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CPTM tem média de uma queda no vão entre o trem e a plataforma por dia

Número de casos despencou de 2019 para 2020; em 2021, foram 363 registros em SP

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Cleberson Santos Renan Omura
São Paulo e Suzano | Agência Mural

No último dia 9 de fevereiro, uma passageira de 38 anos sofreu um grave acidente na estação Guaianases, da linha 11-coral da CPTM, na zona leste de São Paulo. Ela caiu no vão que separa o trem da plataforma e foi atingida pela composição. Sua perna direita foi amputada, e ela ainda está internada no Hospital das Clínicas.

Esse tipo de ocorrência não é incomum nesse trajeto. A linha coral, que liga a estação da Luz, no centro da capital, à estação Estudantes, em Mogi das Cruzes, na região metropolitana, é a campeã nesse tipo de ocorrência desde ao menos 2010.

Linha Coral liderou o número de quedas no vão entre o trem e a plataforma
Linha coral liderou o número de quedas no vão entre o trem e a plataforma - Paulo Talarico/Agência Mural

Segundo dados da CPTM obtidos pela Agência Mural via Lei de Acesso à Informação (LAI), a linha 11 foi a única com mais de cem quedas nos trilhos no ano passado, situação que já havia acontecido em 2020.

As sete linhas da CPTM somaram durante 2021 um total de 363 acidentes, uma média de quase uma ocorrência por dia. No entanto, o número vem caindo desde 2017, quando o serviço teve 1.033 acidentes, quase metade deles na linha coral (503).

Naquele mesmo ano, a Agência Mural revelou, em reportagem na Folha, que havia estações da companhia com vãos acima de 40 centímetros, quatro vezes mais que o recomendado pelas normas da ABNT (Agência Brasileira de Normas Técnicas).

O levantamento sobre a distância entre o trem e a plataforma foi feito nas 91 estações que a CPTM tinha na época.

A companhia passou a instalar borrachões nas estações que tinham maior número de ocorrências. Além da distância, a lotação no horário de pico costuma ser um dos fatores que causam ocorrências.

Após a medida, os números de quedas caíram de 2017 para cá. Os anos de 2018 e 2019 igualaram a marca de 782 quedas, o que representou uma redução de 24% em relação a 2017. Esse total caiu pela metade em 2020, para 368, talvez impactado pela redução de passageiros por conta da pandemia de Covid-19. Em 2021, o número voltou a cair mais um pouco, para 363.

A aposentada Sônia Maria de César, 71, moradora de Cidade Tiradentes, na zona leste, utiliza a linha coral ao menos três vezes por semana para ir ao hospital. Ela embarca na estação Guaianases e desce na Jabaquara, da linha 1-azul do metrô, na zona sul da capital.

"Quando o trem chega, as pessoas se empurram muito. Tenho medo de cair no vão e evito os horários de pico, mas, às vezes, as consultas terminam às 18h e não tem jeito. Tenho que ir no meio da multidão", afirma.

Para a aposentada, faltam agentes de segurança nas estações para organizar o embarque e o desembarque dos passageiros. "Em Guaianases, é bastante complicado. Durante a semana que a mulher caiu no vão, tinha muitos guardas, mas depois de alguns dias foram embora", relata.

Com medo de cair no vão, a aposentada Sonia Maria Castanho, 71, evita usar o trem em horários de pico
Com medo de cair no vão, a aposentada Sonia Maria Castanho, 71, evita usar o trem em horários de pico - Renan Omura/Agência Mural

O auxiliar administrativo Matheus Almeida, 23, estava na estação Guaianases quando a passageira foi socorrida no último dia 9. "Até pensei que a moça tivesse morrido, mas, graças a Deus, não. Quando eu me deparei com a cena, fiquei surpreendido, pelo menos ali naquela estação de Guaianases eu nunca vi acontecer isso", conta.

Matheus, que mora em Guaianases e usa os trens diariamente para se deslocar ao trabalho na região central de São Paulo, relata ter presenciado outro episódio, este na estação da Luz, quando uma senhora ficou com a perna presa no vão.

"Não foi nada grave e eles conseguiram tirar ela dali de forma rápida. Quando isso aconteceu não tinha uma 'plataforma' para preencher o vão. Eles fizeram isso, mas ainda acho que não é suficiente", conta Matheus, citando os borrachões adotados pela CPTM para diminuir a distância.

Quem também já presenciou um acidente foi a aposentada Ivete da Silva, 65. Ela conta que viu uma pessoa cair na estação Brás, em 2018.

"Quando o trem chegou, começou aquele empurra e eu ouvi um grito. Era uma mulher que tinha caído no vão. Logo tiraram ela, mas foi um baita susto", conta. Ivete mora em Calmon Viana, em Poá, e atualmente utiliza o trem para visitar os familiares em Suzano.

A aposentada Ivete da Silva, 65, presenciou uma mulher cair no vão da plataforma
Ivete da Silva, 65, diz ter presenciado mulher cair no vão de plataforma - Renan Omura/Agência Mural

A CPTM afirma que o tamanho dos vãos ocorre por conta "do compartilhamento das vias com os trens de carga, que são mais largos que as composições de passageiros".

Em 2017, a empresa afirmou que esse transporte ocorria pela "inexistência de uma via para o transporte ferroviário de cargas, que hoje passa por dentro da cidade de São Paulo, e que a solução seria a implantação de um "Ferroanel", projeto que nunca saiu do papel e que tiraria da cidade esse tipo de transporte.

Segundo a CPTM, em nota enviada à reportagem, os borrachões citados por Matheus foram instalados nas estações de maior movimento (Brás, Luz, Tatuapé, Palmeiras-Barra Funda, Santo André e São Miguel Paulista).

"A companhia está fazendo um levantamento para definir novas estações que também irão receber o equipamento de segurança. Assim que o estudo for concluído, o processo licitatório para a implantação será iniciado", informa a nota.

A companhia afirma ainda que entre as medidas usadas para evitar acidentes estão as campanhas de orientação, para que os usuários esperem os trens atrás da faixa amarela.

Borrachão instalado na estação Brás, no centro de São Paulo, foi criado para reduzir acidentes no vão
Borrachão instalado na estação Brás, no centro de São Paulo, foi criado para reduzir acidentes no vão - Paulo Talarico/Agência Mural

"Em casos pontuais de aumento de demanda, a companhia faz o controle de fluxo na catraca, para evitar acúmulo de passageiros nas plataformas. As equipes de estações e segurança são treinadas para auxiliar o embarque e desembarque e prestar qualquer ajuda aos passageiros."

Questionada a respeito das causas dessas ocorrências e sobre o estado de saúde da passageira que perdeu a perna, a CPTM não respondeu.

Enquanto a linha coral concentrou um quarto dessas ocorrências no ano passado, as linhas 9-esmeralda, 10-turquesa e 13-Jade viram os números diminuírem em relação a 2020. No caso da linha jade, que se conecta ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, foram apenas sete ocorrências em 2021.

A única linha que viu um aumento expressivo dos casos nos últimos dois anos foi a 8-diamante, que liga a estação Júlio Prestes, no centro paulistano, a Itapevi, na região metropolitana. Foram 26 quedas em 2020 e 54 em 2021. Desde o começo deste ano, esta linha e a 9-esmeralda passaram a ser administradas pela empresa ViaMobilidade.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto identificou incorretamente a linha 11-coral da CPTM.

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