Francisco Elias Soares gostava de ouvir as histórias dos atendimentos que a enfermeira Renata Gabrilli, 51, sua filha, faz no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de São Paulo.
Renata, assim como o pai, construiu sua trajetória profissional na área da saúde. Francisco formou-se em odontologia na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas.
Natural de Piedade (a 99 km de SP), era o mais velho entre quatro filhos. A infância foi simples e muito divertida. Ele cresceu entre irmãos, primos e amigos, e os fortes laços de amizade criados entre todos estenderam-se até os dias atuais.
Como dentista, Francisco atendeu no Sesi (Serviço Social da Indústria) de São Paulo e em consultórios particulares.
"Algumas vezes, quando a pessoa não podia pagar o tratamento, ele atendia de graça. Meu pai tinha uma personalidade forte, mas um coração de ouro. O melhor que ele deixou aos filhos foram os valores morais, como a sua honestidade, e a construção do caráter", afirma Renata.
No consultório, trabalhou até mais de 70 anos de idade e na aposentadoria, aquietou-se. No tempo livre, distribuiu mais amor à família, principalmente aos netos. "Ele nos amou incondicionalmente", diz Renata.
Na pandemia de Covid-19, isolou-se com a companheira no apartamento em que morava, no bairro dos Jardins, em São Paulo, mas sempre mandava mensagens aos filhos dizendo o quanto sentia saudades.
Respeito era palavra de ordem. Respeite para ser respeitado, dizia com frequência. De trato simples, Francisco não fazia distinção entre as pessoas. Soube valorizar a família e os amigos, muitos de longa data.
Nas festas de família, era Francisco quem roubava a cena e o microfone, em nome da cantoria de que tanto gostava. Quando pilotava o fogão, preparava pratos sofisticados, como lula recheada, polvo ao vinho e estrogonofe, entre outros.
Francisco morreu dia 8 de janeiro, aos 83 anos, por complicações de um câncer de pulmão descoberto poucos dias antes. Deixa a atual companheira Sônia, os filhos Renata e Ricardo, e os netos Breno e Lorena.
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