Descrição de chapéu aniversário de São Paulo

Relógios icônicos de São Paulo contam a história da cidade

Lista inclui peça mais antiga da capital, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, e mostrador digital do Conjunto Nacional

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São Paulo

Observar os relógios históricos do centro de São Paulo, o primeiro deles instalado ainda no século 19, é um convite à reflexão sobre o passado —e o presente— da cidade que completa 468 anos.

É esse o sentimento do historiador João Paulo Pimenta.

"É como se eles estivessem não apenas no tempo passado, mas também em um tempo mais lento. Uma espécie de refúgio contra o ritmo frenético de São Paulo", diz o professor do Departamento de História da FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo).

Foto mostra relógio da fachada do prédio da faculdade de Direito da USP no Largo São Francisco
Relógio da faculdade de Direito da USP no Largo São Francisco - Eduardo Knapp/Folhapress

"Essas peças [os relógios] são ecos de um passado que insiste em permanecer, ainda que estejam eventualmente quebradas ou escondidas na paisagem", acrescenta Pimenta, destacando o valor histórico dos aparelhos.

Instalado em 1884, o relógio mais antigo de São Paulo é o da Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco, região central da cidade.

Quem cuida da sua manutenção é Augusto Fiorelli, 62. Responsável pela conservação de outros relógios públicos, ele conta que aprendeu o ofício com o avô e que desde a adolescência trabalha com essas grandes peças.

"Para mim, é um trabalho gratificante. É a história da cidade", afirma. "É uma pena que alguns estejam parados ou sucateados, como o relógio da praça da Sé."

Fiorelli, que fazia manutenção do equipamento, conta que a peça está parada desde 2018. De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura, os relógios da praça da Sé são de propriedade privada e não é responsabilidade da prefeitura cuidar da sua manutenção.

Hugo Segawa, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, diz que os relógios públicos, assim como bancos de praça e chafarizes, são parte do mobiliário urbano e lamenta que algumas dessas peças estejam abandonadas. "Cabe ao poder público ampliar o universo da memória dos paulistanos."

Faculdade de Direito da USP

O relógio no largo São Francisco é considerado o primeiro da cidade. O equipamento é mantido em sua versão original e apresenta o numeral romano IIII, em vez da tradicional forma IV.

A faculdade, fundada em 1827, ocupou um prédio do antigo Convento de São Francisco, criado em meados de 1640. O edifício passou por duas grandes reformas: uma em 1880, após um incêndio, e outra na década de 1930.

Conjunto Nacional

Um dos símbolos da avenida Paulista, o relógio digital que ocupa o topo do Conjunto Nacional foi instalado no início da década de 1960, acompanhado de um painel luminoso que já exibiu marcas de empresas e bancos.

Em 1992, o equipamento foi reformado e recebeu um sistema moderno. Assim, começou a ser controlado por computador e passou a exibir também a temperatura.

Construído entre 1953 e 1957, o Conjunto Nacional abriga imóveis comerciais e residenciais.

Antigo Mappin

Instalado na fachada do edifício em que ficava a antiga loja de departamentos Mappin, o relógio data de 1920, quando a loja ficava na praça do Patriarca, e inicialmente dava as horas em algarismos romanos.

A peça acompanhou a mudança do Mappin para a praça Ramos de Azevedo, em 1939, e ganhou um mostrador com algarismos arábicos.

A loja ocupava cinco andares do edifício e se transformou em um ponto turístico da cidade. Hoje, o prédio abriga uma unidade das Casas Bahia.

Paróquia São João Batista do Brás

O relógio que ocupa a torre da Paróquia São João Batista do Brás foi fabricado na década de 1930 pela Michelini, uma empresa familiar conhecida por criar relógios de torre e de fachada.

A igreja, fundada em 1908, serviu como ponto de assistência social à comunidade durante a epidemia de gripe espanhola, em 1918 —estima-se que a doença tenha deixado 5.000 mortos na cidade.

Além disso, a paróquia abrigou atividades de sindicatos durante a ditadura (1964-1985), tornando-se símbolo de resistência e de apoio à luta operária.

Relógio de Nichile

A praça Antônio Prado, no centro de São Paulo, abriga hoje o último remanescente de uma série de peças criadas na década de 1930 pelo publicitário Octávio De Nichile e que ficaram conhecidos como relógios de Nichile.

O objeto, que tem espaços para a exibição de propaganda na estrutura que sustenta o relógio, foi considerado inovador para a época.

Quem cuida da manutenção do equipamento é o filho de seu criador, o jornalista Gilberto de Nichile.

Estação da Luz

O relógio instalado na torre da estação da Luz no começo da década de 1950 substituiu o modelo anterior, uma peça inglesa destruída por um incêndio em 1946.

O edifício foi construído no período de 1895 a 1901, e o projeto é atribuído ao arquiteto inglês Charles Henry Driver. Em 2006, parte da estação foi remodelada para abrigar o Museu da Língua Portuguesa.

Aos finais de semana, quem vai ao local pode observar a torre do relógio mais de perto, em uma visita guiada que percorre um dos terraços do prédio histórico.

O passeio é realizado aos sábados e domingos em duas opções de horário, às 11h e às 15h —não é necessário fazer agendamento.

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