Descrição de chapéu Obituário Dinorah Poletto Porto (1937 - 2022)

Mortes: Aos 50 anos, mudou completamente o rumo da vida

Dinorah Poletto Porto foi uma mulher livre e escolheu como queria viver desde a juventude

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Não há jeito certo de se viver. Dinorah Poletto Porto certamente viveu à sua própria maneira e em seus termos. Filha mais nova de seis irmãos, ela tinha paixão por estudar. Formou-se em biologia e conciliou a sala de aula com a produção de livros de biologia para o ginásio.

Dinorah conviveu com cientistas por toda a vida e acreditou profundamente na ciência até o fim da vida.

Até os 30 anos, ela professou sua fé por meio da Igreja Adventista do Sétimo Dia. As dúvidas que haviam a acompanhado até então deram lugar à certeza: tornou-se ateia.

Dinorah Poletto Porto (1937 - 2022)
Dinorah Poletto Porto (1937 - 2022) - Arquivo pessoal

"Três dias antes de morrer, antes de ser entubada, ela me disse ‘e se existir alguma coisa depois [da morte], afinal?’. Eu respondi dizendo que, caso houvesse algo, ela voltasse para me avisar", diz o filho Edson Poletto Porto, 51.

Aos 50 anos, Dinorah mudou radicalmente o rumo de sua vida profissional e pessoal. Estudou psicologia e passou a trabalhar como terapeuta, deixando a sala de aula e os livros didáticos para trás.

Ela atendeu até os 80 anos em consultório próprio, intercalando o trabalho com um ou dois meses por ano ao lado do marido em Arraial d'Ajuda, local onde ele manteve uma pousada por cerca de 25 anos e onde viveu durante pelo menos quatro meses por ano.

A pousada do marido é um dos frutos da mudança de vida que o casal teve. Ao perceber que havia se conformado com uma vida de mãe e esposa, Dinorah decidiu, nas palavras do filho, "adolescer".

O casamento, que passava por uma crise, ganhou novos ares com as viagens recorrentes do casal à Arraial d’Ajuda, na Bahia, onde "viveram sua própria contracultura tardia".

O casal, já cinquentenário, decidiu experimentar drogas e explorar o amor livre. "Isso os reaproximou. Foram muito unidos até o fim da vida". O marido de Dinorah morreu em dezembro de 2018.

Ela morreu no último dia 13 de abril, aos 84 anos, vítima da Covid-19.

"Eu passei 11 anos morando no Brasil para ficar perto deles. Me mudei para a Austrália depois da morte do meu pai. Minha mãe chegou a passar um tempo comigo lá e voltou para o Brasil duas semanas antes de a pandemia ser declarada", diz Edson.

Em quarentena por dois anos, Dinorah usou o tempo para escrever seu livro de memórias "Yá - O meu amor me chamou" (Editora Clube dos Autores), em que narra sua vida antes e depois das aventuras da sua segunda adolescência.

"A minha mãe foi muito feminista na sua forma de viver. Ela não dizia isso, mas vivia. Nunca quis depender de ninguém. Levou uma vida de igualdade com o meu pai. Na verdade, ela quem sustentou o meu pai por um ano para que ele estudasse para entrar na USP. Ela disse a ele que se quisesse casar com ela, teria que fazer faculdade", conta o filho.

A bióloga, psicóloga e escritora morreu no último dia 13, aos 84 anos, vítima de Covid-19. Ela deixa dois filhos e três netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.