Empresa de ônibus ligada ao PCC tem contrato com Prefeitura de SP, diz polícia

Companhia é responsável por 13 linhas na zona leste, a um custo de R$ 600 mi anuais; gestão municipal afirma acompanhar a investigação

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São Paulo

A Polícia Civil afirma ter descoberto uma ligação entre líderes da facção criminosa PCC e uma empresa de ônibus que tem contrato de cerca de R$ 600 milhões anuais com a Prefeitura de São Paulo. A investigação apontou ainda um suposto esquema que usa loterias para lavar o dinheiro do grupo.

A empresa que supostamente tem como donos integrantes da facção é a UPBus Qualidade em Transporte. Ela tem um contrato de concessão de 15 anos com o município e é responsável por operar 13 linhas na zona leste da capital paulista. Ainda de acordo com os policiais, a companhia tem um patrimônio estimado em R$ 20 milhões e possui uma frota com 200 veículos.

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Curiosos acompanham trabalho da polícia em praça da zona leste da capital onde cabeça foi encontrada; homicídio estaria ligado à morte de chefe do PCC, dono de empresa de ônibus - Reprodução redes sociais

Procurada, a prefeitura informou que "recebeu ofício da Polícia Civil informando que a investigação não afeta o resultado da licitação de concessão do serviço de transporte público". "A SPTrans seguirá acompanhando o caso e irá colaborar com a polícia em tudo que for solicitado", diz trecho da nota.

A Folha não conseguiu contato com as pessoas apontadas como suspeitas pela polícia ou com a empresa investigada.

Na semana passada, a Polícia Civil realizou uma operação para cumprir mandados de buscas e apreensão em endereços ligados à empresa. Ninguém foi preso na ação.

Segundo o delegado do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) Fernando Santiago, responsável pela investigação, foram identificados 18 criminosos da facção criminosa com participação na empresa. "Várias lideranças do PCC usavam a empresa para lavar dinheiro. Ao todo são dezoito, mas outros são de hierarquia menor. São seis lideranças", afirmou ele.

Um desses chefes era Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, assassinado no final de 2021 no Tatuapé, zona leste paulistana, junto com o motorista Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue. Outro sócio da empresa de ônibus, Cláudio Marcos de Almeida, o Django, foi morto no início de 2022.

Para a polícia, as mortes não têm ligação com a empresa de transporte e aconteceram por causa de uma dívida entre Fausta e outro criminoso.

Outro chefe do PCC ligado à UPBus seria Silvio Luiz Ferreira, 44, o Cebola, um dos principais integrantes da facção ainda em liberdade. Ele seria dono de 56 ônibus da empresa, segundo informações de Josmar Jozino, colunista do UOL especializado em crime organizado. A polícia disse à Folha não ter esses dados.

A investigação, segundo a polícia, começou em março de 2021, quando o Denarc começou a investigar se Fausta estava usando um documento falso, um RG com o nome Eduardo Camargo de Oliveira.

Segundo o delegado, ao rastrear o documento falso, os policiais chegaram até a empresa de ônibus. Ao analisar os registros oficiais da UPBus, eles detectaram que parte dos acionistas eram ou integrantes do PCC ou parentes destes.

De acordo com a polícia, Fausta registrou sua participação na companhia em nome de seu pai, da irmã e de uma prima dele, enquanto Almeida usou seu próprio nome. Ainda segundo os agentes, as cotas de Ferreira estão no nome da mulher.

A investigação indicou ainda que outro importante integrante do PCC ligado à empresa é Décio Gouveia Luiz, o Décio Português. Apontado pela polícia como parceiro de Marco Camacho, o Marcola (principal líder da facção), ele tinha cotas registradas no nome da mulher.

O chefe do PCC, Marco Camacho, o Marcola, durante transferência para unidade de saúde - Sergio Lima/AFP

O delegado Santiago afirma que a situação da empresa mudou no ano passado, após Fausta ganhar R$ 40 milhões na Mega-Sena. Com isso, o capital da UPBus teria passado de R$ 1 milhão para R$ 20 milhões e o número de acionistas pulado de 3 para cerca de 60.

Ainda de acordo com a polícia, Fausta ganhou uma vez na Mega-Sena, mas seu contador e a mulher já venceram 55 vezes na loteria, em diversas modalidades do concurso. Somados, esses prêmios renderam cerca de R$ 38 milhões.

Para a polícia, o grupo montou um esquema para lavar dinheiro com as apostas e usava um software com combinações matemáticas para aumentar as chances de acerto.

"A gente acredita que o contador dele tenha montado esquema de lavagem de dinheiro com prêmio de loteria federal, mas sem fraudar a aposta", afirma o policial.

"Eles chegam a jogar R$ 450 mil para ganhar R$ 420 mil. Ele tem prejuízo, mas para eles é maravilhoso porque tem origem lícita. O dinheiro que ele tem é muito maior que o prêmio da loteria, mas, a partir daí, ele pode ostentar porque tem origem", disse.

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