Simpática, acolhedora e boa conselheira, para os armênios, Parouhi era uma Mayrig —mulher forte que encarava os desafios impostos pela vida.
Por trás dos 101 anos, Parouhi Darakjian Kouyoumdjian carregava as tradições e uma história digna de um filme.
"Poucos sabiam que esta mulher —a mais antiga refugiada armênia em São José do Rio Preto [a 438 km da capital paulista]— foi uma guerreira", afirma João Aris Kouyoumdjian, 68, um dos filhos —ele é médico e professor adjunto do Departamento de Ciências Neurológicas da Faculdade Estadual de Medicina de São José do Rio Preto.
Natural de Marash, numa região na época chamada de Armênia turca, Parouhi nasceu durante a fuga da família para Aleppo, na Síria.
Em setembro de 1926, junto com os pais e as irmãs, chegou ao Brasil de navio, pelo porto de Santos (a 72 km de São Paulo). De lá vieram para a capital paulista, onde moraram em cortiços no centro e se alimentavam com pão amanhecido e banana. Não havia dinheiro e nem trabalho. Os banhos eram semanais, sempre frios e de bacia.
Dois anos depois, todos se mudaram para Mirassol (a 452 km da capital paulista).
Em 1939, Parouhi casou-se com um marido arranjado pela família, Aris Kouyoumdjian. "Eles se estabeleceram em São José do Rio Preto, onde a comunidade armênia era grande", conta
João Aris.
Parouhi era religiosa e cristã, assim como todo o seu povo. Cultivava como valores a família, os costumes e as tradições armênias.
Mulher de fé e bons conselhos, Parouhi estendia as mãos e emprestava aos familiares um pouco de sua sabedoria de vida quando solicitada. Foi conselheira da família até a morte.
Comidas e iguarias tipicamente armênias desfilavam pela sua cozinha quase diariamente, tudo preparado com amor e dedicação. Ninguém resistia ao seu basturmá, tipo de carne seca e bem temperada.
Viveu lúcida até os últimos seis meses. O fato de ter superado Covid e dengue ao mesmo tempo e com mais de 100 anos chamou a atenção da bióloga molecular e geneticista Mayana Zatz, que estudou pessoas acima dessa idade que se recuperaram da doença causada pelo coronavírus.
Parouhi morreu no dia 6 de fevereiro, aos 101 anos, de septicemia em decorrência de um problema de circulação nas pernas.
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