank Sinatra. “Toca aquela, Celso”, alguém pedia, e assim uma música emendava na outra e a cantoria se estendia por horas, até a voz falhar.

Foi entre batuques improvisados, churrascos e cervejas que filhos e sobrinhos foram crescendo, trazendo agregados e amigos que adoravam compartilhar daqueles momentos. O repertório eclético agora faz parte da história de cada um.

A paixão pela música começou cedo. Nos anos 1960, Celso, os irmãos Sérgio e Denise fizeram parte de uma banda, Os Birutas. Inspirada nos Beatles, teve seus dias de glória no ABC paulista, onde a família morava. Ainda sem a irmã nos vocais, o grupo se apresentou no programa Júlio Rosemberg, na TV Tupi, no auge da Jovem Guarda.

Celso Hernandes Arraez (1949-2021)
Celso Hernandes Arraez (1949-2021) - Arquivo pessoal

Mas o roqueiro cabeludo arrumou um emprego numa empresa de fechaduras e foi lá que conheceu Neusa, a namorada certinha com quem foi casado durante 48 anos e o acompanhou até o último dia.

Tiveram três filhos. Celso trabalhou em companhia metalúrgica, com exportação, foi dono de posto de gasolina e, depois de aposentado, fez deques de madeira e pergolados junto com o cunhado Wilson, um de seus maiores amigos.

Curioso e fuçador, Celso tinha uma inteligência intuitiva que o ajudava a saber de tudo um pouco, até mesmo a diferença entre os pássaros que andam e os que pulam. Gostava de mexer na terra, montar engenhocas, consertar coisas —nem que fosse na base da gambiarra.

“Meu pai nos ensinou a pescar, fazer cabaninha de capim, martelar, caçar cupim, reconhecer insetos, seguir a trilha certa e amar uma parafusadeira”, diz a filha do meio, Fernanda. “Tinha um Guia 4 Rodas na cabeça e conhecia tudo que era planta. Era um faz-tudo para quem precisasse”, afirma a mais velha, Mirella.

Era corintiano, e achava a maior graça em ver os filhos no estádio xingando o juiz e o time rival. Porém, foi no tênis que se encontrou no esporte. Era um adversário duro. Jogando no condomínio em que vivia, na cidade de Mairinque (a 71 km de SP), formou um grupo de amigos que, depois das partidas, se sentava para tocar e cantar.

Foi na quadra que Celso sentiu-se mal pela primeira vez. Foi diagnosticado com câncer há dois anos. Manteve o otimismo de sempre, mas lhe aborrecia a sensação metálica que o tratamento deixava nas mãos, ruim para dedilhar o violão.

Sua voz se calou na manhã de sábado, 7 de agosto, aos 72 anos. Naquela mesa, está faltando ele, mas tem Neusa, Mirella, Fernanda, Eduardo, cinco netos e um monte de fãs.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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