Tatuzão está no meio do esgoto após surgimento de cratera em São Paulo

Máquina, que iniciou a escavação em dezembro, está 14 m abaixo do rio Tietê

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São Paulo

Uma máquina feita sob medida, com alta tecnologia, e que custa dezenas de milhões de euros está sob o esgoto, 14 metros abaixo do leito do rio Tietê, em São Paulo. É o tatuzão, como é popularmente conhecida a tuneladora, o equipamento responsável por escavar os túneis do metrô, e que agora precisará de reparos após o rompimento de uma tubulação da Sabesp nesta terça-feira (1º).

Com 109 metros de comprimento, 10,61 metros de diâmetro e pesando 2.000 toneladas, o primeiro dos dois tatuzões que vão construir a linha 6-laranja começou a operar em 16 de dezembro. Na ocasião, o governo estadual afirmou que a tuneladora tem a capacidade para perfurar de 12 a 15 metros por dia. São necessárias 50 pessoas para operá-la, divididas em três turnos de trabalho.

Descida da roda de corte do tatuzão no canteiro de obras da linha 6-laranja do metrô, em agosto de 2021 - Zanone Fraissat - 17.ago.2021/Folhapress

O tatuzão não é apenas uma máquina de escavação. Dentro dele há uma estrutura completa de apoio aos operários, com refeitório, unidade de enfermagem, esteira para retirada do material escavado, cabine de comando, além de outros equipamentos.

Como dito acima, a tuneladora que passava sob a tubulação de esgoto que se rompeu no poço Aquinos, próximo à pista sentido Ayrton Senna da marginal Tietê, não é a única que fará a escavação. Uma outra semelhante seguirá em direção à zona norte da capital paulista, perfurando 5,3 km.

O tatuzão que parou a 2 metros do poço à margem esquerda do Tietê teria um percurso mais extenso, de cerca de 10 km, em direção à região da Liberdade, onde está a estação São Joaquim, da linha 1-azul do Metrô. Portanto, era só o começo de uma longa jornada rumo ao centro da cidade, interrompida ao menos temporariamente pelo acidente com a tubulação de esgoto.

O reparo de um equipamento como esse não é simples. Cada tatuzão é feito para o tipo exato de solo que se pretende perfurar, com uma face de corte (a "roda" que escava as profundezas da cidade) apropriada para o terreno. "Não é uma máquina de catálogo, é feita sob medida", afirma Eloi Angelo Palma Filho, presidente do Comitê Brasileiro de Túneis.

Não apenas a face de corte é adaptada para cada terreno. A "potência" da máquina também, porque a força necessária para perfurar a rocha é diferente daquela empregada para escavar argila.

Na capital paulista, por trabalhar com um tipo de terreno misto, a tuneladora conta também com um moderno sistema de pressurização, que evita um certo risco de "entupimento" ou algo mais grave.

"Quando é argila ou areia, há uma tendência do solo de vir para dentro da máquina [involuntariamente]. A pressurização evita isso", diz o presidente do Comitê Brasileiro de Túneis.

Segundo o especialista, a tuneladora é montada ainda no país de origem, vistoriada pelo comprador, desmontada na sequência e entregue em partes, em contêineres, até ser remontada no terreno que deverá perfurar. No caso do tatuzão da linha 6-laranja, o início da montagem aconteceu em 17 de agosto de 2021.

Embora custe na casa das dezenas de milhões de euros, segundo o especialista, é muito raro que um tatuzão seja reutilizado em outra obra. Mas isso já aconteceu em São Paulo. "Temos um caso no Brasil. A máquina que fez o túnel da linha 4 foi aproveitada na linha 5, mas com adaptações no diâmetro", explica.

Palma Filho diz que a população pode até achar que é muito dinheiro para um equipamento que será usado em apenas uma obra, mas o custo do alto investimento é diluído ao longo do tempo, dependendo do comprimento da escavação. "Para túneis com pouco mais de três quilômetros, é bastante factível usar essas máquinas", explica. "Normalmente, essas máquinas têm seguro", conta o especialista.

Na manhã desta quarta (2), em entrevista ao Bom Dia São Paulo, da TV Globo, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Paulo Galli, afirmou que o tatuzão terá que ser reformado. "Já está sendo comprado todo o equipamento para que possa, rapidamente, dentro do possível, fazer a recomposição para que ele volte a operar", disse. "A gente não tem a data em que conseguirá colocar o tatuzão em operação", completou.

O primeiro trecho da linha 6-laranja, então entre as estações Brasilândia e Água Branca, estava previsto inicialmente para ser entregue em 2013. Antes do rompimento da tubulação de esgoto, a previsão era de que toda a linha estivesse pronta até 2025.

Procurada no fim da tarde desta quarta, a Acciona, responsável pela construção da linha 6-laranja e pelo tatuzão, afirmou que ainda não há uma previsão de quanto tempo será necessário para recuperar o equipamento, nem quais os danos, exatamente, mas que o prazo para a conclusão da obra está mantido.

Durante entrevista no Palácio dos Bandeirantes, no início da tarde desta quarta, representantes da Acciona afirmaram que há outros pontos da linha 6-laranja em construção, por isso não deverá ocorrer atrasos na entrega.

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