Mortes: Ex-guerrilheiro do Araguaia, gostava de longas conversas

Danilo Carneiro viveu as últimas décadas em meio aos jovens universitários em Florianópolis

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Florianópolis

Um dos primeiros a ser preso na Guerrilha do Araguaia, em abril de 1972, Danilo Carneiro sofreu inúmeras torturas na mão dos militares durante o período de um ano e meio em que ficou enclausurado.

Sobreviveu ao cárcere, mas ficou com a saúde debilitada, passando por ao menos 30 cirurgias para se recuperar. Apesar dos problemas médicos, nunca deixou de lutar pelos seus direitos.

"Foi preso e torturado barbaramente e, quando começou esse processo de anistia, foi atrás dos direitos e foi talvez uns dos poucos que não conseguiu indenização", diz a jornalista Elaine Tavares, amiga de longa data de Danilo.

Ex-guerrilheiro do Araguaia, Danilo Carneiro viveu as últimas décadas em meio aos jovens universitários em Florianópolis
Danilo Carneiro (1941-2022), no Dia do Saci, em Florianópolis - Arquivo pessoal

Por causa disso, contra Elaine, o ex-guerrilheiro e militante do Grupo Tortura nunca Mais do Rio de Janeiro tinha uma grande mágoa dos antigos companheiros que fizeram parte da Comissão da Verdade.

Natural de Senador Firmino (MG), Danilo cresceu em uma família de dez filhos e ainda criança foi estudar em um internato. Ele contava ter conhecido pouco do pai, que morrera cedo, e ter sido a mãe quem o ensinou o senso de justiça e de compromisso com o ser humano.

Ainda adolescente se interessou pelo comunismo, ao ler uma biografia de Lênin, e a partir de então passou a participar de greves e manifestações. Cursava engenharia quando começou a ditadura militar e, com seus direitos cassados, não conseguiu finalizar a graduação.

Nas últimas três décadas viveu em Florianópolis, onde continuou participando ativamente de manifestações políticas, como a revolta da catraca, contra o aumento da tarifa de ônibus, em 2004.

Danilo também era presença constante no Iela (Instituto de Estudos Latino-Americanos), na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) —chegava na hora do almoço e só saía no fim da noite.

Conhecido por suas longas análises conjunturais envolvendo política e relações internacionais, o ex-sindicalista estava sempre cercado de universitários. "Ali na cozinha, tomando café, ele começava a dar aula e chegava a galera, e todo mundo ficava em volta dele", lembra Elaine.

"A imagem do Danilo era essa: velhinho, cabelinho branco, sentadinho no sofá de perninhas cruzadas e a gurizada."

Danilo morreu no dia 1º de janeiro, aos 80 anos, por causa de um câncer na região da lombar. Deixa a companheira, Albertina, cinco irmãos, sobrinhos, amigos e ao menos três gerações de alunos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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