Descrição de chapéu Coronavírus

Pandemia ensinou a valorizar a convivência, dizem especialistas

Relações familiares e de afeto precisam ser olhadas com mais carinho

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São Paulo

A pandemia de Covid-19 lançou uma luz forte sobre a saúde mental. O isolamento social e o distanciamento físico necessários para evitar a infecção pelo coronavírus deixaram as relações fragilizadas e impuseram aprendizados diários.

Para Liliana Seger, especialista em psicologia clínica e hospitalar pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, a maior crise na saúde deste século deixou evidente que as pessoas começaram a valorizar mais a convivência, a entender o quanto é importante ter amigos e a falta que faz estarmos próximos de quem amamos.

Abraços irrecuperáveis e tempos que não voltam mais são mantras nas falas de médicos e enfermeiros. No caso dos profissionais de saúde, o medo de transmitirem a Covid-19 aos seus familiares os persegue. Soma-se a isso as horas exaustivas no trabalho.

“Esse afastamento fez com que as pessoas começassem a refletir, inclusive, sobre a finitude. Olha quanta coisa deixei de viver com meus filhos, o que eu tinha e não me dava conta. Isso foi valorizado”, afirma Seger.

Gabriela Malzyner, membro do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, psicóloga e psicanalista do Meniá Centro de Prevenção, diz que na pandemia fomos arremessados a condição de desamparo e vulnerabilidade.

“Quando um pai médico sai de casa para preservar a vida da filha, ele faz com ela um pacto de vida e não de perda. É justamente para que tenha tempo com a filha que ele se retira”, afirma.

Fernando Teichi C. Oikawa, cardiologista do Hospital Sancta Marggiore (unidade Paraíso), mostra a filha Maria Antônia, com poucos mais de dois meses
Fernando Teichi C. Oikawa, cardiologista do Hospital Sancta Marggiore (unidade Paraíso), mostra a filha Maria Antônia, com poucos mais de dois meses - Eduardo Knapp - 05.ago.2021/Folhapress

Foi o que aconteceu com o cardiologista Fernando Teichi Costa Oikawa, 41, diretor do Sancta Maggiore, unidade Paraíso, referenciado para Covid-19.

Pouco depois que a filha Maria Antônia, hoje com pouco mais de dois meses, nasceu, ele contraiu Covid-19 e mudou-se para um hotel onde morou durante 14 dias.

“A pandemia trouxe a condição da privação e deixou os laços muito vulneráveis. Não é só o tempo que se perdeu, mas a marca que se instaurou. Tem aí algo que fala da vulnerabilidade humana de todos nós. Isso ficou evidente com a pandemia. Ninguém está a salvo em lugar nenhum. Não existe lugar seguro, e quando isso se escancara, acarreta sofrimento”, diz Malzyner.

“Toda crise tem que trazer uma experiência nova e um aprendizado. Vamos mudar o nosso olhar para o mundo. A pandemia está ensinando o quanto precisamos dos outros, precisamos ter mais qualidade de vida, cuidar mais da saúde e do meio ambiente. As próprias relações precisam ser olhadas com mais carinho. Traga o Dia dos Pais para todos os dias. Eu não preciso de uma ocasião especial para dizer 'eu te amo', usar a minha casa e o meu copo mais bonito”, completa Seger.

“[Alguns pensam que] eu não preciso me esforçar no hoje porque amanhã virá de novo. Está muito claro que não sabemos qual é o amanhã, então precisamos estar presentes no hoje”, afirma Malzyner.

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