Descrição de chapéu cracolândia drogas

Dispersão atrapalha abordagem de usuários na cracolândia, diz documento

Prefeitura e governo estadual dizem que número de atendimentos aumentou desde operação policial na região

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São Paulo

A organização social responsável pela abordagem de usuários de crack na região central de São Paulo afirmou em documento que a dispersão de dependentes químicos pela região central de São Paulo tornou mais difícil o trabalho das equipes de assistência social na cracolândia.

A informação consta em documento da Associação Comunitária São Mateus, contratada pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e responsável pelo Seas (Serviço Especializado de Abordagem Social) na região da praça Princesa Isabel, alvo de operação policial que expulsou usuários e prendeu traficantes no último dia 11.

Procuradas pela Folha, tanto a gestão municipal quanto a estadual defenderam a operação policial e afirmaram que o número de atendimentos aumentou desde que ela foi realizada.

O relatório da organização social foi enviado à administração municipal no dia da operação e detalhou o trabalho de abordagem aos usuários após o esvaziamento da praça. No fim, os técnicos ressaltaram que "a ação dificulta o acesso a essa população elevando sua migração a outros territórios".

Assistente social (à esq., de colete azul e verde) aborda usuários de drogas na rua Helvetia, onde está a cracolândia
Assistente social (à esq., de colete azul e verde) aborda usuários de drogas na rua Helvetia, onde está a cracolândia - Danilo Verpa/Folhapress

O serviço de assistência social é terceirizado na cidade de São Paulo. A Smads (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social) contrata as organizações sociais e fiscaliza o trabalho, mas não tem ingerência sobre o serviço prestado.

Mesmo diagnóstico foi apresentado ao Ministério Público por técnicos da Associação Comunitária São Mateus nesta segunda-feira (23). A convocação faz parte do inquérito aberto por quatro promotores para investigar a ação policial na praça.

"Eles falaram que não tem material humano suficiente para procurar os usuários pelas ruas do centro", diz o promotor Arthur Pinto Filho, um dos responsáveis pelo inquérito.

O promotor ressaltou a alta rotatividade dos funcionários que fazem as abordagens devido ao baixo salário diante de um trabalho desgastante. Segundo Pinto Filho, o contrato com a prefeitura paga em média R$ 1.800 aos agentes sem exigência de especialização, apenas ensino médio completo. São 42 funcionários para abordar até mil pessoas no fluxo —como como é chamada a concentração de usuários de drogas— diariamente em turnos das 8h às 22h. "Fica difícil estabelecer o vínculo dessa forma", diz o promotor.

A dificuldade de atendimento como consequência da dispersão de usuários vai de encontro ao que tem sido dito pela Polícia Civil e pelo secretário-executivo de Projetos Estratégicos da prefeitura, Alexis Vargas, coordenador do programa municipal contra o crack, o Redenção.

Segundo ele, é mais fácil convencer os usuários a procurar tratamento com eles dispersos do que quando estão concentrados em um ponto.

Uma tenda emergencial com agentes de saúde e assistentes sociais está montada na rua Helvetia desde a última terça-feira (17) para facilitar o acesso de usuários em busca de atendimento. A reportagem pediu o balanço do número de pessoas que procuraram a tenda na primeira semana de funcionamento, mas a prefeitura não forneceu os dados.

A Folha requisitou nesta segunda uma entrevista exclusiva com o governador de São Paulo e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), para comentar a situação atual da cracolândia. A assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes informou que não havia espaço na agenda e orientou a reportagem a buscar a SSP (Secretaria de Segurança Pública).

Trecho de documento da Associação Comunitária São Mateus sobre abordagens na cracolândia após ações policiais
Trecho de documento da Associação Comunitária São Mateus sobre abordagens na cracolândia após ações policiais - Reprodução

Em nota, a pasta afirmou que as operações policiais na região são integradas aos órgãos municipais e estaduais que prestam serviços e atendimento de saúde e assistência social. Segundo a secretaria, 62 pessoas foram presas ou apreendidas e 10,2 quilos de drogas foram encontrados na região entre janeiro e março deste ano.

Dados da Secretaria Estadual de Saúde apontam que houve aumento de 23% na busca de tratamento por dependentes químicos na região central após a ação policial na praça Princesa Isabel no último dia 11.

A gestão Nunes reiterou que a dispersão dos usuários como consequência das ações policiais resultou no aumento de usuários que procuraram atendimento do programa Redenção. Entre janeiro e abril, a secretaria-executiva de Projetos Estratégicos informou que aumentou de 27 para 133 o número de pessoas encaminhadas aos equipamentos especializados.

A Smads afirmou que as abordagens são feitas de maneira planejada considerando a nova situação da cracolândia, e que 35% mais pessoas foram abordadas entre janeiro e abril deste ano. "Essa ampliação dos atendimentos e tratamentos está diretamente vinculada à redução e dispersão dos usuários, que antes encontravam-se concentrados na Alameda Cleveland", informou a secretaria.

Vizinhos da rua Helvetia, onde desde quinta (19) estão concentrados usuários e traficantes, reclamam de conviver com a feira de drogas a céu aberto. Vídeo gravado pelos moradores mostra traficantes oferecendo maconha e cocaína. "Olha o pó, olha a maconha", gritam.

A proximidade do local também tem contribuído para o aumento de casos de furtos e roubos na vizinhança, segundo os moradores.

Uma manifestação organizada no último sábado (21) foi até a sede da prefeitura, no Viaduto do Chá, para pedir protestar contra a situação atual e pedir uma solução para a questão.

O quarteirão da Helvetia entre a avenida São João e a alameda Barão de Campinas se transformou no novo endereço da cracolândia após ação policial que tirou as tendas montadas na rua Doutor Frederico Steidel, do outro lado da avenida.

A rua, até então, pacata foi ocupada por centenas de usuários após a dispersão da praça Princesa Isabel. Antes de se estabelecerem na via, os usuários migraram por diversos pontos do centro, mas eram impedidos de ficar pela GCM (Guarda Civil Metropolitana).

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