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Atuação de suposta milícia no Brás leva à queda de subprefeito em São Paulo

Policial militar assumirá regional com a missão de controlar a situação na região central

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São Paulo

A atuação de uma suposta milícia formada por ex-policiais e policiais aposentados que exploram os camelôs de ruas do Brás (região central) levou à queda de um subprefeito da região. O cargo será assumido por um oficial da reserva da Polícia Militar.

A existência dessa suposta milícia que atua naquela região também envolveria funcionários públicos, segundo relatos de autoridades que apuram o caso. A ligação é reforçada por documentos obtidos pela reportagem, como recibos de camelôs explorados.

A troca do subprefeito ocorreu em um cenário de descontrole daquela região, aliada a atritos dele com a Polícia Militar que atua na área. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) citou, ao repercutir a decisão, de que a cidade precisa de ordem.

O esquema, conforme contam autoridades e comerciantes, funciona com a demarcação de espaços nas ruas por membros da milícia.

Movimento de camelôs em rua do Brás, na região central de SP
Movimento de camelôs em rua do Brás, na região central de SP - Zanone Fraissat/Folhapress

Esses locais passam a ser então comercializados pelo grupo. São cobradas tanto a instalação inicial quanto uma mensalidade para a permanência. Os pontos mais bem localizados têm valores mais altos.

Em um dos relatos obtidos pela Folha, o camelô explorado disse ter pago por volta de R$ 7.000 a título de luva, além de R$ 600 semanais pela ocupação do espaço e R$ 15 por uma iluminação extra feita por meio de "gatos", como são chamadas as ligações irregulares de energia elétrica.

O vereador Adilson Amadeu (DEM) já denunciou o caso ao Ministério Público, enviando diversos documentos com relatos da extorsão. Para ele, o controle daquela região foi perdido.

“Só há 119 termos de permissão de uso para camelôs, e há 30 mil trabalhando nas ruas. Tem alguma coisa errada. Se tem 150 food trucks e ninguém tem licença, como estão trabalhando? É complicado porque a gente percebe que perderam a mão”, diz.

Em um dos relatos recebidos, um ambulante diz que todas as ruas têm pelo menos duas pessoas armadas que inibem que não pagar os valores. "Somos obrigados a pagar luva pelo lugar escolhido, semanalmente uma taxa de ocupação do espaço e pela luz (iluminação esta roubada das lojas e da Enel)", diz um dos relatos.

A atuação da suposta milícia vem sendo investigada pela Polícia Civil da região e também pela Corregedoria da instituição —já que a cúpula da segurança recebeu informações de que investigadores também atuam na exploração de camelôs, em especial de bolivianos.

O subprefeito da Mooca, José Rubens Domingues Filho, foi exonerado do cargo na manhã desta quinta-feira (16), segundo publicação no Diário Oficial da cidade. No lugar, será nomeado o coronel reformado da PM Danilo Antão Fernandes.

A saída do cargo foi decidida com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) na noite desta quarta-feira (15), quando Domingues Filho negociou a nomeação para outro posto na administração municipal a ser anunciado nos próximos dias.

Na conversa, o agora ex-subprefeito citou ameaças que vem sofrendo diante das operações que visam tirar os ambulantes das ruas do Brás.

Recibo de camelô relacionado ao pagamento por suposta milícia no Brás
Recibo de camelô relacionado ao pagamento por suposta milícia no Brás - Reprodução

Diante do clima tenso, Nunes foi orientado a colocar um militar na subprefeitura. O coronel Antão atualmente é chefe de gabinete do coronel Alvaro Camilo na SSP (Secretaria de Estado da Segurança Pública).

Em entrevista à TV Globo sobre o assunto, Rubens afirmou que faria operações para combater as milícias, mas também citou a necessidade de maior apoio da polícia, o que não caiu bem na corporação. “A dificuldade é que o bairro é muito grande. A quantidade de agentes nem sempre é adequada, e a gente precisa de um volume maior de operações, não só de agentes públicos da prefeitura, mas também um apoio um pouco maior da Polícia Militar de São Paulo”, afirmou à TV.

Nunes disse que se tratava de uma troca normal. "Natural numa cidade como São Paulo. Vez ou outra tem que ter substituições. Eu nomeei lá o coronel Antão, que tem uma grande experiência por sua carreira militar. Mas também por sua boa relação com a comunidade", disse Nunes sobre a saída do subprefeito.

"É preciso entender que tem que ter ordem. A cidade de São Paulo preza por isso. Que a gente não deixe que as pessoas possam fazer uso de vender o espaço público para inclusive ganhar em cima das pessoas que mais necessitam", acrescentou.

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