Descrição de chapéu Obituário Anis José Leão (1931 - 2022)

Mortes: Extremamente culto, tinha políticos na sala de espera

Anis José Leão, 91, fundou curso na UFMG e dedicou 40 anos a tribunal eleitoral

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Rio de Janeiro

Anis José Leão era dono de uma curiosidade infinita. Sabia das bactérias do intestino, das teorias filosóficas, da engenharia de trânsito e, mais recentemente, se debruçava sobre as funções do Espírito Santo, que o guiaria até o fim.

"Não vamos desperdiçar a inteligência desse menino em balcão da loja, não", percebeu cedo a mãe libanesa, que veio se casar com o pai, fugidos da pobreza natal. Era o penúltimo de oito irmãos na pacata Itaúna, interior de MG.

Ali também começou a vida como cronista de rádio e jornal, passando a professor de tudo —física, química, ciências naturais— em colégios de Belo Horizonte. Chegou a cursar medicina, mas não gostou e foi se encontrar no direito.

Idoso abraça cachorrinha branca e cinza
Anis José Leão (1931-2022) - Arquivo pessoal

Trabalhou paralelamente por 40 anos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e no Tribunal Regional Eleitoral mineiro (TRE). "Então falava que trabalhou por 80 anos", brinca a filha Taís Lobato Leão, 60, que seguiu seus passos na profissão.

Na primeira instituição, foi um dos fundadores do curso de comunicação social, onde lecionou legislação e ética por décadas. Na segunda, começou em cargo pequeno e subiu até "diretor de divisão", uma espécie de guru do direito eleitoral.

Tinha em sua sala de espera políticos que vinham se consultar, de prefeitos a governadores, e foi convidado para integrar a "comissão dos 50 notáveis" do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), voando a Brasília para propor nova reforma eleitoral.

Apesar de tudo, conservou sempre simplicidade e generosidade, sem alarde. Morria de amores por Nina, uma shih tzu com quem passeava todo dia pelo bairro, onde já era conhecido. Era dizimista de duas paróquias e conseguiu mudar uma rua para mão única ao apresentar estudo detalhado às autoridades.

Leu muito, o tempo todo e a vida inteira, por isso não era homem de gostos populares, dispensando televisão, futebol e conversa fiada. Essa curiosidade e a fé em Deus o ajudaram a atravessar uma depressão crônica e um tumor que o tornou cadeirante há alguns anos.

Mais de 5.000 exemplares se acumularam por todos os cômodos da casa onde viveu com a amada Clélia até ela morrer, em 2015. Quase caiu para trás quando, aos 21 anos, a viu pela primeira vez lindíssima, após enviar uma carta ao "correio sentimental" do jornal.

Com ela deixa três filhas, duas netas e três bisnetos, além de dezenas de livros, um blog e 15 textos inacabados em caderninhos, para as pessoas mais importantes de sua vida. Internado no dia 25, Anis não resistiu ao tratamento de complicações de uma infecção urinária.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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